quarta-feira, 11 de abril de 2007

A Luta da Humanidade contra o neocolonialismo- Niolson Araujo de Sousa

A luta da Humanidade contra o neocolonialismo (I)
"As lutas que hoje se travam em todos os rincões do planeta mostram claramente uma indignação crescente em relação ao caminho de devastação que a oligarquia financeira dos países centrais, encabeçada pela dos EUA, vem impondo ao mundo", afirma o economista Nilson Araújo de Souza, presidente do Instituto do Trabalho Dante Pellacani, neste artigo, que faz parte de uma análise mais ampla sobre a crise global. Apontando o colapso da política neocolonial, Nilson demonstra que através de "manifestações, movimentos grevistas, disputas eleitorais e movimentos armados, os povos abrem um novo caminho, na busca de um mundo melhor e humano"
Nilson Araújo de Souza
As lutas que hoje se travam em todos os rincões do planeta mostram claramente uma indignação crescente em relação ao caminho de devastação que a oligarquia financeira dos países centrais, encabeçada pela dos EUA, vem impondo ao mundo. Abrem, ao mesmo tempo, as perspectivas de deflagrar um novo caminho, na busca da construção de um mundo melhor e humano.
Manifestações, movimentos grevistas, disputas eleitorais, movimentos armados são as várias formas de lutas que, de acordo com as circunstâncias, têm sido travadas em todos os continentes nestes últimos tempos.
Vêm ocorrendo avanços importantes em todo o continente americano, do Canadá à Argentina. No Canadá, depois de importantes mobilizações em protesto contra a degradação econômica e social imposta pelo NAFTA, os conservadores no poder foram esmagados nas últimas eleições, ficando em quarto lugar, vencendo os liberais de Jean Crhrétien, que se tornou primeiro-ministro. Uma de suas primeiras iniciativas foi a melhoria das relações econômicas e diplomáticas com Cuba, furando o bloqueio imposto pelos EUA.
Nos próprios EUA, ocorreram progressos importantes. Apesar da maior campanha difamatória movida contra um homem público de que se tem notícia, Bill Clinton foi eleito presidente em 1992 e reeleito em 1996, por combater o desemprego e a política de quebra dos direitos trabalhistas que, através do "Contrato pela América", a oligarquia bélico-financeira estava pondo em prática por intermédio do republicano Bush. Nesse mesmo clima, em outubro de 1995, muda a direção conservadora e pró-imperialista da central sindical norte-americana, a ALF-CIO, e assumem novos dirigentes comprometidos em resgatar um sindicalismo mais combativo, a começar pelo enfrentamento do NAFTA. Ocorre, também, em Washington, a famosa "Marcha de Um Milhão de Homens", organizada pelo movimento negro contra a discriminação e o corte dos programas sociais. Importantes mobilizações também inviabilizaram a "proposta 187", que aumentava a discriminação contra os imigrantes de origem latino-americana. Em meados de 1998, uma greve contra demissões se alastrou por todas as fábricas da GM no país, paralisando também outras empresas que lhe fornecem insumos, peças e equipamentos: 122.440 trabalhadores e 24 das 29 fábricas da GM na América do Norte chegaram a paralisar.
No México, um dos países que mais teve sua economia devastada pelos programas neoliberais, importantes lutas têm sido travadas no período recente. Em 1º de janeiro de 1994, dia em que se iniciava a implantação do NAFTA, ocorreu a rebelião zapatista. Daí em diante, sucedem-se grandes manifestações contra o desemprego e a política do FMI, como os 100 mil no 1º de Maio de 1996 e a manifestação "Somos todos Marcos", que obrigaram o governo a negociar com os zapatistas e impediram um banho de sangue em Chiapas. Em 1997, o oposicionista Cuauhtémoc Cardenas, do Partido da Revolução Democrática, vence as eleições para a capital do país.
O panorama na América Central também começa a mudar. Na Guatemala e em El Salvador, há décadas em guerra civil, as oligarquias locais, apoiadas pelos EUA, foram forçadas a negociar com a guerrilha um acordo que permite um processo de avanço democrático, em que as frentes guerrilheiras passaram a operar como partidos políticos. No caso de El Salvador, a FMLN, que liderava a resistência armada, ganhou as últimas eleições na capital. No Panamá, depois que os marines norte-americanos seqüestraram o comandante de suas Forças Armadas e principal líder político do país na época, o General Noriega, um candidato apoiado por seu partido, o PRD do líder nacionalista Omar Torrijos, ganhou as eleições em abril de 1994, derrotando o candidato apoiado pelo governo imposto pela ocupação norte-americana. Na Nicarágua, o povo, liderado pela Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), tem realizado uma tenaz resistência às tentativas de desmonte das conquistas da revolução de 1979, e tem conseguido algumas vitórias importantes, como a preservação do exército sandinista e das cooperativas, expressão maior da reforma agrária realizada pela FSLN.
Cuba resiste, de maneira firme e determinada como sempre, às pressões imperialistas. Agravando o bloqueio econômico imposto pelos EUA, a derrubada do socialismo na URSS e demais países do leste europeu foi um importante golpe para a economia cubana, na medida que sofreu uma violenta queda nas suas exportações, particularmente de açúcar, além de ter prejudicado seu suprimento de petróleo e de certos produtos industriais que ainda não produzia. Mas a produção cubana, que foi seriamente afetada no começo dos anos noventa, começou, a partir de 1993, a apresentar sinais de melhora e a retomar um ritmo de crescimento mais firme. Para isso, tem conseguido romper, em algumas áreas, o bloqueio norte-americano. É o caso do Canadá e da Europa. Os governos europeus rebelaram-se contra a decisão norte-americana de intensificar esse infame bloqueio contra Cuba e terminaram por impor aos EUA a não aplicação aos países da Europa das cláusulas mais draconianas da "lei" Helms-Burton. A visita do papa ao país, ao condenar o bloqueio, serviu para aumentar o isolamento dessa política. Esse isolamento aumentou mais ainda com o rechaço, pela Comissão de Direitos Humanos da ONU, em 21 de abril de 1998, do projeto de resolução patrocinado pelos EUA que visava condenar Cuba por supostas violações dos direitos humanos.
Em vários países da América do Sul, cresce o combate contra as políticas de devastação nacional. No Equador, os neoliberais perderam as eleições para Bucaram, que fez campanha contra essa política. Como, em seguida, traiu os eleitores, convocando o ex-ministro argentino Domingo Cavallo para pilotar nova investida neoliberal, manifestações populares levaram ao seu impeachment. Na Venezuela, está ocorrendo fenômeno semelhante. Achaque neoliberal conduzido por Carlos Andrés Pérez, que já havia detonado o "Caracazo"- revolta popular contra o aumento de preços -, provocou dois levantes cívico-militares em 1992, levando ao impeachment do presidente. Para sucedê-lo, ganhou as eleições, numa frente ampla contra essa política entreguista, o veterano Rafael Caldera. Como este terminou por adotar esse mesmo caminho, cresce a indignação popular no país, levando a que o favorito para as próximas eleições, em dezembro de 1998, seja o líder dos levantes, o coronel Hugo Chaves, apoiado pelos nacionalistas e comunistas.
Na Bolívia, o candidato do entreguista Lozada, responsável, primeiro como ministro da Fazenda e depois como Presidente, pela política de devastação do país, foi derrotado nas urnas pelo general Hugo Banzer. Não foi por mero acaso que um ex-ditador, que serviu anteriormente aos interesses norte-americanos, agora serve de instrumento do povo para protestar contra a política imperialista para o país. É sintoma da gravidade da situação em que a política neocolonial meteu o país. Greve geral realizada no primeiro semestre de 1998 contra a continuidade da política entreguista sacudiu o país inteiro.
Nas eleições paraguaias de maio de 1998, criou-se uma situação ímpar: não houve na disputa um só candidato para defender as posições do presidente neoliberal Juan Carlos Wasmosy. O principal candidato oposicionista era o general nacionalista Lino Oviedo, pertencente ao mesmo partido do presidente, o Partido Colorado, enquanto o outro candidato, Domingos Laíno, também encabeçava uma frente de oposição ao governo. O próprio partido de Wasmosy retirou apoio ao seu programa entreguista. Ensaios nesse sentido vêm sendo feitos pelo PRI do México e o Partido Peronista da Argentina.
Acuado, o presidente montou um tribunal de exceção que, além de mandar prender Oviedo, cassou sua candidatura. Mas o tiro saiu pela culatra. O vice de Oviedo na chapa, Raúl Cubas, assumiu seu lugar e fez da campanha um plebiscito com o slogan "Raúl Cubas no governo é Lino Oviedo no poder". A espetacular vitória de Cubas (sua chapa ganhou em todos os níveis), além da ausência de um candidato governista nas eleições, revelou o grau de desgaste a que levou o desastre econômico e social provocado pela política subserviente adotada no país. A primeira medida de Cubas, ao assumir o poder, foi revogar a odiosa condenação de Oviedo e libertá-lo.
No Uruguai, plebiscito realizado há dois anos decidiu contra o prosseguimento das privatizações. A Frente Ampla, que une a esquerda e os nacionalistas, já governa a capital (onde vive metade da população do país) e desponta com grandes chances para as próximas eleições presidenciais.
No Chile, uma frente integrada pela Democracia Cristã e o Partido Socialista governa o país desde a queda da ditadura de Pinochet. Esse país havia sido o pioneiro na adoção de políticas neoliberais no continente, que agiram como um verdadeiro tufão que devastou sua economia. Em 1989, o consumo per capita ainda era menor do que o de 20 anos antes. A indústria foi dizimada: fecharam-se as portas das doze montadoras de carros e de todas as fábricas de eletrodomésticos, além de setores inteiros da economia. O desemprego chegou a atingir 30% da força de trabalho e os que estavam abaixo do limite de pobreza chegaram a representar a metade da população. A economia chilena retornara ao modelo primário-exportador, concentrando-se na produção e exportação de cobre, pescado (salmão), frutas e madeiras.
Ao chegar ao governo, a frente de "centro-esquerda" ensaiou uma mudança dessa política econômica, retomando os investimentos públicos, com base na exportação da indústria do cobre, que permanecera em mãos estatais. E foi isso que permitiu um certo crescimento da economia. Mas a manutenção do essencial da política neoliberal está levando ao esgotamento desse crescimento e a um crescente desgaste do governo. A queda do preço do cobre, forçada pelos EUA, se juntou à queda das exportações para a Ásia (que vinha sendo um dos principais mercados do país) para deteriorar as contas externas chilenas: o déficit comercial ressurgiu em 1997 e está se agravando em 1998, havendo pulado de US$ 1 bilhão para uma previsão de US$ 3 bilhões. O déficit em conta-corrente, que foi de 5% do PIB em 1997, ameaça chegar aos fatídicos 7% em 1998. E assim começa a malograr o tão decantado "milagre chileno". O episódio da aprovação de Pinochet como senador vitalício serviu de estopim e está levando o povo a grandes manifestações de rua. Desponta como principal candidato presidencial para as próximas eleições um nome do Partido Socialista, o que representa uma virada mais à esquerda em relação à frente que governa o país.
A imposição do modelo neoliberal no Peru exigiu a implantação de uma ditadura por parte de Fujimori, repetindo o que já ocorrera no Chile com Pinochet. Mas, depois da tomada da embaixada pelo MRTA, tem havido um crescente isolamento de Fujimori. Manifestações populares têm ocorrido com freqüência; em 1997, houve greve na construção civil, com fortes enfrentamentos em Lima; o ditador vem enfrentando grandes dificuldades para garantir sua terceira "eleição". Importantes manifestações populares têm se realizado contra esse seu intento.
O país da América do Sul em que o governo mais se agachou diante da pressão imperialista dos EUA foi a Argentina. Encabeçado por um verdadeiro mentecapto, Carlos Menem, que traiu suas origens peronistas, tem-se adotado no país um programa que só não acabou com a indústria local porque esta encontrou uma válvula de escape no mercado brasileiro, favorecida que foi pelos acordos do Mercosul. A greve geral de 1995, o "apagón" de 1996, as duas greves gerais de 1997 e as explosões de revolta nas províncias contra o desemprego e o atraso de salários precederam a importante derrota eleitoral que, nas eleições legislativas de 1997, a frente unida das oposições impôs ao governo servil de Menem. Sob essa pressão, o próprio Menem começou a realizar algumas mudanças em sua política, particularmente na questão dos direitos trabalhistas. Isolado na opinião pública, teve que renunciar às pretensões descabidas de um terceiro mandato.
No Brasil, as políticas neoliberais foram inauguradas em 1990 pelo famigerado presidente Collor, que deflagrou a redução das barreiras protecionistas, a entrega das empresas estatais e o arrocho salarial. Não foi, certamente, a compra de um carro ou a construção de um jardim em sua mansão brasiliense que levou a seu impeachment. O povo foi às ruas, encabeçado pelos estudantes "carapintadas", porque se sentiu traído por um presidente que prometera ajudar os "descamisados" e "pés-descalços", mas os estava massacrando com o desemprego e o arrocho salarial. O clima criado pelas mobilizações populares terminou levando ao engajamento de setores das chamadas elites políticas e empresariais, incluindo setores da mídia, insatisfeitos com a forma aloprada com que o governo Collor se relacionava com eles.
O programa entreguista de Collor não apenas prossegue, mas se aprofunda na administração de Fernando Henrique Cardoso. Senador medíocre, que havia decidido não se recandidatar por absoluta impossibilidade eleitoral, consegue ser nomeado ministro da Fazenda de Itamar Franco, que, como vice, havia assumido a presidência com a derrubada de Collor. Como ministro, acelera a implementação do "Consenso de Washington", subordinando nossa moeda ao dólar, além de supervalorizá-la artificialmente, e acelerando a derrubada das barreiras protecionistas, tornando os produtos estrangeiros mais baratos no país. Foi a queda da inflação, assim obtida, que garantiu sua eleição à presidência da República. A radicalização dessa política, no entanto, tem levado ao fechamento da indústria nacional, à maior desnacionalização da nossa história, ao desemprego em massa, ao aumento da vulnerabilidade externa da nossa economia, ao sucateamento dos serviços públicos, à fome e à miséria.
A resistência a essa política tem crescido. Nas eleições municipais de 1996, o partido do presidente, o PSDB, não elegeu prefeito em qualquer capital importante. Os trabalhadores rurais sem terra têm ocupado terras em todas as partes do país e realizado importantes mobilizações de massa, forçando o avanço da Reforma Agrária. O processo de votação pelo congresso das medidas neoliberais impostas pelo governo tem enfrentado grande resistência. E algumas vitórias têm sido conquistadas pelo povo, particularmente na votação da emenda constitucional que pretende privatizar a Previdência e inviabilizar a aposentadoria de milhões de trabalhadores. Os professores universitários, há quatro anos sem reajuste salarial, realizaram uma combativa greve geral nacional no primeiro semestre de 1998, que durou mais de três meses.
O desgaste do governo FHC é crescente. No primeiro semestre de 1998, chegou a níveis críticos. Por isso, usou de todos os meios para impedir que se lançasse uma candidatura que unisse a oposição, sob a liderança do PMDB. Conseguiu impedir uma candidatura própria do PMDB, mas não logrou o apoio do partido a sua candidatura. O agravamento da crise mundial a partir de agosto expôs, na superfície, o grau de vulnerabilidade a que a política de FHC conduziu o país. Com as finanças do país literalmente quebradas, os especuladores começaram a debandar: entre agosto e a primeira semana de setembro, se evaporaram cerca de US$ 19 bilhões das nossas reservas cambiais. E o governo mais uma vez responde com elevação dos juros e corte nos gastos públicos, agravando a já forte tendência recessiva e de aumento do desemprego. Nesse quadro, um candidato que expresse os interesses nacionais terá todas as chances de ganhar da coalizão conservadora e entreguista encabeçada por FHC nas eleições presidenciais de outubro e novembro deste ano.
A Europa também tem experimentado importantes mudanças políticas. Na França, grandes mobilizações populares contra o arrocho de Maastricht - condição para integração na União Européia - levaram à renúncia do primeiro-ministro Juppé em maio de 1997. Destacam-se a mobilização, em janeiro de 1994, de 1 milhão de estudantes contra o decreto que visava, na prática, revogar o salário mínimo para os jovens; a greve dos transportes em abril de 1995, e também em defesa do setor público e contra as demissões; em novembro de 1995, a França foi conflagrada por uma semana de mobilização contra a tentativa de desmonte da Previdência; e em junho de 1997 Paris sediou a manifestação de 100 mil trabalhadores europeus por "uma Europa com empregos".
A direita francesa, liderada por Chirac, havia ganho as eleições do Partido Socialista de Miterrand porque se colocara contra a política de subordinação ao domínio germânico. Mas, ao manter e intensificar esse caminho, foi repudiada nas ruas pelo povo e, depois, também apeada do governo. Depois de derrubar Juppé, o povo deu vitória a uma coalizão entre socialistas e comunistas, encabeçada por Lionel Jospin, que colocou no centro da sua plataforma eleitoral a luta pela criação de empregos.
Na Itália, o arrocho imposto pelo regime de Silvio Berlusconi, apoiado pelos neofascistas, para enquadrar sua economia nos acordos de Maastricht, levou 1,5 milhão de pessoas às ruas, em outubro de 1996, em defesa do emprego e da seguridade social. Logo depois, Berlusconi seria defenestrado nas eleições, que dariam vitória à aliança formada pelo Partido Democrático de Esquerda (ex-comunista) e a Refundação Comunista, além de setores que se desprenderam da antiga Democracia Cristã, formando um governo liderado por Romano Prodi. A mobilização popular mantém a pressão para que esse governo rompa com a política direitista anterior: em junho de 1998, cerca de 300 mil pessoas realizaram em Roma uma marcha contra o desemprego.
O reinado inaugurado por Margareth Thatcher na Inglaterra em 1979, e que se colocou como tarefa primordial "derrotar os trabalhadores", também foi banido pelas urnas. Os conservadores já haviam sido surrados em maio de 1996 nas eleições municipais e, logo depois, com a oposição obtendo 71% dos votos, os trabalhistas liderados por Tony Blair apearam do poder o sucessor da "Dama de Ferro", John Major. Essa nova situação favoreceu a luta nacional dos irlandeses, levando a um acordo, no começo de 1998, que, ainda que não tenha resolvido a questão nacional irlandesa, deflagra um processo que pode levar à reunificação do povo da Irlanda num prazo relativamente curto.
A situação na Alemanha também começou a esquentar. O desemprego recorde e a tentativa do primeiro-ministro Kohl de fazer os trabalhadores pagarem pelo "ajuste do euro" (leia-se: quebra dos direitos sociais) têm levado a grandes mobilizações, como os 350 mil trabalhadores que se manifestaram nas ruas em julho de 1996, além dos 120 mil que se mobilizaram contra o corte de 20% do auxílio-doença. As derrotas sofridas nas eleições provinciais de começo de 1998 antevêem a queda do direitista Kohl nas próximas eleições no segundo semestre deste ano.
E tem sido assim por toda a Europa. Em Portugal, o neoliberal Cavaco Silva perdeu em janeiro de 1996 para o socialista Antônio Guterres, que assumiu a direção do governo. Na Bélgica, o arrocho de Maastricht levou à greve geral e à maior manifestação dos últimos anos, com 120 mil trabalhadores, contra as demissões na Renault. Na Espanha, por ter conduzido uma política neoliberal que elevou o desemprego para o patamar dos 20% da força de trabalho, o "socialista" Felipe González foi apeado do governo, depois de dez anos no poder. Por falta de uma alternativa popular imediata, foi a direita que ganhou, ironicamente com uma agremiação de nome Partido Popular. Mesmo assim, o significado do voto foi o protesto contra essa política de desmonte nacional. Esse fato levou a uma mudança da liderança do PSOE, que deve concorrer às eleições de 1998 com uma posição mais pela esquerda. Contra toda a direção do partido, afinada com Gonzalez, Borrel ganhou as mais democráticas eleições internas realizadas no PSOE e deve ser seu candidato ao governo nas próximas eleições.
A Albânia, que vinha sendo massacrada pelo truculento neoliberal Berisha, foi varrida por um levante popular armado, que garantiu as eleições e deu vitória nas urnas à frente que liderou o levante. Na Grécia, realizou-se em novembro de 1996 greve geral de 48 horas contra o "ajuste do euro".
Nem a pacata Suíça conseguiu suportar o descalabro neoliberal. A gélida temperatura do país não foi capaz de evitar que os jovens se esquentassem e, em maio de 1998, mais de 10 mil deles fizessem um verdadeiro levante, no maior protesto já visto no país, contra a política neoliberal que vem devastando sua economia. Foi a forma como Genebra recebeu os chefes de estado dos principais países do mundo que ali estiveram para as comemorações do 50º aniversário de criação do GATT (Acordo Geral de Comércio e Tarifas) e a II Conferência da Organização Mundial do Comércio. Nos muros, a inscrição: "Quando uma democracia mascara uma ditadura neoliberal, rebelião". Coincidentemente, os discursos mais aplaudidos, ou melhor ovacionados, durante a reunião da OMC foram os de Fidel Castro e Nelson Mandela, que realizaram veemente denúncia da postura arrogante dos EUA no sentido de fechar seu próprio mercado aos produtos estrangeiros, enquanto tentam abrir os demais mercados do mundo para seus produtos.
A consequência desse processo foi que, depois da "onda direitista" que ocupou a Europa até há pouco tempo, o mapa político da região experimentou uma sensível mudança: de 15 países da União Européia, apenas dois continuam nas mãos da direita, sendo que um deles, a Alemanha, poderá mudar de lado ainda neste ano.
Na Rússia, assiste-se ao desmoronamento do governo decrépito de Boris Yeltsin. No 1º de Maio de 1995, um milhão de trabalhadores se mobilizaram contra o atraso no pagamento de salários e o saque do país e do patrimônio público. A greve geral de novembro de 1996, com 15 milhões de participantes, mostrou a que nível chegara o grau de descontentamento popular. Nas últimas eleições presidenciais, em 1996, apesar de toda a pressão imperialista, da campanha difamatória da mídia e de não contar com qualquer espaço nos meios de comunicação, os comunistas obtiveram 40% dos votos, além de conquistarem o governo de 45 das 89 regiões administrativas do país.
Boris Yeltsin ganhou, mas não tem conseguido governar: no primeiro semestre de 1998, em meio ao desastre da economia, o bufão teve que mudar seu governo e encontrou grandes dificuldades para aprovar no parlamento o novo governo, liderado pelo Yeltsin´s boy Serguei Kirienko. Também foi encurralado por grandes manifestações contra o atraso de salários que voltaram a ocorrer no primeiro semestre de 1998, chegando a mobilizar mais de 15 milhões de trabalhadores. Os mineiros, em greve por todo o país, chegaram a dividi-lo em dois, ao bloquear a via Transiberiana. Foram paralisadas 80% das ferrovias do país. O parlamento abriu processo de impeachment contra Yeltsin por traição à Pátria, além de haver aprovado moção pela sua renúncia. A implementação do pacote-arrocho imposto pelo FMI, em meados de 1998, além de colocar mais lenha na fogueira, não conseguiu evitar a moratória das dívidas do governo, a suspensão da livre-conversibilidade e a desvalorização do já debilitado rublo, decretadas em agosto de 1998.
O agravamento da crise levou à queda do gabinete de Serguei Kirienko poucos meses depois de sua ascensão. Para substituí-lo, Yeltsin ainda tentou emplacar o ex-premier Viktor Tchernomirdin, que, junto com ele, havia levado a Rússia ao desastre. No entanto, o Congresso, comandado pelos comunistas do Partido Comunista da Federação Russa e outras forças patrióticas, rejeitou a indicação. Sem alternativa, o tzar decadente teve que indicar alguém que contava com a simpatia por parte dessas forças que comandam o Congresso, Ievguêni Primakov, que, à frente do Ministério das Relações Exteriores, havia tentado superar a postura servil que vinha caracterizando o governo desde a queda da URSS. A primeira medida de Primakov, ao assumir o cargo de primeiro-ministro, foi nomear para 1º vice-premier (responsável pela área econômica) e para presidente do Banco Central dois representantes do Partido Comunista da Federação Russa, respectivamente Iuri Masliukov e Viktor Geraschenko. É certo que ainda permanecem no ministério vários representantes das forças do entreguismo yeltsinista, mas, claramente, abriu-se um período de dualidade de poderes: os comunistas e demais forças patrióticas, além de hegemonizarem o parlamento, passaram a ter um peso decisivo dentro do próprio governo, particularmente em sua área econômica, enquanto os entreguistas permaneceram no núcleo central do poder, a presidência, mas um núcleo em processo de esvaziamento.
Cada vez com menos poder, dificilmente Yeltsin resistirá muito tempo. O destino de Suharto o espera.
Na segunda maior república que integrava a URSS, a Ucrânia, os comunistas derrotaram o governo direitista e tiveram sozinhos a metade dos votos nas últimas eleições parlamentares, realizadas no primeiro semestre de 1998. Sua campanha se concentrou na denúncia do arrocho imposto pelo FMI, do desmonte da estrutura produtiva e da seguridade social e do atraso de vários meses no pagamento dos salários. A Bielo-Rússia elegeu novamente um governo nacionalista, que forma com os comunistas a maioria no parlamento. Faz parte da sua plataforma o retorno de uma política de restabelecimento dos laços entre os povos soviéticos.
No leste europeu, tem havido avanços e recuos. A desestruturação de suas economias e o desmonte de suas estruturas sociais, por parte de governos conservadores, têm levado, em muitos casos, a vitórias eleitorais de partidos que o povo identifica como portadores da mudança, que, normalmente, são os antigos comunistas convertidos em social-democratas. O retorno de governos conservadores, depois de uma experiência com um governo de "esquerda", como ocorreu na Polônia e na Hungria, não significa, necessariamente, a admissão de que os conservadores têm enfrentado melhor os problemas que vivem esses países. Só significa que o povo, ao ter virado antes para o que identificava como esquerda, expressava um sentimento de mudança que a chamada esquerda não conseguiu dar conta, por ainda se encontrar esmagada pelo processo de desmonte do socialismo e pela pressão imperialista.
Na República Checa, o governo do primeiro-ministro Vaclav Klaus, que comandou o desmonte da Tchecoslováquia, caiu no outono de 1997, sob a pressão popular. O povo cobrava a apuração dos escândalos financeiros que envolveram as "privatizações", isto é, o selvagem processo de doação do patrimônio público nacional. A situação financeira do país piora cada vez mais. Teve que torrar as divisas para tentar manter o engessamento do câmbio. Sua situação é tão vulnerável que pode, a qualquer momento, sofrer uma ataque dos especuladores internacionais. Nas últimas eleições, em junho de 1998, a oposição de esquerda, liderada pelo Partido Social Democrático, derrotou o governista Partido Cívico Democrático.
É bastante conhecida a tenaz resistência do povo da Iugoslávia para impedir a política de desmembramento praticada no país pela Alemanha. O que o imperialismo alemão pretende é a "balcanização" e conseqüente germanização da região para facilitar seu acesso às fontes de matérias-primas da Rússia. Depois de anos de guerra na Bósnia, em que os nacionalistas sérvios resistiam a essa política, um acordo tripartite (sérvios, croatas, muçulmanos) suspendeu as ações bélicas, mas a situação da região ainda não está inteiramente equacionada. Até porque persiste, por parte da Alemanha, o objetivo de esquartejamento da Iugoslávia.
Os avanços na Ásia também têm sido substanciais. No Japão, que detém a principal economia da região, o agravamento da crise econômica já provocou uma forte crise política. O descontentamento popular é tamanho que o Partido Liberal-Democrata (PLD), que governa o país desde a segunda guerra, vem apresentando crescentes dificuldades de manter-se no poder. Desde 1989, quando estourou a crise na Bolsa de Tóquio, o país já teve nove primeiros-ministros. Em 1993, o PLD foi derrotado nas urnas pela primeira vez no pós-guerra e chegou-se a formar um governo sem a sua presença. De lá para cá, esse partido só conseguiu permanecer no poder porque incorporou uma série de outros partidos ao pacto governamental, abrindo espaço, inclusive, para organizações que tinham uma tradição de esquerda. E, nas últimas eleições para a Câmara Alta (Senado), realizadas em julho de 1998, o partido governista foi fragorosamente derrotado (das 126 cadeiras em disputa, só conquistou 44), levando o premier Ryutaro Hashimoto a renunciar. Pesquisas de opinião junto aos eleitores indicaram que 85% deles usaram as eleições para protestar contra a situação econômica do país. E 74% da população rejeitavam o PLD. Mais grave ainda: menos de uma semana depois da escolha do novo primeiro-ministro, Keizo Obuchi, também do PLD, pesquisa de opinião dava conta de que ele era rejeitado por 75% da população. É essa a democracia vigente no Japão: um partido repudiado por praticamente toda a população permanece governando. Mas, mesmo numa democracia de fachada como essa, fica cada vez mais difícil manter essa farsa.
Na Índia, a adesão ao neoliberalismo, em 1991, por parte do Partido do Congresso, que governava o país desde a independência, fez esse partido perder todas as eleições que ocorreram desde então. Primeiro, assumiu o governo uma frente de esquerda, sob o nome de Esquerda Unida, liderada pelos comunistas, que, no entanto, não conseguiu manter-se por muito tempo, devido, fundamentalmente, às dificuldades de composição com os nacionalistas. Nas eleições seguintes, em 1997, ganharam os nacionalistas hindus, do Partido Janata, que governam atualmente o país. A decisão de prosseguir suas pesquisas nucleares, manifestada através de algumas explosões experimentais realizadas em maio de 1998, está levando a um aumento da tensão com o imperialismo e ao fortalecimento da consciência nacional do povo indiano. Ao tentarem impor um bloqueio econômico ao país, os EUA ficaram falando sozinhos, porque não conseguiram a adesão dos demais membros do G-7. A superação dos problemas do país depende, em grande medida, da união dos comunistas e nacionalistas.
A luta da Humanidade contra o neocolonialismo (II)
Nesta segunda parte do seu artigo A luta da Humanidade contra o neocolonialismo, o economista Nilson Araújo de Souza, presidente do Instituto do Trabalho Dante Pellacani, afirma que "se esgotam as bases econômicas para manter uma situação em que a economia do mundo tem de sujeitar-se a produzir para alimentar um pequeno núcleo de parasitas, enquanto milhões morrem de fome. Nunca, no passado, o imperialismo, para sobreviver, teve de praticar uma política de devastação tão arrasadora como a atual". Segundo Nilson, "as lutas dos povos contra o processo de recolonização dos seus países anunciam o fim de um regime anti-social que já morreu e só falta ser sepultado, a fim de liberar a Humanidade da opressão a que é submetida e criar as condições para que ela conquiste sua efetiva emancipação"
NILSON ARAÚJO DE SOUZA
Na Coréia do Sul, a política entreguista do governo títere de Kim Young Sam levou o país à ruína. No período recente, as manifestações pela reunificação com a República Popular Democrática da Coréia foram as maiores de todos os tempos. Em dezembro de 1997, realizou-se uma greve geral contra a "lei das demissões facilitadas" imposta pelo FMI, que foi a maior greve geral dos últimos dez anos. Em junho de 1995, o governo havia perdido as eleições nas principais prefeituras, inclusive na capital, Seul. E, em 1997, foi fragorosamente derrotado nas urnas pelo oposicionista Kim Dae Jung, que havia amargado prisão nos cárceres da ditadura e que apresentava, como um dos principais pontos de sua plataforma política, a luta pela reunificação coreana. A mobilização popular, incluindo uma greve geral dos trabalhadores, continuou depois da posse do novo presidente a fim de se contrapor à pressão do FMI para a adoção de seu programa desnacionalizante, recessivo e gerador de desemprego.
A reunificação da Coréia é o grande sonho do povo coreano do norte, do sul e de ultramar. Antes de morrer, o líder da libertação do país do jugo nipônico, Kim Il Sung, formulou dez pontos com vistas a orientar esse processo, que propugnam, no essencial, as idéias de "um país, dois sistemas" e de independência nacional. A Coréia unida certamente converterá esse país num dos mais fortes e prósperos da Ásia. A Coréia do Norte, apesar de muito castigada pelas recentes secas e inundações, que têm devastado suas colheitas (diga-se que só 15% de seu território são cultiváveis), tem uma indústria bastante desenvolvida, que foi construída ao longo de cinco décadas de desenvolvimento independente. Sua indústria pesada é, seguramente, uma das mais avançadas da região. O país conta também com uma base educacional bastante desenvolvida e um importante desenvolvimento científico e tecnológico.
Derrubar o muro que separa as duas Coréias, construído, mantido e vigiado pelos EUA, é tarefa primordial de seu povo, mas que conta com a simpatia e apoio de todos os povos do mundo. Com a vitória de Kim Dae Jung no sul, as negociações já foram retomadas e todas as condições estão dadas para o seu sucesso. Até porque a postura do governo norte-americano, que sempre foi o principal obstáculo à reunificação, tem estado mais branda durante a administração Clinton.
A economia filipina afundou a partir de julho de 1997. Foi o resultado da política entreguista implementada pelo presidente Fidel Ramos desde o ano anterior. Eleito em 1992, chegou a apresentar posturas avançadas, como, por exemplo, ao anistiar os guerrilheiros comunistas e muçulmanos. No entanto, a partir de 1996, começou a abrir as portas do país para os produtos e capitais estrangeiros, entregando, inclusive, a indústria petrolífera e deflagrando um importacionismo desvairado na área de produtos agrícolas, que arrasou a agricultura local. Combinou-se, então, uma enorme vulnerabilidade externa com uma crise de abastecimento de gêneros alimentícios, que explodiu em 1997. Nesse clima, o presidente tentou um golpe reeleitoreiro, mas foi barrado nas ruas por uma manifestação de mais de 500 mil pessoas. Em maio de 1998, seu candidato à presidência foi massacrado nas urnas, obtendo não mais que 16% dos votos.
Um outro dos novos "tigres asiáticos", a Malásia, depois de afundar sua economia no desastre neoliberal, começou a reagir. Seu primeiro-ministro, Mahathir Mohamad, depois de desancar os "especuladores de moeda" e de criticar o FMI por impor "condições tão severas aos países da Ásia que acabam impedindo a recuperação de suas economias", adotou um programa econômico radicalmente diferente das receitas preconizadas por esse órgão. Através da centralização do câmbio, da restrição da conversibilidade da moeda local, o ringgit, do bloqueio a transformar em dólar o produto da venda de ações nas bolsas, além de outras medidas semelhantes, o governo pretende impedir que os especuladores sigam promovendo ataques especulativos ao país. Antes de mudar de orientação, o premier havia derrubado a direção do Banco Central, que, como se sabe, tem sido antro de abrigo dos representantes dos especuladores.
Nem a mais longa e violenta ditadura da face da terra, a de Suharto, que, há 32 anos, massacrou 1 milhão de pessoas e deteve na Indonésia o processo de construção de uma economia independente, que vinha sendo dirigido, desde 1949, pelo líder da independência do país, Sukarno, nem essa ditadura conseguiu sobreviver à sua recente adesão ao neoliberalismo. Como esse país, em face das políticas neoliberais que vinha adotando, também foi levado à insolvência pelo vendaval financeiro que varreu o sudeste asiático a partir do segundo semestre de 1997 (o poder de compra de sua moeda foi literalmente pulverizado), o ditador Suharto terminou submetendo o país ao programa do FMI, que impõe, entre outras coisas, a entrega de suas principais empresas ao capital estrangeiro, a redução dramática de suas tarifas de importação e o aumento dos juros e dos preços e tarifas públicas.
Os protestos contra essas medidas, que passaram a ocorrer quase que diariamente desde o início de 1998, foram, inicialmente, puxados pelos estudantes, mas se tornaram cada vez mais massivos, com o engajamento de outros setores da sociedade. O país se sublevou. E formou-se, para comandar a luta e exigir a renúncia do ditador, o Conselho do Mandato Popular, reunindo líderes estudantis; a líder oposicionista e filha do líder da independência Sukarno, Megawati; o líder muçulmano Amien Rais, da sociedade Muhammadiyah; ex-ministros, generais e brigadeiros da reserva. No final, até generais das forças armadas, o presidente do subserviente parlamento do país e o próprio partido que Suharto havia criado para sustentar a ditadura, o Golkar, pediram a renúncia do ditador. No dia 20 de maio, depois de mais um dia de intensos protestos, ele entregou os pontos e renunciou.
Desponta na região a pujança econômica da República Popular da China, que obteve em 1º de julho de 1997 uma importante vitória, com a reintegração de Hong Kong, que havia sido surrupiada pelo império inglês, durante as chamadas guerras do ópio no século passado. Essa reunificação permite que a China, que vem crescendo a um ritmo acima de 10% ao ano desde 1979, passe a ter um peso ainda maior na arena mundial. Se medido pelo poder de compra interno de sua moeda, e não pela taxa de câmbio em relação ao dólar, seu PIB já é equivalente ao do Japão. Suas reservas cambiais depois da reintegração de Hong-Kong, em torno de US$ 230 bilhões, já superam as do Japão, que eram as maiores do mundo.
Mantendo, no fundamental, em mãos do Estado a propriedade dos meios de produção, a RPC permitiu a instalação de empresas privadas em determinadas áreas previamente selecionadas, com o objetivo de gerar capacidade exportadora a fim de viabilizar a importação de máquinas, equipamentos e tecnologias mais modernas que ainda não possuía. Essas empresas pertencem, no fundamental, aos próprios chineses: 62% de todos os investimentos estrangeiros na China provêm de Hong Kong, que acaba de se reincorporar ao país (cf. MITI, Nomura Research Institute, 1994), e não se disseminam por toda a economia; ao contrário, concentram-se em Zonas Econômicas Especiais, como as de Shenzen, Shuhai, Shantou e Xiamen, que ficam próximas a Hong Kong, Formosa e Macau, que já integram ou virão a integrar a grande nação chinesa.
Evidentemente, não se trata de um "socialismo de mercado", coisa impossível de existir. Até porque o mercado, como vimos anteriormente, além de tender a desaparecer no próprio capitalismo, é incompatível com o avanço do socialismo, que exige, não o uso da anarquia mercantil, mas da consciência coletiva na sua regulação econômica. O que ocorre na China é algo semelhante ao que Lenin propôs na URSS na década de vinte: é a utilização pelo socialismo, em sua fase inicial e de forma transitória, de determinados mecanismos mercantis em áreas em que esse recurso ainda pode favorecer o desenvolvimento das forças produtivas.
Essa expansão acelerada da economia chinesa favorece a mudança do panorama político na Ásia e, certamente, também ajuda na melhoria da correlação de forças mundiais a favor da independência, do progresso e do socialismo.
As lutas travadas pelo povo árabe, em que se destaca a tenaz resistência dos iraquianos liderados por Saddam Hussein e dos palestinos vanguardeados por Yasser Arafat, produziram uma importante conquista no período recente: a constituição da Autoridade Nacional Palestina. Mesmo que ainda não signifique a constituição do Estado Palestino, é um importante passo nesse sentido. A despeito da resistência da direita israelense, representada por seu atual primeiro-ministro, tudo indica que, já em 1999, será criado o Estado Palestino. Até a primeira-dama dos EUA, Hilary Clinton, declarou-se a favor desse Estado em recente entrevista à imprensa. A recusa do governo israelense em cumprir os acordos nesse sentido está levando a grandes mobilizações dos palestinos que vivem nos territórios ocupados. Os enfrentamentos com a polícia e o exército israelenses têm sido diários durante este ano de 1998. Em maio, por ocasião do 50º aniversário da al-Nakba, dia da expulsão dos palestinos de suas terras e da criação do Estado de Israel, 1 milhão de palestinos foram às ruas da Faixa de Gaza e da Cisjordânia em defesa do Estado Palestino e da retirada israelense dos seus territórios.
Demonstração do avanço das lutas na região é o fato de que a política belicista e truculenta da direita israelense, representada atualmente por Benyamin Netanyaho, tende a se isolar cada vez mais dentro do próprio Israel. Cada vez mais, cresce entre o povo israelense o sentimento de que é melhor buscar uma convivência pacífica com o povo árabe e, em particular, com os palestinos, do que, em nome de uma suposta autodefesa, seguir servindo de instrumento do imperialismo na região. Tudo aponta para uma vitória eleitoral, nas próximas eleições, dos setores que procuram um acordo com o mundo árabe, representados pelo Partido Trabalhista.
A resistência do povo iraquiano é inédita. Em 1991, teve sua economia e sua infra-estrutura praticamente dizimadas pelos criminosos bombardeios norte-americanos. Foram jogadas bombas com potencial destrutivo maior do que os bombardeios realizados sobre a Alemanha na segunda guerra mundial. Mesmo assim, o imperialismo, depois de batido na histórica batalha de Basra, teve que admitir a derrota em seu principal intento: derrubar o governo de Saddam Hussein.
Depois disso, o Iraque vem sendo submetido a um cruel bloqueio externo, que o impede de comprar até remédios no exterior. Essa agressão imperialista, que tem vitimado milhares de crianças, tem sido repudiada por constantes e massivas manifestações populares. A última delas, ocorrida em 26 de abril deste ano, contou com a participação de 300 mil pessoas. Menos de dois anos antes, no final de 1996, Saddam Hussein era reeleito presidente com 98% dos votos. A reconstrução econômica também tem caminhado rapidamente. A infra-estrutura foi praticamente toda reconstruída, a produção industrial vem crescendo, avança a substituição de produtos importados por produção interna e o país caminha para a auto-suficiência na produção agrícola. Durante esse período especial, o governo garante uma cesta básica para todas as famílias.
Uma grande conquista dessa resistência iraquiana é a desmoralização crescente da "ordem mundial" dos EUA. Além de não haver conseguido derrubar Saddam Hussein, que era seu objetivo maior, o governo norte-americano não tem mais conseguido unir as demais potências imperialistas para novas tentativas de agressão ao Iraque. Isso permitiu que a ONU, que vinha sendo basicamente um instrumento da política imperial dos EUA, pudesse recuperar, pelo menos em parte, sua autonomia, como ocorreu com as negociações patrocinadas pelo secretário-geral da Organização, Kofi Anan, a propósito das últimas tentativas do setor belicista dos EUA no sentido de voltarem a bombardear o Iraque. Esse setor também não conseguiu apoio, entre os demais membros do G-7, para sua política de retaliação da Índia, depois que o governo desse país realizou alguns experimentos nucleares.
A Líbia de Muammar Khadhafi também resiste às agressões e ao bloqueio econômico imposto pelos EUA. Demonstração disso vem sendo a construção acelerada, apesar do bloqueio, de um rio artificial que deverá percorrer 4.200 quilômetros das escaldantes areias do deserto e está convertendo importantes áreas costeiras do país em campos férteis e verdejantes, o que permitirá não apenas a auto-suficiência alimentar do país, mas, inclusive, a exportação de grãos para outros países da região.
Além disso, o governo líbio conquistou importantes vitórias no plano internacional. Em primeiro lugar, a Corte Internacional de Haia, órgão vinculado à ONU, aprovou sua competência, que fora solicitada pela Líbia, para julgar os dois cidadãos líbios que os EUA e a Inglaterra acusam de haver explodido, em 1988, em Lockerbie, Escócia, o jumbo da Panam. Apesar das evidências de que a bomba fora colocada por agentes da CIA, os governos dos EUA e da Inglaterra insistem em acusar, e querer julgar em seus próprios tribunais, os cidadãos líbios. Como o governo líbio se recusa, justamente, a entregá-los para "julgamento" num tribunal parcial, mantêm um odioso bloqueio econômico ao país, além de haver tentado assassinar Khadhafi com um criminoso bombardeio em sua residência, que terminou vitimando uma filha sua. Em segundo lugar, muitas empresas européias estão passando por cima da "lei" D’Amato, que visa impedir que empresas estrangeiras invistam mais de US$ 30 milhões na área de energia na Líbia. Por último, revelando o isolamento dessa política arrogante do império norte-americano, Nelson Mandela esteve em recente visita ao país, e a Liga Árabe e a Organização da Unidade Africana declararam apoio à Líbia, sendo que a OUA realizou nesse país uma das suas últimas reuniões.
Certamente, o principal acontecimento na África, no período recente, foi o fim do apartheid na África do Sul. A realização, em 1993, das eleições vencidas por Nelson Mandela, líder do Congresso Nacional Africano, a aprovação da primeira constituição democrática que permitiu a expressão política da maioria negra e a passagem, em maio de 1998, do comando das Forças Armadas para as mãos dessa maioria representaram a formação do poder popular capaz de mudar o destino do país. Isso não se refletiu, ainda, nas indispensáveis transformações econômico-sociais, mas criou as condições necessárias para essas transformações. A visita recente do presidente Clinton ao país, que reconheceu o significado da luta patriótica de Mandela, foi importante demonstração do respeito que o povo sul-africano granjeou no mundo.
Os acordos obtidos com a guerrilha contra-revolucionária, que a forçaram a depor as armas, em Angola e Moçambique, também representaram um importante avanço nas lutas do povo africano. Ao mesmo tempo, a Frente Patriótica derrotou, em Ruanda, em 1995, o regime genocida apoiado pela França, que havia massacrado cerca de um milhão de oposicionistas. No Zaire, a guerrilha liderada por Laurent Kabila, que iniciara sua luta desde o início dos anos sessenta, depôs, em maio de 1997, o ditador Mobutu Sesse Seko, anunciando o renascimento da República Democrática do Congo, fundada por Patrice Lumumba, assassinado pela CIA no começo dos anos sessenta. Logo depois, em outubro de 1997, levante popular liderado por Nguesso derrubava o governo títere na irmã República Popular do Congo.
Todos esses acontecimentos pelo mundo afora revelam o esgotamento da "onda direitista", isto é, neoliberal, que, no vácuo da derrubada do socialismo na URSS e no leste europeu, havia varrido o mundo anteriormente. Com base em mobilizações populares desencadeadas em todos os continentes, chegaram ao poder forças políticas que, de alguma forma, galvanizaram a indignação e o sentimento de mudança desses povos. Isso não significa que, necessariamente, essas forças políticas fossem portadoras de um caminho novo que rompesse com o descaminho neoliberal que vinha sendo implementado em todas as partes do planeta.
Na verdade, no fundamental, elas possuem uma orientação social-democrata. Essa posição tem se caracterizado, desde o começo do século, por tentar compatibilizar a manutenção do capitalismo com a realização de algumas reformas sociais. Foram os partidos com essa orientação que, depois da segunda guerra, pressionados pelo avanço do socialismo em várias partes do mundo e pelas lutas trabalhistas, procuraram proporcionar algumas conquistas sociais aos trabalhadores europeus, constituindo o que se passou a chamar de "Estado de Bem-Estar". No entanto, a pressão imperialista recente pelo desmonte dos direitos sociais terminou envolvendo a vários desses partidos, que chegaram, inclusive, a patrocinar diretamente esse desmonte, como ocorreu na Espanha ou no norte da Europa. Também, no fundamental, eles foram ganhos pela ideologia neoliberal.
A desagregação econômica e social implementada pelas políticas neoliberais, impostas pela oligarquia financeira dos "três grandes" em disputa pelo mercado mundial, terminou levando amplas massas da população mundial a se contrapor, ainda que sem uma consciência clara de um caminho alternativo, com essa trajetória de destruição. À falta de alternativas políticas mais conseqüentes, já que forças mais progressistas perderam totalmente o rumo com a derrubada do socialismo na URSS e no leste europeu, a indignação popular acabou por se expressar politicamente na oposição mais à mão, representada por esses partidos de orientação social-democrata. Os povos vêm usando esses partidos para expressar seu protesto contra o descalabro econômico e social de seus países.
Esses partidos, por sua origem, têm algum grau de relação com os trabalhadores de seus países e podem, por conseguinte, deixar-se influenciar pelo drama que vivem as massas trabalhadoras no momento atual, que se condensa no desemprego, no arrocho salarial e na perda dos direitos sociais. Assim, mesmo que ainda mantenham a intimidação diante do neoliberalismo, e terminem por praticar políticas com essa orientação ao chegarem ao poder, têm que assumir, até por razões de sobrevivência, a defesa dos direitos trabalhistas e do emprego. Algo impossível de compatibilizar com os programas de desmonte econômico e social patrocinados pelo neoliberalismo. Até onde conviverão com essa contradição, é difícil de se prever. Mas, como a ideologia neoliberal e seus programas estão desmoronando pelo mundo inteiro, não se pode descartar a possibilidade de avanços importantes por parte desses partidos.
A recente decisão do parlamento francês, por proposta do governo de Jospin, de reduzir a semana de trabalho de 39 para 35 horas, a vigorar a partir do ano 2000, se choca claramente com o programa neoliberal, na medida em que este assenta boa parte da sua busca de "competitividade" no desmonte dos direitos sociais, como forma de viabilizar a redução de custos.
Igualmente, a decisão do Parlamento Europeu, por 480 votos a 8, contra os termos do esboço de acordo ("Acordo de Investimento Multilateral") que, nos marcos da OCDE, pretende derrubar qualquer barreira à entrada do capital estrangeiro, inclusive com punição para os que não se submeterem a esse domínio estrangeiro exacerbado, constitui também uma reação, desta vez em bloco e de uma região mais desenvolvida, ao neoliberalismo decadente.
Até no império norte-americano, começam a ocorrer fatos de grande importância para o avanço das lutas dos povos. Não havendo conseguido impedir que Clinton chegasse ao governo, a direita mais raivosa dos EUA tem conspirado diuturnamente para derrubá-lo, recorrendo principalmente a mexericos sobre sua vida sexual, como se uma certa infidelidade não fosse uma espécie de tradição entre os ocupantes da Casa Branca, de ambos os sexos. Como diz o ditado popular, isso ocorre até nas melhores famílias de Londres. No entanto, dado o enorme prestígio popular de que desfruta o presidente Clinton, a direita não tem conseguido sucesso em seu intento.
Clinton, de certa forma, deixou-se intimidar pela pressão desses setores, como se revelou no corte de certos gastos sociais, na ameaça de voltar a bombardear o Iraque, no bombardeio covarde a uma fábrica de medicamentos no Sudão e no pedido do "fast track" (via rápida) para obter carta branca a fim de acelerar a constituição da ALCA. Mas isso não nega que tem, no essencial, tentado praticar uma política externa baseada na negociação, e não no "big steak" de Reagan e Bush. Terminou sendo assim no desfecho da crise com o Iraque no primeiro semestre de 1998, quando o secretário-geral da ONU obteve um acordo que respeitou os direitos iraquianos; processo semelhante ocorre com Cuba, na medida em que o governo de Clinton tem adiado a execução das cláusulas mais draconianas da "lei" Helms-Burton, que tenta reforçar o bloqueio através de punições a empresas ou pessoas de qualquer país que negociem com Cuba; é o caso também do processo de construção do Estado Palestino, em que a política do governo norte-americano procura, na prática, isolar o belicismo fascista da direita israelense; apesar de toda a pressão do "establishment" de seu país para enfrentar o Mercosul, quando veio ao Brasil, Clinton terminou por declarar apoio ao nosso mercado regional; no caso da extraterritorialidade da "lei" Helms-Burton, acabou negociando um acordo que exclui a Europa das arrogantes punições; e, finalmente, a despeito de toda a resistência da ultradireita norte-americana, encabeçada pelo Partido Republicano, que pretende isolar a China, Clinton realizou no primeiro semestre de 1998 importante visita àquele país, retomando a política de aproximação deflagrada por Nixon no começo dos anos setenta.
Cabe aqui o registro de que o Congresso norte-americano, ao rejeitar o "fast track", estava expressando o sentimento que cresce no país contra um projeto que seria a radicalização da aplicação das políticas neoliberais no continente americano, a criação da ALCA. Até parece contraditória essa decisão, na medida em que a ALCA favoreceria, fundamentalmente aos EUA, e não aos demais países, ao abrir os mercados da região para seus cartéis e, em decorrência, gerar mais emprego internamente. Na verdade, a central sindical norte-americana, a AFL-CIO, ao pressionar o Congresso contra o "fast track", não estava propriamente temendo a perda de empregos, já que os empregos que perderia pela eventual transferência de plantas industriais para outros países seriam mais do que compensados pelos que ganharia com o aumento das exportações. Seu temor, justificado, é outro. É que os cartéis usariam o fato de poderem instalar partes de suas plantas industriais em qualquer parte do continente, explorando a força de trabalho aviltada da região, com direitos sociais já em grande medida abolidos, para chantagear os trabalhadores norte-americanos a aceitarem condições semelhantes. É isso que já vem ocorrendo com a instalação das "maquiladoras" no norte do México e por isso os trabalhadores norte-americanos já começam a se movimentar contra o NAFTA.
É evidente que é melhor para o avanço das lutas dos povos que esteja à frente do governo dos EUA um dirigente que, em lugar da política de força, tenha que optar pela negociação, ao mesmo tempo em que leva em conta o crescente sentimento progressista de seu povo. Até Nixon, que vinha de uma tradição ultraconservadora, a do famigerado maccartismo, teve que agir de forma positiva na política exterior, num momento de grande avanço das lutas em seu país, particularmente contra a guerra no Vietnam. Esse comportamento, certamente, favorece a luta política dos povos. Não devemos, evidentemente, nos descuidar de que essa postura também pode favorecer a realização, de forma sorrateira, dos interesses imperialistas. Mesmo assim, é melhor para os povos travar nesse terreno a luta por sua emancipação.
De qualquer forma, a história deste século nos ensina que muitos dos processos de transformações mais profundas têm sido precedidos por um momento de transição em que personalidades ou forças reformistas, conciliadoras ou o que, no jargão político, se costuma chamar de moderadas têm tido um papel relevante. A chegada ao poder de forças desse tipo, nos principais países do mundo, pode ser, portanto, um significativo sinal de que transformações importantes estão por vir. O processo não é linear. Podem haver avanços e recuos, num país ou noutro, mas a tendência caminha na direção do progresso, até porque se esgotam as bases econômicas para manter uma situação em que a economia do mundo tem de sujeitar-se a produzir para alimentar um pequeno núcleo de parasitas, enquanto milhões morrem de fome.
Cabe, nestas circunstâncias, às forças mais conseqüentes, não jogar de volta, nos braços da decrépita oligarquia financeira, os social-democratas ou forças assemelhadas que podem se desprender da sua influência, mas, ao contrário, de ajudá-los a trilhar um caminho de independência e de construção de um mundo melhor. Certamente, nem todos conseguirão trilhar esse caminho, mas isso não deve desanimar aos que estão comprometidos, sinceramente, com os interesses mais sentidos da Humanidade: a construção de um mundo melhor e mais humano.
Um fato muito importante do período recente foi o ressurgimento do Movimento dos Países Não-Alinhados, que já cumpriu importante papel no passado. Depois de quase duas décadas sem muita ação política, realizou no começo de setembro de 1998, na África do Sul, uma importante reunião com a presença de representantes de 114 países, quando a presidência do Movimento foi entregue a Nelson Mandela, hoje, certamente, um dos principais líderes e estadistas do Terceiro Mundo.
Nunca, no passado, o imperialismo, para sobreviver, teve de praticar uma política de devastação tão arrasadora como a atual. Com isso, está esgarçando a própria estrutura social que o sustenta, em todas as partes do planeta. Chega ao ponto de tentar destruir estruturas produtivas em países que já conseguiram construir uma economia razoavelmente desenvolvida, como o Brasil, a Índia (esta possui a segunda maior indústria de computadores do mundo), a Rússia ou os "tigres" do sudeste asiático. Esses países, dado o grau de desenvolvimento a que chegaram, se liberados das amarras que os estão prendendo, podem experimentar um rápido e espetacular desenvolvimento econômico, social e político e assumir um importante papel no mundo. As tensões que nascem dessa contradição podem deflagrar, a qualquer momento, um processo revolucionário em qualquer desses países, com condições de repercutir profundamente no resto do mundo, fato que, certamente, provocará a passagem da atual situação de resistência para um período de ofensiva revolucionária. As condições objetivas estão dadas. O tecido está roto em muitas partes. Por onde o processo vai se iniciar, dependerá, basicamente, das condições subjetivas, isto é, do papel da vanguarda revolucionária.
O Brasil está entre os que reúnem as melhores condições para, no quadro atual da emergência dos conflitos interimperialistas, sustentar uma política independente, que não apenas garanta o desenvolvimento nacional, mas também favoreça a luta dos outros povos. Dispondo das maiores reservas de recursos naturais e da nona base industrial do planeta, além de um mercado interno que pode se estender rapidamente para mais de 160 milhões de habitantes, conta ainda com a existência de um mercado regional em processo de integração - o Mercosul -, que pode se consolidar e ampliar para o conjunto da América do Sul. Além disso, o Brasil reúne todas as condições para mudar radicalmente o eixo de suas relações comerciais externas, passando a concentrar-se na África do Sul, na China, na Índia e na Rússia.
A disputa eleitoral deste ano no Brasil eleva a luta para um novo patamar. A exacerbação da dominação externa durante este período recente, em verdadeiro processo de recolonização do país, fez com que a questão nacional passasse a assumir a centralidade da luta. O que está em julgamento é essa política neocolonial que vem sendo imposta ao país. A derrota dessa política entreguista encabeçada por FHC é a condição para a reconquista da independência econômica nacional e a conseqüente retomada do desenvolvimento econômico, social, político e cultural do país.
A construção de um Brasil independente certamente ajudará a desabrochar as energias em outras partes do mundo, favorecendo o avanço das lutas dos povos contra a opressão imperialista. Essas lutas anunciam o fim de um regime social - ou melhor anti-social - que já morreu e só falta ser sepultado, a fim de liberar a Humanidade da opressão a que é submetida e criar as condições para que ela conquiste sua efetiva emancipação. Com isso, a pré-história ficará para trás e se começará a construir a verdadeira história humana. Será o nascimento do homem novo.

Nenhum comentário: