quinta-feira, 14 de julho de 2011

Escândalos não punidos nos diversos governos

A lista é de escândalos em referência que repercutiram em todo o
Brasil.
São 33 anos de escândalos.

1- Governo Geisel
( Ernesto Geisel) ( 1974-1979)
10 casos em 6 anos de governo.
(Período de excessão para conter as investidas
comunistas contra o Brasil)
Abertura Política
Caso Wladimir Herzog
Caso Manuel Fiel Filho
Caso Lutfala
Caso Atalla
Ângelo Calmon de Sá
(ministro acusado de passar um gigantesco cheque sem fundos)
Lei Falcão (1976)
Pacote de Abril (1977)
Cassações dos Parlamentares no Governo Geisel
Grandes Mordomias dos Ministros no Governo Geisel
2- Governo Figueiredo
(João Baptista Figueireo) ( 1979-1985)
11 casos em 6 anos de governo
(Período de abertura política, iniciada no Governo Geisel,
e de liberação política e econômica)
Anistia de 1979
Caso Capemi
Caso do Grupo Delfim
Escândalo da Mandioca
Escândalo da Brasilinvest
Escândalo das Polonetas
Caso Morel
Crime da Mala
Caso Coroa-Brastel
Escândalo das Jóias

3 - Governo Sarney
( José Sarney) ( 1985-1990)
6 casos em 6 anos de governo
CPI da Corrupção
Escândalo do Ministério das Comunicações
(grande número de concessões de rádios e TVs
para políticos aliados ou não ao Sarney.
A concessão é em troca de cargos, votos ou apoio ao presidente)
Caso Chiarelli
(Dossiê do Antônio Carlos Magalhães contra o senador Carlos Chiarelli
ou "Dossiê Chiarelli")
Caso Ibraim Abi-Ackel
Escândalo da Administração de Orestes Quécia
Escândalo do Contrabando das Pedras Preciosas


4- Governo Collor
( Fernando Collor de Mello) ( 1990-1992)

19 casos em 2 anos de governo
Escândalo da Aprovação da Lei da Privatização das Estatais
Programa Nacional de Desestatização
Escândalo do INSS (ou Escândalo da Previdência Social)
Escândalo do BCCI (ou caso Sérgio Corrêa da Costa)
Escândalo da Ceme (Central de Medicamentos)
Escândalo da LBA
Esquema PP
Esquema PC (Caso Collor)
Escândalo da Eletronorte
Escândalo do FGTS
Escândalo da Ação Social
Escândalo do BC
Escândalo da Merenda
Escândalo das Estatais
Escândao das Cmunicações
Escândalo da Vasp
Escândalo da Aeronáutica
Escândalo do Fundo de Participação
Escândalo do BB


5- Governo Itamar Franco
(Itamar Augusto Cautiero Franco) ( 1992- 1995)
32 casos em 3 anos de governo
Centro Federal de Inteligência
(Criação da CFI para combater corrupção
em todas as esferas do governo)
Caso Edmundo Pinto
Escândalo do DNOCS
(Departamento Nacional de Obras contra a Seca)
(ou caso Inocêncio Oliveira)
Escândalo da IBF ( Indústria Brasileira de Formulários)
Escândalo do INAMPS
( Instituto Nacional de Assistência Previdência Social)
Irregularidades no Programa Nacional de Desestatização
Caso Nilo Coelho
Caso Eliseu Resende
Caso Queiroz Galvão (em Pernambuco)
Escândalo da Telemig (Minas Gerais)
Jogo do Bicho (ou Caso Castor de Andrade) (no Rio de Janeiro)
Caso Ney Maranhão
Escândalo do Paubrasil (Paubrasil Engenharia e Montagens)
Escândalo da Administração de Roberto Requião
Escândalo da Cruz Vermelha Brasileira
Caso José Carlos da Rocha Lima
Escândalo da Colac (no Rio Grande do Sul)
Escândalo da Fundação Padre Francisco de Assis Castro Monteiro
(em Ibicuitinga, Ceará)
Escândalo da Administração de Antônio Carlos Magalhães (Bahia)
Escândalo da Administração de Jaime Campos (Mato Grosso)
Escândalo da Administração de Roberto Requião (Paraná)
Escândalo da Administração de Ottomar Pinto (em Roraima)
Escândalo da Sudene de Pernambuco
Escândalo da Prefeitura de Natal (no Rio Grande do Norte)
CPI do Detran (em Santa Catarina)
Caso Restaurante Gulliver (tentativa do governador Ronaldo Cunha Lima
matar o governador
antecessor Tarcísio Burity, por causa das denúncias de Irregularidades
na Sudene de Paraíba)
CPI do Pó (em Paraíba)
Escândalo da Estacom (em Tocantins)
Escândalo do Orçamento da União
(ou Escândalo dos Anões do Orçamento ou CPI do Orçamento)
Compra e Venda dos Mandatos dos Deputados do PSD
Caso Ricupero (também conhecido como "Escândalo das Parabólicas").


6- Governo FHC
( Fernando Henrique Cardoso) (1995- 2003)
44 casos em 8 anos de governo
Escândalo do Sivam
(Primeira grave crise do governo FHC)
Escândalo da Pasta Rosa
Escândalo da CONAN
Escândalo da Administração de Paulo Maluf
Escândalo do BNDES
(verbas para socorrerem ex-estatais privatizadas)
Escândalo da Telebrás
Caso PC Farias
Escândalo da Compra de Votos Para Emenda da Reeleição
Escândalo da Venda da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD)
Escândalo da Previdência
Escândalo da Administração do PT
(primeira denúncia contra o Partido dos Trabalhadores
desde a fundação em 1980,
feito pelo militante do partido Paulo de Tarso Venceslau)
Escândalo dos Precatórios
Escândalo do Banestado
Escândalo da Encol
Escândalo da Mesbla
Escândalo do Banespa
Escândalo da Desvalorização do Real
Escândalo dos Fiscais de São Paulo (ou Máfia dos Fiscais)
Escândalo da Mappin
Dossiê Cayman
(ou Escândalo do Dossiê Cayman ou Escândalo do Dossiê Caribe)
Escândalo dos Grampos Contra FHC e Aliados
Escândalo do Judiciário
Escândalo dos Bancos
CPI do Narcotráfico
CPI do Crime Organizado
Escândalo de Corrupção dos Ministros no Governo FHC
Escândalo da Banda Podre
Escândalo dos Medicamentos
(grande número de denúncias de remédios falsificados
ou que não curaram pacientes)
Quea do Monopólio do Petróleo (criação da ANP)
Escândalo da Transbrasil
Escândalo da Pane DDD do Sistema Telefônico Privatizado (o "Caladão")
Escândalo dos Desvios de Verbas do TRT-SP
(Caso Nicolau dos Santos Neto , o "Lalau")
Escândalo da Administração da Roseana Sarney (Maranhão)
Corrupção na Prefeitura de São Paulo (ou Caso Celso Pitta)
Escândalo da Sudam
Escândalo da Sudene
Escândalo do Banpará
Escândalo da Quebra do Sigilo do Painel do Senado
Escândalos no Senado em 2001
Escândalo da Administração de Mão Santa (Piauí)
Caso Lunus (ou Caso Roseana Sarney)
Acidentes Ambientais da Petrobrás
Abuso de Medidas Provisórias (5.491)
Escândalo do Abafamento das CPIs no Governo do FHC


Governo Lula
(Luiz Inácio Lula da Silva) (desde 2003)
101 casos em 4 anos de governo.
Caso Pinheiro Landim
Caso Celso Daniel
Caso Toninho do PT
Escândalo dos Grampos Contra Políticos da Bahia
Escândalo do Proprinoduto
(também conhecido como Caso Rodrigo Silveirinha )
CPI do Banestado
Escândalo da Suposta Ligação do PT com o MST
Escândalo da Suposta Ligação do PT com a FARC
Privatização das Estatais no Primeiro Ano do Governo Lula
Escândalo do Gasto Públicos dos Ministros
Irregularidades do Fome Zero
Escândalo do DNIT
(envolvendo os ministros Anderson Adauto e Sérgio Pimentel)
Escândalo do Ministério do Trabalho
Licitação Para a Compra de Gêneros Básicos
Caso Agnelo Queiroz
(O ministro recebeu diárias do COB para os Jogos Panamericanos)
Escândalo do Ministério dos Esportes
(Uso da estrutura do ministério para organizar a festa de aniversário
do ministro Agnelo Queizoz)
Operação Anaconda
Escândalo dos Gafanhotos (ou Máfia dos Gafanhotos)
Caso José Eduardo Dutra
Escândalo dos Frangos (em Roraima)
Várias Aberturas de Licitações da Presidência da República
Para a Compra de Artigos de Luxo
Escândalo da Norospar
(Associação Beneficente de Saúde do Noroeste do Paraná)
Expulsão dos Políticos do PT
Escândalo dos Bingos
(Primeira grave crise política do governo Lula)
(ou Caso Waldomiro Diniz)
Lei de Responsabilidade Fiscal
(Recuos do governo federal da LRF)
scândalo da ONG Ágora
Escândalo dos Copos
(Licitação do Governo Federal para a compra de 750 copos de cristal
para vinho, champagne, licor
e whisky)
Caso Henrique Meirelles
Caso Luiz Augusto Candiota
(Diretor de Política Monetária do BC,
é acusado de movimentar as contas no exterior
e demitido por não explicar a movimentação)
Caso Cássio Caseb
Caso Kroll
Conselho Federal de Jornalismo
Escândalo dos Vampiros
Escândalo das Fotos de Herzog
Uso dos Ministros dos Assessores em Campanha Eleitoral de 2004
Escândalo do PTB
(Oferecimento do PT para ter apoio do PTB em troca de cargos,
material de campanha e R$ 150 mil reais a cada deputado)
Caso Antônio Celso Cipriani
Irregularidades na Bolsa-Escola
Caso Flamarion Portela
Irregularidades na Bolsa-Família
Escândalo de Cartões de Crédito Corporativos da Presidência
Irregularidaes do Programa Restaurante Popular
(Projeto de restaurantes populares beneficia prefeituras
administradas pelo PT)
Abuso de Medidas Provisórias no Governo Lula
entre 2003 e 2004 (mais de 300)
Escândalo dos Correios
(Segunda grave crise política do governo Lula.
Também conhecido como Caso Maurício Marinho)
Escândalo do IRB
Escândalo da Novadata
Escândalo da Usina de Itaipu
Escândalo das Furnas
Escândalo do Mensalão
(Terceira grave crise política do governo.
Também conhecido como Mensalão)
Escândalo do Leão & Leão
(República de Ribeirão Preto ou Máfia do Lixo ou Caso Leão & Leão)
Escândalo da Secom
Esquema de Corrupção no Diretório Nacional do PT
Escândalo do Brasil Telecom
(também conhecido como Escândalo do Portugal Telecom
ou Escândalo da Itália Telecom)
Escândalo da CPEM
Escândalo da SEBRAE (ou Caso Paulo Okamotto)
Caso Marka/FonteCindam
Escândalo dos Dólares na Cueca
Escândalo do Banco Santos
Escândalo Daniel Dantas - Grupo Opportunity
(ou Caso Daniel Dantas)
Escândalo da Interbrazil
Caso Toninho da Barcelona
Escândalo da Gamecorp-Telemar
(ou Caso Lulinha)
Caso dos Dólares de Cuba
Doação de Roupas da Lu Alckmin
(esposa do Geraldo Alckimin)
Doação de Terninhos da Marísia da Silva
(esposa do presidente Lula)
Escândalo da Nossa Caixa LI
Escândalo da Quebra do Sigilo Bancário do Caseiro Francenildo
(Quarta grave crise política do governo Lula.
Também conhecido como Caso Francenildo Santos Costa)
Escândalo das Cartilhas do PT
Escândalo do Banco BMG
(Empréstimos para aposentados)
Escândalo do Proer
Escândalo do Sivam

Escândalo dos Fundos de Pensão
Escândalo dos Grampos na Abin
Escândalo do Foro de São Paulo
Esquema do Plano Safra Legal (Máfia dos Cupins)
Escândalo do Mensalinho
Escândalo das Vendas de Madeira da Amazônia
(ou Escândalo Ministério do Meio Ambiente).
69 CPIs Abafadas pelo Geraldo Alckmin (em São Paulo)
Escândalo de Corrupção dos Ministros no Governo Lula
Crise da Varig
Escândalo das Sanguessugas
(Quinta grave crise política do governo Lula.
Inicialmente conhecida como Operação Sanguessuga
e Escândalo das Ambulâncias)
Escândalo dos Gastos de Combustíveis dos Deputados
CPI da Imigração Ilegal
CPI do Tráfico de Armas
Escândalo da Suposta Ligação do PT com o PCC
Escândalo da Suposta Ligação do PT com o MLST
Operação Confraria
Operação Dominó
Operação Saúva
Escândalo do Vazamento de Informações da Operação Mão-de-Obra
Escândalo dos Funcionários Federais Empregados que não Trabalhavam
Mensalinho nas Prefeituras do Estado de São Paulo
Escândalo dos Grampos no TSE
Escândalo do Dossiê
(Sexta grave crise política do governo Lula)
ONG Unitrabalho
Escândalo da Renascer em Cristo
CPI das ONGs
Operação Testamento
CPI do Apagão Aéreo
Operação Hurricane
!!!!!!!!!
- FORA OS NÃO CATALOGADOS -
Retirado de

http://pt.wikipedia.org:80/wiki/Lista_de_escândalos_de_corrupção_no_Brasil

terça-feira, 5 de julho de 2011

Entrervista de Evo Morales

América do Sul deve construir uma aliança estratégica”
Em entrevista ao jornal Página/12, o presidente da Bolívia, Evo Morales, fala sobre sua experiência como presidente, sobre os programas sociais que está implantando para beneficiar a população mais pobre e defende uma aliança estratégica entre os países da América do Sul. “Devemos fazer uma aliança estratégica com toda a América do Sul para a tecnologia. Porque a América do Sul já é a mãe de todos os recursos estratégicos do mundo. Temos a Amazônia, água doce...É uma esperança para o mundo. É preciso desenvolver uma nova tese. A tese da vida, da humanidade”.
Martín Granovsky - Página/12

O jogo da noite entre Argentina e Bolívia e o gasoduto para trazer gás ao norte argentino eram os grandes temas da visita de Evo Morales a Argentina até que surgiu o protesto da comunidade judaica pela viagem do ministro de Defesa iraniano a La Paz. São 11 horas da manhã e Evo acaba de se despedir dos dirigentes da DAIA (Delegação de Associações Israelitas Argentinas). Saíram sorridentes. Talvez contagiados pela tranquilidade que emana hoje desse presidente aymara e ex-dirigente sindical que, no último dia 22 de janeiro, completou cinco anos no Palácio Queimado.

- Nunca sonhei em seu presidente – diz Evo. Nunca pensei que iria ser presidente.

- Nunca?

- Até 2002, jamais. Jamais. Eu, de tão baixo. Quando meus companheiros me propuseram ser candidato à presidência, em 1997, pensei que estavam gozando com minha cara.

- Mas o elegeram deputado.

- Sim. Fui candidato a presidente em 2002, e a candidatura surpreendeu a mim mesmo. Eu candidato? Foi uma satisfação. E depois, em 2005, ganhamos, mas temos muito que seguir aprendendo no novo sentido da política boliviana: antes o povo era escravo do governo. Agora o governo é escravo do povo. Está a serviço do povo.

- Os bolivianos votaram várias vezes em eleições presidenciais e para a reforma da Constituição. Como faz um presidente para avaliar o sentimento popular a cada dia?

- As reuniões com os movimentos sociais permitem saber como servir ao povo. Os resultados de gestão não só satisfazem como causam orgulho quando o povo se sente atendido em suas demandas. Nem sempre é suficiente, claro, por que os recursos são limitados. Mas sempre escutamos.

- Os dirigentes da DAIA que tiveram a entrevista com você comentaram isso: que os escutou, que admitiu ter cometido um erro e que eles acreditaram.

- Houve problemas e nós os reconhecemos. Melhor aprender errando. Melhor não ocultar as coisas. Assim a vida é melhor. Essa é minha experiência na família, no sindicalismo e no governo.

- Admitir um erro não pode ser tomado como sintoma de debilidade?

- Para mim não. Alguém sempre pergunta por que eu reconheço isso. Quem não comete erros? Lamentamos coisas que não estavam em nossos planos e expressamos nosso reconhecimento.

- Qual é o interesse nacional boliviano com o gasoduto que começou a ser negociado com a Argentina em 2006 e do conversou com a presidenta (Cristina Fernandez Kirchner)?

- A Bolívia, lamentavelmente em boa parte, viveu de seus recursos naturais. Em um primeiro momento a borracha, depois o estanho e, mais tarde, o gás. As relações que iniciamos com o presidente Néstor Kirchner tiveram continuidade com os acordos com a companheira Cristina e com a construção do gasoduto Juana Azurduy, tão importante para os dois povos, um que será abastecido de gás e o outro que se beneficiará disso. Ao mesmo tempo, estamos melhorando a economia da Bolívia e prestando um serviço ao povo argentino. Falei muito sobre isso com a companheira Cristina. Ela conhece o tema. Não parece advogada, mas sim uma petroleira. Garantir energia frente à crise do mundo, no marco da complementariedade, é importante. Nós necessitamos do povo argentino e de seu governo e se eles precisam de nós, aqui estamos. Eu nunca esqueço que, quando nos faltou trigo e farinha para o pão, a Argentina nos socorreu. Não sei como fez, mas o trigo ajudou a nossa felicidade.

- A nova Constituição estabelece um Estado plurinacional. Como está funcionando a construção?

- Nossa história mostra tantos irmãos assassinados, enforcados, esquartejados, discriminados, marginalizados...Houve rebeliões com resultados nefastos, mas nessas rebeliões nossos antepassados defenderam a identidade e os recursos naturais. Agora estamos em uma revolução. Não com balas; Com o voto. O Estado plurinacional se constrói também via um processo de descolonização. Três etapas: Rebelião, revolução, descolonização. Esta etapa não é fácil. Podemos mudar normas e procedimentos pelas quais um funcionário público se converterá em um servidor público. Mas é mais difícil mudar a mentalidade.

- A do funcionário?

- Sim. Por sorte, na Bolívia o povo começa a pensar diferente sobre a política. No passado, o político era visto como delinquente, como um meliante, um ladrão, um farsante. Estamos mudando isso. Agora, ser político é prestar serviço ao povo por tempo determinado.

O que significa por tempo determinado?

- Que depende dos tempos da democracia, dos mandatos, do voto. Antes ser político era dizer: “Isso é meu. Aproveitarei”. Terminamos com isso na Bolívia. O povo era escravo do governo. Em meu gabinete há intelectuais e profissionais que poderiam estar ganhando melhor em outro trabalho. Mas se somam a esse trabalho para prestar um serviço por tempo determinado. E descolonizar também é a busca da soberania com igualdade de todos os bolivianos. Não pode haver uns vivendo no luxo e outros que morrem de fome. Não podem existir essas diferenças de família para família e tampouco de país para país, ou de continente para continente. Esse milênio não deve ser o das oligarquias, hierarquias e monarquias. Olhemos as reações que temos nestes dias em outros continentes. Na Europa, por exemplo. Antes eles olhavam para a América Latina. E o que viam? Os golpes militares, as ditaduras, crises, convulsões, mortos. A Bolívia, antes de eu chegar à presidência, teve cinco presidentes em cinco anos.

- Nós ganhamos: cinco em uma semana.

- Sim. E eu não posso acreditar: entrei no sexto ano da presidência. Isso quer dizer que estamos mudando.

- Bom, e pelo Honoris Causa da Universidade de Córdoba já é o doutor Evo Morales.

-E sou doutor, sim. Mas o que vale é o que estamos mudando no plano estrutural, no econômico e financeiro. Estamos nos libertando financeiramente. O próximo passo é tecnológico e científico. Devemos fazer uma aliança estratégica com toda a América do Sul para a tecnologia. Porque a América do Sul já é a mãe de todos os recursos estratégicos do mundo. Temos a Amazônia, água doce...É uma esperança para o mundo. É preciso desenvolver uma nova tese. A tese da vida, da humanidade. Falamos muito sobre isso com o companheiro Néstor Kirchner.

- Vocês se conheceram antes da presidência.

- Sim. Néstor foi muito prático em suas recomendações e sugestões. Para mim segue sendo um pai político. Quando comecei como presidente, lá estava Néstor, lá estava Lula, lá estava Chávez para suas sugestões e recomendações.

- Qual foi a recomendação mais importante?

- O serviço ao povo. E lembro a ajuda que me deu em Tarija. Ele me disse: “Se perceber que as empresas não querem investir, pega o telefone e me liga que a Argentina vai investir”. Talvez possa ser entendida como uma mensagem simbólica. Mas foi muito importante. Nós, presidentes, devemos nos ajudar também em temas de investimento.

- Qual é, no plano mundial, a novidade boliviana em termos de identidade e desenvolvimento dos povos originários?

- Programas, por exemplo. Para os setores mais pobres das comunidades indígenas o governo está garantindo 70% do investimento para empreendimentos produtivos. Os beneficiados contribuem com os outros 30%. O Banco Mundial está exportando este programa para a África. Outro programa: a criança que termina o ano escolar recebe um pequeno bônus de 200 bolivianos ao ano. O segredo deste bônus é evitar que haja novos analfabetos. Estamos conseguindo diminuir a evasão escolar, especialmente nas áreas rurais do altiplano e nos bairros periféricos das cidades. Baixamos a evasão de 6 para 2% e temos que impedir que surjam novos analfabetos. Outro programa ainda: os mais pobres, os abandonados, os que trabalharam durante toda a vida, recebem cerca de 200 bolivianos por mês. Não é muito, mas é alguma coisa. Nas áreas rurais, o idoso que recebe sua renda resolve seu problema de água e de luz. E estamos entregando terra, ainda que alguns sejam muito ambiciosos.

- O que querem?

- Em lugar de 50 hectares, querem 150. Não é possível. Alguns dizem: “Aproveito a presidência do companheiro Evo, do irmão Evo, porque depois não haverá essa chance”.

- Como é o estado atual da unidade da Bolívia, sobretudo em relação a Santa Cruz de la Sierra? Os enfrentamentos de 2008 são coisa do passado?

- Antes se falava da meia lua. Isso acabou. Agora é a lua inteira. Nosso movimento se baseia na política do bem viver, não do viver melhor. Seu você quer viver melhor, tem que roubar, saquear os recursos, explorar. Isso nós podemos garantir porque meu partido, o dos mais pobres, dos camponeses indígenas originários, tem dois terços da Câmara de Deputados e dois terços da Câmara de Senadores. Isso nunca aconteceu na história da Bolívia. Há um sentimento popular que simpatiza com as mudanças profundas. E isso apesar das corridas aos bancos, que fracassaram. Ou do boicote para que falte açúcar ou azeite e para que joguem a culpa em cima de mim. Mas estamos sempre preparados para aprender errando, errando.

- Mauricio Macri disse que um dos problemas da Argentina, e repetiu isso, é o que chamou de “imigração descontrolada”. Como reagiu ao ouvi-lo?

- Respeitamos as opiniões de todos. Cada um tem direito a expressar o que pensa e o que sente. Mas somos todos latino-americanos. Todos somos sulamericanos. Temos a obrigação de compartilhar. Mas não só na Bolívia, também na Europa, na Espanha e em outros países o boliviano é visto como honesto e trabalhador. Veio aqui buscar melhores condições de vida. Mas também contribui para o desenvolvimento da Argentina. Assim ocorre sempre com as migrações. As externas e as internas. Na Bolívia vemos o que ocorre com os que chegam a Cochabamba, ou com os que vão de Potosi ou Oruro para Santa Cruz. Por isso, em Santa Cruz se encontra gente de origens tão diferentes. Vão trabalhar. Assim ajudam o desenvolvimento. Na América Latina ocorre o mesmo. Nos complementamos para viver juntos.

Tradução: Katarina Peixoto

Enervista de Evo Morales

América do Sul deve construir uma aliança estratégica”
Em entrevista ao jornal Página/12, o presidente da Bolívia, Evo Morales, fala sobre sua experiência como presidente, sobre os programas sociais que está implantando para beneficiar a população mais pobre e defende uma aliança estratégica entre os países da América do Sul. “Devemos fazer uma aliança estratégica com toda a América do Sul para a tecnologia. Porque a América do Sul já é a mãe de todos os recursos estratégicos do mundo. Temos a Amazônia, água doce...É uma esperança para o mundo. É preciso desenvolver uma nova tese. A tese da vida, da humanidade”.
Martín Granovsky - Página/12

O jogo da noite entre Argentina e Bolívia e o gasoduto para trazer gás ao norte argentino eram os grandes temas da visita de Evo Morales a Argentina até que surgiu o protesto da comunidade judaica pela viagem do ministro de Defesa iraniano a La Paz. São 11 horas da manhã e Evo acaba de se despedir dos dirigentes da DAIA (Delegação de Associações Israelitas Argentinas). Saíram sorridentes. Talvez contagiados pela tranquilidade que emana hoje desse presidente aymara e ex-dirigente sindical que, no último dia 22 de janeiro, completou cinco anos no Palácio Queimado.

- Nunca sonhei em seu presidente – diz Evo. Nunca pensei que iria ser presidente.

- Nunca?

- Até 2002, jamais. Jamais. Eu, de tão baixo. Quando meus companheiros me propuseram ser candidato à presidência, em 1997, pensei que estavam gozando com minha cara.

- Mas o elegeram deputado.

- Sim. Fui candidato a presidente em 2002, e a candidatura surpreendeu a mim mesmo. Eu candidato? Foi uma satisfação. E depois, em 2005, ganhamos, mas temos muito que seguir aprendendo no novo sentido da política boliviana: antes o povo era escravo do governo. Agora o governo é escravo do povo. Está a serviço do povo.

- Os bolivianos votaram várias vezes em eleições presidenciais e para a reforma da Constituição. Como faz um presidente para avaliar o sentimento popular a cada dia?

- As reuniões com os movimentos sociais permitem saber como servir ao povo. Os resultados de gestão não só satisfazem como causam orgulho quando o povo se sente atendido em suas demandas. Nem sempre é suficiente, claro, por que os recursos são limitados. Mas sempre escutamos.

- Os dirigentes da DAIA que tiveram a entrevista com você comentaram isso: que os escutou, que admitiu ter cometido um erro e que eles acreditaram.

- Houve problemas e nós os reconhecemos. Melhor aprender errando. Melhor não ocultar as coisas. Assim a vida é melhor. Essa é minha experiência na família, no sindicalismo e no governo.

- Admitir um erro não pode ser tomado como sintoma de debilidade?

- Para mim não. Alguém sempre pergunta por que eu reconheço isso. Quem não comete erros? Lamentamos coisas que não estavam em nossos planos e expressamos nosso reconhecimento.

- Qual é o interesse nacional boliviano com o gasoduto que começou a ser negociado com a Argentina em 2006 e do conversou com a presidenta (Cristina Fernandez Kirchner)?

- A Bolívia, lamentavelmente em boa parte, viveu de seus recursos naturais. Em um primeiro momento a borracha, depois o estanho e, mais tarde, o gás. As relações que iniciamos com o presidente Néstor Kirchner tiveram continuidade com os acordos com a companheira Cristina e com a construção do gasoduto Juana Azurduy, tão importante para os dois povos, um que será abastecido de gás e o outro que se beneficiará disso. Ao mesmo tempo, estamos melhorando a economia da Bolívia e prestando um serviço ao povo argentino. Falei muito sobre isso com a companheira Cristina. Ela conhece o tema. Não parece advogada, mas sim uma petroleira. Garantir energia frente à crise do mundo, no marco da complementariedade, é importante. Nós necessitamos do povo argentino e de seu governo e se eles precisam de nós, aqui estamos. Eu nunca esqueço que, quando nos faltou trigo e farinha para o pão, a Argentina nos socorreu. Não sei como fez, mas o trigo ajudou a nossa felicidade.

- A nova Constituição estabelece um Estado plurinacional. Como está funcionando a construção?

- Nossa história mostra tantos irmãos assassinados, enforcados, esquartejados, discriminados, marginalizados...Houve rebeliões com resultados nefastos, mas nessas rebeliões nossos antepassados defenderam a identidade e os recursos naturais. Agora estamos em uma revolução. Não com balas; Com o voto. O Estado plurinacional se constrói também via um processo de descolonização. Três etapas: Rebelião, revolução, descolonização. Esta etapa não é fácil. Podemos mudar normas e procedimentos pelas quais um funcionário público se converterá em um servidor público. Mas é mais difícil mudar a mentalidade.

- A do funcionário?

- Sim. Por sorte, na Bolívia o povo começa a pensar diferente sobre a política. No passado, o político era visto como delinquente, como um meliante, um ladrão, um farsante. Estamos mudando isso. Agora, ser político é prestar serviço ao povo por tempo determinado.

O que significa por tempo determinado?

- Que depende dos tempos da democracia, dos mandatos, do voto. Antes ser político era dizer: “Isso é meu. Aproveitarei”. Terminamos com isso na Bolívia. O povo era escravo do governo. Em meu gabinete há intelectuais e profissionais que poderiam estar ganhando melhor em outro trabalho. Mas se somam a esse trabalho para prestar um serviço por tempo determinado. E descolonizar também é a busca da soberania com igualdade de todos os bolivianos. Não pode haver uns vivendo no luxo e outros que morrem de fome. Não podem existir essas diferenças de família para família e tampouco de país para país, ou de continente para continente. Esse milênio não deve ser o das oligarquias, hierarquias e monarquias. Olhemos as reações que temos nestes dias em outros continentes. Na Europa, por exemplo. Antes eles olhavam para a América Latina. E o que viam? Os golpes militares, as ditaduras, crises, convulsões, mortos. A Bolívia, antes de eu chegar à presidência, teve cinco presidentes em cinco anos.

- Nós ganhamos: cinco em uma semana.

- Sim. E eu não posso acreditar: entrei no sexto ano da presidência. Isso quer dizer que estamos mudando.

- Bom, e pelo Honoris Causa da Universidade de Córdoba já é o doutor Evo Morales.

-E sou doutor, sim. Mas o que vale é o que estamos mudando no plano estrutural, no econômico e financeiro. Estamos nos libertando financeiramente. O próximo passo é tecnológico e científico. Devemos fazer uma aliança estratégica com toda a América do Sul para a tecnologia. Porque a América do Sul já é a mãe de todos os recursos estratégicos do mundo. Temos a Amazônia, água doce...É uma esperança para o mundo. É preciso desenvolver uma nova tese. A tese da vida, da humanidade. Falamos muito sobre isso com o companheiro Néstor Kirchner.

- Vocês se conheceram antes da presidência.

- Sim. Néstor foi muito prático em suas recomendações e sugestões. Para mim segue sendo um pai político. Quando comecei como presidente, lá estava Néstor, lá estava Lula, lá estava Chávez para suas sugestões e recomendações.

- Qual foi a recomendação mais importante?

- O serviço ao povo. E lembro a ajuda que me deu em Tarija. Ele me disse: “Se perceber que as empresas não querem investir, pega o telefone e me liga que a Argentina vai investir”. Talvez possa ser entendida como uma mensagem simbólica. Mas foi muito importante. Nós, presidentes, devemos nos ajudar também em temas de investimento.

- Qual é, no plano mundial, a novidade boliviana em termos de identidade e desenvolvimento dos povos originários?

- Programas, por exemplo. Para os setores mais pobres das comunidades indígenas o governo está garantindo 70% do investimento para empreendimentos produtivos. Os beneficiados contribuem com os outros 30%. O Banco Mundial está exportando este programa para a África. Outro programa: a criança que termina o ano escolar recebe um pequeno bônus de 200 bolivianos ao ano. O segredo deste bônus é evitar que haja novos analfabetos. Estamos conseguindo diminuir a evasão escolar, especialmente nas áreas rurais do altiplano e nos bairros periféricos das cidades. Baixamos a evasão de 6 para 2% e temos que impedir que surjam novos analfabetos. Outro programa ainda: os mais pobres, os abandonados, os que trabalharam durante toda a vida, recebem cerca de 200 bolivianos por mês. Não é muito, mas é alguma coisa. Nas áreas rurais, o idoso que recebe sua renda resolve seu problema de água e de luz. E estamos entregando terra, ainda que alguns sejam muito ambiciosos.

- O que querem?

- Em lugar de 50 hectares, querem 150. Não é possível. Alguns dizem: “Aproveito a presidência do companheiro Evo, do irmão Evo, porque depois não haverá essa chance”.

- Como é o estado atual da unidade da Bolívia, sobretudo em relação a Santa Cruz de la Sierra? Os enfrentamentos de 2008 são coisa do passado?

- Antes se falava da meia lua. Isso acabou. Agora é a lua inteira. Nosso movimento se baseia na política do bem viver, não do viver melhor. Seu você quer viver melhor, tem que roubar, saquear os recursos, explorar. Isso nós podemos garantir porque meu partido, o dos mais pobres, dos camponeses indígenas originários, tem dois terços da Câmara de Deputados e dois terços da Câmara de Senadores. Isso nunca aconteceu na história da Bolívia. Há um sentimento popular que simpatiza com as mudanças profundas. E isso apesar das corridas aos bancos, que fracassaram. Ou do boicote para que falte açúcar ou azeite e para que joguem a culpa em cima de mim. Mas estamos sempre preparados para aprender errando, errando.

- Mauricio Macri disse que um dos problemas da Argentina, e repetiu isso, é o que chamou de “imigração descontrolada”. Como reagiu ao ouvi-lo?

- Respeitamos as opiniões de todos. Cada um tem direito a expressar o que pensa e o que sente. Mas somos todos latino-americanos. Todos somos sulamericanos. Temos a obrigação de compartilhar. Mas não só na Bolívia, também na Europa, na Espanha e em outros países o boliviano é visto como honesto e trabalhador. Veio aqui buscar melhores condições de vida. Mas também contribui para o desenvolvimento da Argentina. Assim ocorre sempre com as migrações. As externas e as internas. Na Bolívia vemos o que ocorre com os que chegam a Cochabamba, ou com os que vão de Potosi ou Oruro para Santa Cruz. Por isso, em Santa Cruz se encontra gente de origens tão diferentes. Vão trabalhar. Assim ajudam o desenvolvimento. Na América Latina ocorre o mesmo. Nos complementamos para viver juntos.

Tradução: Katarina Peixoto