sábado, 29 de maio de 2010

TROTKISTAS CONTRA A REVOLUÇÃO CUBANA

Tres comentários sobre ataque dos trotkistas ao regime cubano, resposta do PCB aos mesmos e comentários de Blasco


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Correio Internacional: A morte de Orlando Zapata e as liberdades em Cuba Publicação da LIT-QI - Nova época, número 157 – Março de 2010
Liga Internacional dos Trabalhadores

• A morte do preso cubano Orlando Zapata Tamayo, logo após uma longa greve de fome, tem provocado uma grande polêmica internacional. É Que as circunstâncias do caso e sua repercussão internacional têm jogado luz à atuação do governo cubano e que atitude devem tomar as organizações de esquerda em casos como este. Muito mais profundamente, o debate deve nos levar a questão do que é atualmente o estado cubano, assim como o contexto geral dentro do qual deve se dar a análise do caso e a postura a se adotar.Quem era Orlando Zapata Tamayo? A maioria das organizações de esquerda saiu na defesa intransigente do governo cubano e denunciam que a repercussão da mídia é uma nova campanha imperialista contra o que consideram “o último bastião do socialismo”. O primeiro argumento neste sentido, é que ele não eram um “preso político” mas um marginal, um delinqüente anti-social que aproveitou sua condição de preso para apresentar-se como “dissidente” e começou a ser utilizado pela mídia imperialista. Tal acusação, porém, falsifica absurdamente a realidade. Por isso, é necessário ver como funciona o sistema penal cubano e quem era realmente Orlando Zapata. Porque é a partir desta questão que se começa a entender a realidade do que ocorreu.Os órgãos oficiais de Cuba e quem os apóiam tratam de mostrar Zapata Tamayo como um “preso comum”, alegando que foi detido varais vezes nos anos 90, acusado por delitos como “fraude”, “desordem pública” e “agressões” .É Sobre esta ficha jurídico-policial que se apoiam os órgãos do PC cubano para caracteriza-lo como “delinqüente”.O sistema judicial cubano, pelas razões que logo veremos, está completamente viciado. Mas vamos supor que Zapata Tamayo cometeu esses delitos pelos quais foi preso nos anos 90. Contudo, esses mesmos órgãos oficiais “esquecem” o fato de que, em dezembro de 2002, não foi detido por nenhum desses delitos, mas por ter se transformado em um opositor ao regime. Granma, jornal oficial do PC cubano, disse que foi liberado sob fiança em 9 de março de 2003 e, segundo ele, “voltou a delinqüir no dia 20 do mesmo mês”. A que se deveu essa última detenção? O que significa para Granma ‘voltar a delinqüir”?Um preso de consciência A última detenção ocorreu porque, junto a outras pessoas, realizava um a greve de fome em uma casa, organizada pela Assembleia para Promover a Sociedade Civil. Logo, é julgado e condenado por “desacato, desordem pública e desobediência ao Estado” e recebe uma pesada condenação. Desde então, vinha realizando diversos protestos exigindo sua liberdade (e ao mesmo tempo melhores condições na prisão) que culminaram com sua greve de fome que o levou à morte. A Comissão Cubana de Directos Humanos e Reconciliação Nacional (CCDHRN), encabeçada pelo advogado e dissidente político Elizardo Sánchez, o reivindicava como preso político e desde 2004 a Anistia Internacional o reconhecia como “preso de consciência” (quer dizer, por suas convicções e não por delitos comuns), exigindo sua liberdade.É Muito provável que Orlando Zapata (ou a organização a que estava ligado) tiveram posições pró-capitalistas. Não temos nenhum compromisso com suas reivindicações políticas nem ideais. Ele, porém, não foi detido pois estava a favor de restaurar o capitalismo e sim por exigir liberdades democráticas ao país. O enfrentamento real que houve entre ele e o governo cubano, e o que o levo à morte, foi que o regime político não aceita que se façam atividades contra ele.É necessário se perguntar o que ocorrem em Cuba nas últimas décadas para que um operário especializado, como era Orlando Zapata na década de 80, seja condenado a longos anos de prisão só por protestar com o regime. Em segundo lugar, por que o governo cubano preferiu deixa-lo morrer antes de fazer qualquer concessão a um preso de consciência para que não sirva de “mau exemplo”.Uma atitude que indigna As circunstâncias de sua morte, e a atitude do governo de Raúl Castro de negar qualquer responsabilidade indigna aqueles que lutaram ou lutam contra as perseguições aos militantes de esquerda e que, nos cárceres das ditaduras ou dos países imperialistas, muitas vezes tiveram que recorrer a esse tipo de medida.Também indigna as declarações de Lula, presidente do Brasil, que saiu em defesa da repressão do estado cubano e atacou aos que fazem greve de fome, comparando-os com “bandidos brasileiros”. Lula “esquece” a própria experiência de luta do povo brasileiro contra a ditadura militar e as muitas vezes que, nessa época, os presos políticos utilizaram essa ferramenta, inclusive ele quando esteve preso.Algo que é mais grave ainda quando, atualmente, o imperialismo e os governos capitalistas usam as acusações de “criminosos” ou “bandidos” contra lutas sociais, como as ocupações de terra, e atacam os ativistas operários, camponeses ou indígenas que lutam contra o latifúndio ou o saque das empresas multinacionais. Ao somar-se a essas definições em Cuba, Lula serve na bandeja à direita a possibilidade de usa –las no resto dos países do mundo. A revolução cubana e a restauração É impossível entender a morte de Orlando Zapata Tamayo sem localiza-la no marco de um processo econômico social muito mais profundo: a restauração do capitalismo que viveu Cuba desde o final dos anos 80 e meados dos 90, impulsionada pelo regime do Partido Comunista.O processo aberto com a revolução de 1959, ou seja a expropriação das empresas do imperialismo ianque e da burguesia cubana e o início de uma economia planificada centralmente, transformaram Cuba no primeiro estado operário do continente latino-americano. A revolução logrou avanços imensos em áreas como Educação e Saúde, na melhor geral do nível de vida da população e a eliminação da pobreza extrema e a miséria.Cuba se converteu em um símbolo do que era capaz de lograr uma revolução socialista e os dirigentes do processo, Fidel Castro e Che Guevara, adquiriram imenso prestígio e se transformaram em uma referência política para milhões de lutadores e revolucionários do mundo. Contudo, desde o próprio início da revolução, a direção castrista se constituía numa burocracia governante que, poucos anos depois, se integrou no aparato estalinista mundial, centralizado desde a casta governante na ex-URSS.Tal ligação política se expressou no apoio de Fidel Castro à invasão do exército soviético à Checoslováquia em 1968, ou em sua orientação ao FSLN, em 1979, depois de derrotar a ditadura de Somoza, de não fazer da Nicarágua “uma nova Cuba” (ou seja, não avançar a uma revolução socialista). No interior de Cuba, impediu o exercício da democracia operária e perseguiu na só os agentes dos “gusanos” de Miami como também a seus opositores de esquerda.Ao final dos anos 80 e começo dos 90, a restauração capitalista no Leste europeu e a queda da URSS significaram um duro golpe à economia cubana, centrada na exportação de açúcar e seu intercâmbio por petróleo e tecnologia com esses países. Neste contexto, a direção castrista começou a desenvolver uma política de restauração capitalista e de desmonte das bases do estado operário. Os pilares fundamentais de uma economia planificada (o planejamento central estatal e o monopólio do comércio exterior) já não existem e a economia funciona segundo as leis capitalistas de mercado.A restauração significou a perda ou a deterioração extrema da maioria das conquistas da revolução e a volta dos males que se haviam eliminado, ou reduzido ao mínimo, como o desemprego, a prostituição, a marginalidade, as drogas e a delinqüência (dados que são reconhecidos, inclusive, pela própria direção cubana). O governo de Raúl Castro segue atacando uma após outra as conquistas que restaram: restaurantes populares, redução do orçamento da saúde e educação. Os salários dos setores operários de base são miseráveis, não existem o direito de greve nem de organização de forma independente do Estado. Assim como na China, os países estrangeiros buscam aproveitar os baixíssimos salários e as condições propícias para a acumulação de capital e assim extrair lucros extraordinários: crescem os investimentos imperialistas da Europa e Canadá, e inclusive de setores burgueses do Brasil.Uma ditadura capitalista A diferenta do que ocorreu na ex-URSS ou nos outros estado do Leste da Europa, onde, os responsáveis do processo de restauração capitalista (os regimes e partidos estalinistas) foram logo depois derrubados pelas massas, o processo cubano seguiu o “modelo chinês”. Isso significa que, as massas não conseguiram derrubar os regimes do partido dos PC’s, que continuam à cabeça do agora estado capitalista (ainda que sigam falando de “socialismo” e usando a sua simbologia).A maioria da esquerda há começou a reconhecer o que ocorreu na China, mas se nega a fazer o mesmo em Cuba e a reivindica como “o último bastião do socialismo”. É certo que a permanência da direção dos irmãos Castro, a mesma que encabeçou a revolução, pode gerar confusão. Também que o reconhecimento da restauração e a realidade cubana atual resultam dolorosos para quem viu na revolução cubana uma grande esperança. Mas isso não pode nunca justificar a negação da realidade e, menos ainda, uma política totalmente equivocada baseada nessa negação.A realidade nos indica que hoje em Cuba se dá uma péssima combinação para os trabalhadores. Por um lado, um sistema econômico capitalista de exploração, a volta de seus piores males e uma recolonização da ilha, realizada pelos imperialismos europeu e canadenses. Por outro lado, um regime ditatorial e anti-democrático transformado em sócio, impulsionador e defensor da restauração capitalista e suas conseqüências. Neste sentido, o regime cubano é semelhante ao chinês: os mesmos que antes defendiam seus privilégios como burocracia, agora defendem os novos capitalistas e seus negócios a qualquer custo.Uma ditadura que impede a liberdade de expressão e reprime qualquer corrente política que discorde de sua linha (qualquer que seja sua posição), que segundo o informe da Comissão Cubana dos Direitos Humanos e Reconciliação Nacional (ligada à oposição) mantém ao menos 200 presos políticos. Anistia Internacional, por sua vez, reconhece 58 presos políticos em 2008. Mais ainda, em Cuba não há processos judiciais públicos, as audiências são fechadas, e se pode perseguir de forma implacável trabalhadores como Orlando e condena-los a 30 anos pelo “crime” de “desacato à autoridade”. Uma ditadura que teme como a peste à liberdade de manifestação: para evitar que se transformasse em um evento político, o próprio enterro de Orlando foi objeto de um cerco policial na pequena cidade de Banes, sem nenhum respeito pela dor dos amigos e familiares. Mais de 60 detenções em todo o país foram realizadas, para que os ativistas mais próximos a ele não estivessem presentes.Há outros ativistas de oposição que lutam pela liberdade dos presos políticos: um dissidente, o jornalista Guillermo Fariñas entrou em greve de fome em sua casa, em repudio à morte de Orlando e pela libertação de outros detentos. Novamente, a resposta do regime foi a de se desresponsabilizar por sua possível morte, além de o acusar de “agente dos Estados Unidos”. Um programa de liberdades democráticas Na época que era um Estado operário burocrático, já havia um intenso debate sobre Cuba na esquerda. Para a maioria das organizações, a defesa da revolução implicava também no apoio incondicional à direção castrista e seu regime. Para a corrente que hoje constitui a LIT-QI, a defesa dessas conquistas significa (assim com na ex-URSS ou na China), a realização de uma revolução política que derrotasse a burocracia e impusesse um verdadeiro regime de democracia operária. Do contrário, a manutenção do regime e da burocracia castrista acabaria levando a restauração do capitalismo, como de fato ocorreu.Naquele momento, não defendíamos as liberdades para os burgueses ou pequeno-burgueses que buscavam restaurar o capitalismo. Exigíamos democracia operária, mas não estávamos a favor de dar liberdades às frações políticas que queriam o retorno do imperialismo ou conspiravam para derrubar o Estado operário, como os “gusanos” (“vermes”) de Miami.A realidade, porém, mudou: Cuba não é mais um Estado operário com um regime burocrático, mas um Estado capitalista governado por uma ditadura. Hoje, o centro de nosso programa de reivindicações para Cuba é de luta frontal contra a ditadura e pela defesa das mais amplas liberdades democráticas (sindicais, civis e políticas). Todo revolucionário que luta contra o capitalismo e pelo poder da classe operária sabe que é necessário diferenciar os diferentes regimes de um Estado capitalista, como por exemplo, uma ditadura burguesa de um regime democrático-burguesa. Frente às ditaduras burguesas, lutamos pelas liberdades para diferentes setores sociais.Por exemplo, na Argentina, entre 1976 a 1982, ou Brasil, em 1964 a 1984, tinham setores burgueses opositores aos regimes ditatoriais. Nesses momentos, qualquer militante de esquerda estava na contramão de que esses setores fossem reprimidos pelas ditaduras. Nessas situações, lutamos pelas mais amplas liberdades democráticas para todas as correntes opositoras, incluídas as burguesas, para permitir que o povo se organize e mobilize contra esses regimes. Isso não significava nenhum compromisso com essas correntes burguesas, como o radicalismo argentino ou o MDB brasileiro, partidos que combatíamos politicamente. Nesses casos, os revolucionários chamavam a uma ampla unidade de ação, inclusive com esses setores burgueses, para combater às ditaduras, mas sempre mantendo a mais absoluta independência de classe e construindo uma alternativa que apontasse para a democracia operária. Essa unidade de ação responde ao fato de que a classe operária necessita das mais amplas liberdades democráticas para avançar em sua organização.No caso atual de Cuba, estamos diante de uma situação semelhante, para além das aparências e dos discursos. Os revolucionários devem lutar para conseguir as liberdades democráticas que facilitem a organização dos trabalhadores e a luta para a revolução socialista (no caso cubano, devamos dizer “refazer”). Por isso reivindicamos amplas liberdades democráticas, inclusive para os opositores burgueses e pequeno-burgueses e repudiamos a repressão aos dissidentes políticos, como faríamos frente a qualquer regime ditatorial burguês. Por isso, nossa posição no caso de Orlando Zapata Tamayo é que, independente das posições pró-burguesas que provavelmente mantivesse, reivindicamos sua liberdade e devemos lutar pela liberdade dos demais presos políticos que reivindicam direitos humanos e civis no país. Ao mesmo tempo, condenamos a atuação do governo cubano, responsável por sua morte.Defender as liberdades democráticas em Cuba é a melhor forma de apresentar uma alternativa contra as manobras do imperialismo. Muitas vezes, o imperialismo, utiliza as campanhas de exigência de liberdades democráticas para defender seus interesses políticos e econômicos. Em muitas ocasiões, isso o leva a questionar ditaduras. Assim o fez, por exemplo, o ex-presidente norte-americano, Jimmy Carter, com a ditadura argentina. Obama tenta vender uma imagem similar. O fato de Carter reivindicar liberdades democráticas na Argentina veria nos levar a defender essa ditadura?A esquerda deve levantar mais do que nunca as bandeiras democráticas e da defesa dos direitos humanos em Cuba. Caso contrário, essa bandeira ficará nas mãos do imperialismo e da direita, que ganharão prestigio aos os olhos dos trabalhadores, dos povos do mundo e do próprio povo cubano como os representantes da “democracia”. Se a maioria da esquerda continuar apoiando a ditadura cubana, vai facilitar a política do imperialismo de identificar a esquerda e o socialismo com a falta de democracia.A restauração do capitalismo já se produziu em Cuba, pelas mãos do castrismo à serviço do imperialismo europeu e canadense. Reivindicar a atuação do governo cubano no caso de Orlando Zapata (e toda a ação do regime) não significa hoje defender a “última fortaleza do socialismo”, mas sim defender uma ditadura capitalista. Defendê-la não contra o sistema capitalista e o imperialismo, que já voltaram na ilha, mas contra as necessidades dos trabalhadores e o povo cubano. A saída para Cuba é construir uma alternativa operária independente que enfrente à ditadura castrista e o imperialismo, e que lute por uma nova revolução socialista.
-------Mensagem original-------



Resposta do PCB ao artigo do LQI sobre CUBA

Defender a Revolução Cubana é uma questão de princípio
(Nota Política do PCB)


Encontra-se na página eletrônica do PSTU uma nota assinada pela autodenominada LIT-QI (Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional), sob o título “A morte de Orlando Zapata e as liberdades em Cuba”.
Esta “liga” é a mesma que ajudou a burguesia venezuelana a dizer não, no referendo constitucional convocado por Chávez, em 2008, e que recomendou abstenção no referendo revogatório convocado pelo Presidente boliviano, em 2009, sob a consigna “nem Evo nem oligarquia”, fazendo o jogo dos separatistas de Santa Cruz de la Sierra, que agem sob o financiamento e as ordens da embaixada norte-americana, da USAID e da CIA.
No exato momento em que a mídia hegemônica mundial promove uma torpe e cínica campanha contra Cuba, esta “internacional” de fachada objetivamente se associa ao imperialismo para combater a Revolução Socialista Cubana, que vem de completar históricos 50 anos de avanços políticos e sociais e de resistência ao cruel bloqueio que lhe movem os Estados Unidos.
Apesar da débâcle da União Soviética e das demais experiências de construção do socialismo no Leste Europeu, apesar do bloqueio e das incontáveis provocações que lhe move o imperialismo, Cuba mantém a mais efetiva democracia popular direta do mundo e conquistas sociais inimagináveis em qualquer país capitalista. Não existe nenhum país mais solidário e internacionalista do que Cuba, que forma estudantes do mundo todo e mantém em muitos países periféricos, sobretudo na América Latina, profissionais das áreas da saúde da família e da educação, com destaque para a luta contra o analfabetismo, já erradicado na Bolívia e na Venezuela.
A LIT-QI usa contra Cuba uma linguagem de esquerda que, aos menos avisados, pode soar como revolucionária. Por isso, seus pronunciamentos são funcionais ao imperialismo, para tentar passar ao mundo a impressão de que o governo cubano está isolado, ou seja, não é só a direita que o combate.
Num malabarismo teórico desonesto, a nota afirma que em Cuba há uma “ditadura capitalista” que precisa ser derrubada em aliança com a burguesia cubana de Miami! Compara o regime cubano com as ditaduras militares que marcaram o Cone Sul nos anos 1960/1980. A má-fé e a manipulação ficam evidentes quando agora defendem como correta a política de frente democrática contra aquelas ditaduras, política que combatiam ferozmente à época.
Pode ser até compreensível a associação de grupos como este, na Polônia nos anos 80, ao “Solidarinosc” e a seu líder, Lech Walesa, mesmo sendo flagrante a direção da CIA e do Vaticano. Em função dos erros na construção do socialismo, ali havia um movimento de massas dissidente, com peso na classe operária. Mas em Cuba, a “dissidência” é dirigida por organizações burguesas, financiadas pelos Estados Unidos, inclusive as que são mencionadas no texto da autoproclamada internacional, que não tem qualquer peso político naquele país. A única alternativa ao atual sistema cubano é o imperialismo, através da burguesia de Miami.
Este tipo de orientação só se presta a fomentar em alguns países o surgimento de organizações pequeno-burguesa, messiânicas e sectárias. Como seitas, se reivindicam vocacionados para dirigir as massas e a revolução socialista. Quando não os dirigem, consideram que todos os movimentos ou processos de mudanças vivem “crise de direção”.
No momento em que o imperialismo, em função da crise de seu sistema, assume uma agressividade inaudita nas últimas décadas, não conciliaremos com essas posições pequeno-burguesas. Classificar a Revolução Cubana de “ditadura capitalista” é fazer o jogo da contra-revolução.
Por isso, o PCB terá imensas dificuldades em se relacionar com organizações políticas que venham a defender em nosso país orientações deste tipo. Mesmo que subjetivamente se percebam revolucionários, estes grupos objetivamente fazem o jogo do imperialismo, funcionando como a sua mão esquerda. O deputado Jair Bolsonaro, líder da ultradireita brasileira, também está divulgando um manifesto com a mesma linha política: “irrestrito apoio e solidariedade aos presos políticos que, em Cuba, lutam por liberdade e democracia naquele país”.
A posição que o Comitê Central do PCB aqui expõe não tem qualquer sentido antitrotskista, só porque aquela liga se reivindica, arrogantemente, a única referência mundial contemporânea do legado de Trotsky. A grande maioria das organizações e personalidades que têm a mesma referência teórica, no Brasil e no mundo, combatem veementemente as posições internacionais deste grupo, que só trazem prejuízos à luta do proletariado.
O PCB, que assume todos os seus 88 anos de vida, já superou o maniqueísmo reducionista, procurando fazer, nos dias de hoje, um balanço do socialismo com base nos fundamentos teóricos que nos legaram Marx, Engels, Lênin e outros intelectuais orgânicos e não em torno de culto a personalidades, sejam quais forem.
O PCB fica com Cuba e o socialismo!
O PCB fica contra o imperialismo!
PCB – Partido Comunista Brasileiro
Comitê Central – abril de 2010


Comentário de Blasco Miranda de Ourofino sobre a resposta do PCB dada ao LQI

Prezados companheiros

Muito bom e feliz o artigo "Defender a Revolução Cubana é uma questão de Princípio". Não poderia ser outra a posição de nosso partido. São decisões como esta que estão nos levando ao crescimento, simpatia e respeito do povo de nosso país. Estamos honrando o nosso passado. Temos entretanto uma correção que julgamos necessária se fazer, pois nosso partido nesta fase de difícil reconstrução não pode compactuar e nem aceitar as nefastas organizações trotkistas que tantos prejuízos tem causado ao movimento revolucionário mundial, conseguindo através de suas representantes tipo PSTU, PSol e outros grupelhos irresponsáveis, iludir grande parte de nossa juventude com mentiras principalmente sobre a história da gloriosa Revolução de Outubro através de falsas e inverídicas interpretações da mesma. Não podemos nos esquecer o quanto o movimento Trotkista tem contribuído para entusiasmar e iludir nossa juventude com as publicações de artigos e livros romanceados e personalistas do traidor Trotski. Não se esqueçam os companheiro que estes livros e artigos estiveram cuidadosamente arquivados durante anos em Harvard no país da CIA e em Amstnerdam, que foi no século passado o centro mundial do sionismo. Nosso partido tem sim que combatê-los, denunciá-los como forças retrogradas e traidoras do Socialismo. Lembremos que foram os Trotkistas, na 2ª Guerra Mundial lá em França os organizadores de brigadas para combater a União Soviética, só não o conseguindo realizar o intento, por impedição do próprio governo colaboracionista de Vichy. Qualquer um sabe e principalmente nós comunistas devemos ter bem claro que os Trotkistas sempre foram anticomunistas e anti União Soviética. Os Trotkstas entraram em delírio quando Kruschov iniciou o derrubamento da pátria socialista, dando vazão ao seu antiestalinismo doentio e contribuíram ativamente com Brejenev, e Gorbachov na terrível traição perpetrada contra o os trabalhadores de todo o mundo. Os Trotkistas deram apoio declarado e exagerado ao pelego sindical Lesch Valessa, que a serviço da CIA e do Vaticano ajudou a derrubar o governo socialista da Polonia. Os Trotkistas organizaram na Ucrânia, com ajuda das forças nazista de ocupação um governo provisório para substituir Stalin o comandante em chefe do vitorioso Exército Soviético, exército este que após a vitória de Stalingrado conseguiu derrotar as forças nazistas e vencer a 2ª Guerra Mundial. Condenaram a ocupação soviética da Checo Eslováquia em solidariedade ao povo checo e seu governo socialista aos 28 de Agosto de l968, pois para eles trotkistas os soviéticos estavam acabando com uma das experiências mais ricas de luta pela liberdade e autonomia. No caso da Hungria também entraram no mesmo delírio apregoando aos quatro ventos que o povo com o levante em 23 de Ourubro de 1956 estava lutando contra a opressão stalinista do governo soviético sobre o governo húngaro, esquecendo-se que Stalin já havia falecido em 1953 e que em fevereiro de 1956 ( seis meses antes do levante húngaro) no Famigerado XX Congresso do PCUS o traidor Kruschov já havia iniciado o processo de desestalinizaçaõ. Kruschov era Stalinista? São os Trotkistas que hoje estão combatendo os governos do Vietnam, Coréia do Norte, China e Cuba, alegando que nestes paises não há liberdade de imprensa, de ir e vir e entre outras idiotices, alegam falta de eleições livres e democráticas. Em seu livro sobre a guerrilha na Bolívia Bernardo Pericas cita entrevista de Che Guevara em que o mesmo falando sobre Hugo Blanco ,combativo guerrilheiro peruano, diz que o mesmo nunca chegaria a lugar nenhum,mesmo sendo muito dedicado á guerrilha peruana, por ter formação formação trotkista. Realmente o mesmo abandonou a guerrilha e foi ser deputado federal em seu país. Nestes 89 anos ( desde 1929, ano da expulsão do traidor Trotski) de trotkismo alguém pode citar alguma Revolução, mesmo não vitoriosa, feita pelos trotkistas? Bem camaradas, daria para escrever um livro sobre os prejuízos causados á luta pelo Socialismo, causado pelas organizações Trotkistas. Por este motivo não concordamos com a ressalva que o Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro faz, quando diz: A posição que o Comitê Central do PCB aqui expõe não tem qualquer sentido antitrotskista, só porque aquela liga se reivindica, arrogantemente, a única referência mundial contemporânea do legado de Trotsky. A grande maioria das organizações e personalidades que têm a mesma referência teórica, no Brasil e no mundo, combatem veementemente as posições internacionais deste grupo, que só trazem prejuízos à luta do proletariado.
São os trotkistas sim,em suas diversas ramificações de grupelhos partidários bem articulados ou em organizações de estudo que estão a anos dificultando a organização popular contra o imperialismo, pois os mesmo estão e sempre estiveram a serviço das forças mais reacionária, divisionistas e reformistas. A luta anti trotkista deve ser assumida abertamente. Não há meio termo. Só se engana quem quiser ser enganado e o PCB deve se defender de qualquer iinfiltração ou ingerência de traidores em nosso glorioso partido. AtenciosamenteBlasco Miranda de OurofinoPCB em BrasíliaMédico aposentado


http://blascomiranda.blogspot.com/

terça-feira, 4 de maio de 2010

CRIMES DE GUERRA ESTADUNIDENSES

UM DOS CENTENAS CRIMES DE GUERRA COMETIDOS PELOS ESTADOS UNIDOS ATRAVÉS DOS TEMPOS

30/04/2010 | Breno Altman | My Lai

My Lai, o massacre que marcou a guerra


O vilarejo de Son Ly, na província de Quang Ngai, na região central do Vietnã, é de difícil acesso. Poucos turistas incluem esse povoado em seus planos de viagem. Quem vem para essa zona do país prefere os belos resorts de Da Nang, com seus campos de golfe, ou a bela cidade de Hoi An, declarada patrimônio histórico pela Unesco.

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A estrada estreita e pedregosa que parte de Da Nang é percorrida por poucos estrangeiros. Possivelmente apenas por aqueles que resolveram prestar uma homenagem ou simplesmente conhecer o cenário de um dos mais bárbaros crimes de guerra.


Os escombros da aldeia, preservados pelo Memorial, resgatam as cenas da destruição A cidade de Son Ly é dividida em diversas aldeias.
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Atualmente, no lugar do massacre, fica o Memorial a My Lai. Além de um museu com fotos e imagens, os escombros da aldeia foram reconstruidos para que o visitante saiba onde está pisando. Pode-se ver as choupanas queimadas. As pisadas dos soldados norte-americanos e dos pequenos vietnamitas no cimento. Os animais mortos. As habitações simples em que os camponeses viviam.

Uma estátua de concreto homenageia os caídos. Um mural semelhante ao quadro Guernica, de Pablo Picasso, faz pensar como My Lai foi uma atrocidade parecida com a do bombardeio nazi-fascista sobre a cidade espanhola, durante a Guerra Civil entre 1936-1939.

A cidade de Son Ly é dividida em diversas aldeias. Uma delas atende pelo nome de My Lai. Ali, no dia 16 de março de 1968, tropas norte-americanas mataram entre 347 (versão do agressor) e 504 civis desarmados (segundo o cálculo vietnamita). A maioria era de velhos, mulheres e crianças. Não foram bombas ou mísseis sem rumo. A chacina foi realizada com fuzis e metralhadoras. A sangue frio. Olho no olho.

A operação, conduzida pela Companhia Charlie, célula da 23ª Divisão de Infantaria dos EUA, foi planejada para responder aos ataques e baixas sofridos pelos norte-americanos dois meses antes, durante a chamada Ofensiva do Tet (o ano novo vietnamita). Seu serviço de inteligência tinha identificado que o 48º Batalhão da Frente Nacional de Libertação, atuante na província, teria encontrado refúgio nas aldeias de Son Ly.

A ordem do coronel Oran K. Henderson, comandante do 11º Brigada de Infantaria, foi expressa: “Entrem agressivamente. Encontrem o inimigo e o destruam”. O tenente-coronel Frank A. Barker repassou a ordem ao 1º Batalhão, ao qual se subordinava a Companhia Charlie, determinando que as casas dos moradores fossem queimadas, seus estoques de comida e poços d’água destruídos, seu rebanho aniquilado.


Corpos dos moradores de My Lai jogados à beira da estrada: massacre vitimou cerca de 500 civis. Foto de Ronald L. Baeberle, do exército norte-americano
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Coube ao capitão Ernest Medina, chefe da Companhia, dar o comando final, atendendo seus superiores. Seu raciocínio foi de uma terrível simplicidade: “Todos os habitantes das aldeias saem para o mercado às 7h. Quem não tiver saído é vietcong escondido e deve ser liquidado”. Um de seus subordinados perguntou se sua ordem incluía idosos, mulheres e crianças. Medina repetiu sua ordem anterior.

Essas declarações constam do processo que investigou o que ocorreu em My Lai. A Companhia Charlie entrou em Son Ly apoiada por uma pequena artilheria e alguns helicópteros. O primeiro pelotão, liderado pelo segundo-tenente William Calley, determinou a seus homens que atirassem contra tudo que se mexesse. Começava a chacina de My Lai.

Outros dois pelotões se juntaram ao massacre. Além de My Lai, também a aldeia vizinha de My Khe foi atacada. Um piloto de helicóptero, Hugh Thompson, viu parte da chacina quando sobrevoava o local. Corpos de mulheres e crianças estavam no solo, alguns ainda com vida. Nenhum combatente inimigo.

Pousou sua aeronave e pediu a um dos soldados, David Mitchell, sargento do primeiro pelotão, que o ajudasse a retirar os feridos da fossa na qual estavam jogadas. A resposta foi que ele o ajudaria a “mandá-los para o inferno”. Chocado, Thompson procurou Calley. Foi rechaçado pelo tenente, que dizia aos gritos estar cumprindo ordens.

O piloto resolveu levantar voo, não sabia o que fazer. Foi a principal testemunha contra os responsáveis diretos pela chacina.

Um fotógrafo do próprio exército dos Estados Unidos, Ronald L. Haeberle, tirou as fotos que chocariam o mundo. Depois de passar para a reserva, vendeu os negativos para um pequeno jornal de Cleveland, Estado de Ohio, chamado The Plain Dealer, que as publicou em novembro de 1969. No mês seguinte a revista Life reproduziria as fotos.

O primeiro relatório sobre My Lai noticiava a morte de 128 guerrilheiros vietnamitas e 22 civis durante ”combate feroz”. Os oficiais encarregados da ação foram cumprimentados pelo general William C. Westermoreland.

O massacre só não foi varrido para debaixo do tapete porque um soldado da Companhia Charlie, Ron Ridenhour, que não participou da operação, escreveu uma carta ao presidente da República e membros do Parlamento norte-americano.

Um ano depois do genocídio, uma investigação foi aberta. O exército tentou esconder o quanto pode os acontecimentos de My Lai. Mas o escândalo veio a público e foi determinante para a escalada da mobilização contra a guerra. Além das crescentes perdas humanas, que abalavam a sociedade norte-americana, tinha ido para o fundo do poça a credibilidade dos senhores das armas.

Vários oficiais foram processados. Mas apenas William Calley foi condenado. Saiu da corte marcial com uma sentença de prisão perpétua. No dia seguinte à condenação, o presidente Richard Nixon determinou que cumprisse sua pena em prisão domiciliar, dentro do Forte Benning, enquanto corresse sua apelação. A sentença original foi comutada para 20 anos, depois para dez.

Mas Calley cumpriria pouco mais de três anos por sua participação em My Lai.



CRIMES DE GUERRA DOS ESTADUNIDENSES

VIETNÃ COMEMORA VITÓRIA SOBRE O GENOCIDAS ESTADUNIDENSES


Ainda amanhecia quando milhares de vietnamitas, organizados em colunas, começaram a se aproximar do Parque 30 de Abril, diante do antigo palácio presidencial, na cidade de Ho Chi Minh. Sindicatos, universidades, fábricas e organizações camponesas enviaram suas delegações, além das forças armadas. Respondiam à convocação para a manifestação que celebraria o triunfo do Vietnã socialista contra o governo de Saigón (velho nome da cidade) e seus aliados norte-americanos.


Vietnamitas festejam os 35 anos do fim da guerra durante manifestação em Ho Chi Minh. Veja mais fotos do evento aqui

Não foi um comício de tipo ocidental. O horário já era extravagante. Todos estavam avisados que as atividades começariam pontualmente às 6h30 e estariam encerradas três horas depois, antes que o calor alucinante de Ho Chi Minh vencesse o dia. Quem ocupava as arquibancadas armadas no caminho central do parque eram as autoridades e os convidados. Os cidadãos, com seus agrupamentos, foram os responsáveis pelo espetáculo.

Poucos discursos, apenas quatro – e religiosamente cronometrados. O primeiro secretário do Partido Comunista do município falou por 20 minutos. Depois vieram o presidente da Associação dos Veteranos de Guerra, o secretário-geral da federação sindical local e o presidente da Juventude Comunista de Ho Chi Minh – cada qual com direito a 10 minutos de discurso. O presidente da República, Nguyen Minh Triet, 68, um sulista que teve participação discreta na guerra e está no cargo desde 2006, apenas assistiu, junto com outros dirigentes.
Aproximadamente 50 mil pessoas desfilaram diante das tribunas. Grupos teatrais representaram momentos da guerra de 21 anos contra os norte-americanos e o então Vietnã do Sul. Muita música, até com um pouco de ritmo pop, além dos acordes previsíveis da Internacional (o histórico hino socialista) e de canções revolucionárias. Depois, uma longa marcha, com militares, trabalhadores, mulheres, intelectuais, estudantes, camponesesm com suas faixas e bandeiras, além de modestas coreografias.

Mas a maior emoção estava no rosto dos veteranos de guerra. Um deles era o coronel Nguyen Van Bach, de 74 anos, cabelos inteiramente brancos. Nascido na província de Binh Duong, no sul do país, integrou-se à luta armada em 1947, aos 11 anos. Ainda era a época da guerra contra os franceses, que não aceitavam a independência conquistada em 1945, sob a liderança do líder comunista Ho Chi Minh.


Van Bach ainda combatia no final de abril de 1975. Fazia parte das tropas guerrilheiras. Estava em um destacamento que já controlava a cidade de Tan An, na província de Long An, localizada no delta do rio Mekong. Foi lá que soube da queda de Saigon nas mãos de seus camaradas. “Tive uma alegria tão grande que provocava lágrimas”, lembra-se. Ainda se emociona, como vários de seus amigos, quando se recorda dessa data.

Afinal, no dia 30 de abril de 1975, encerravam-se mais de 30 anos de guerra regular ininterrupta. Desde que fora formado o primeiro pelotão da guerrilha comunista, em dezembro de 1944, sob o comando de Vo Nguyen Giap, braço direito de Ho Chi Minh, os vietnamitas enfrentaram sucessivamente invasores japoneses, franceses e norte-americanos.

Colonia francesa desde 1856, o Vietnã foi ocupado pelas tropas nipônicas durante a Segunda Guerra Mundial. Os comunistas assumiram a linha de frente na luta contra os soldados de Hiroito, aproveitando o colapso de Paris às voltas com a ocupação nazista. Lideraram uma frente de várias correntes políticas, denominada Vietminh, e declararam a independência do país depois da capitulação japonesa, em agosto de 1945. No dia 2 de setembro do mesmo ano nascia a República Democrática do Vietnã.

Guerra da Indochina

O general De Gaulle, presidente da França, assim que viu derrotado o nazismo, ordenou que suas tropas sufocassem os rebeldes vietnamitas. Foram oito anos de sangrentos combates. Os homens de Ho Chi Minh e Giap organizaram uma poderosa resistência guerrilheira, que progressivamente aterrorizou e desgastou os franceses. Mais de 90 mil gauleses perderam a vida nos campos de batalha.

A estocada final contra os colonizadores foi em 1954. Ficou conhecida como a batalha de Dien Bien Phu, uma região no noroeste do Vietnã, perto da fronteira com o Laos. Os franceses imaginavam-se invulneráveis nessa posição estratégica, da qual planejavam sua contra-ofensiva a partir de uma grande concentração de recursos humanos e materiais. Mas o Vietminh, através de trilhas na selva e túneis, foi cercando o local sem ser percebido.


Carro alegórico homenageia o ex-presidente Ho Chi Minh (1890-1969), líder histórico do país. Veja mais fotos do evento
Depois de oito semanas, entre 13 de março e 7 de maio, as tropas do general Christian De Castries estavam destruídas e desmoralizadas. Foi o derradeiro capítulo da chamada Guerra da Indochina. Os franceses, derrotados, aceitaram as negociações que levariam aos acordos de Genebra, em 1954. Pelos termos desse tratado, o Vietnã ficaria provisoriamente dividido em dois, ao norte e ao sul do paralelo 17. Mas eleições gerais teriam lugar em 1956 para reunificar o país.

Quando se consolidaram as perspectivas de vitória eleitoral comunista, os grupos conservadores chefiados pelo católico Ngo Dinh Diem deram um golpe de Estado no sul e cancelaram as eleições. Os Estados Unidos, que já tinham sido os principais financiadores das operações francesas, assumiram a defesa do regime de Saigon. Forneceram, a princípio, recursos, armas e assessores militares.

Guerra do Vietnã

Os comunistas reagiram e lideraram, a partir de 1960, um levante popular e guerrilheiro contra Diem, articulado pela Frente de Libertação Nacional com o apoio do norte. Os norte-americanos, diante da fragilidade de seus aliados, enviaram tropas para defendê-los. Era o início da Guerra do Vietnã.

A participação direta dos Estados Unidos durou até 1973. Acabaram asfixiados e quebrados como os franceses. “A supremacia deles era tecnológica”, recorda outro veterano, o general Do Xuan Cong, 72. “Mas o armamento deles era para guerra à distância, com aviões, foguetes e bombas. Nós reduzimos o espaço, forçamos o combate no quintal de suas tropas. As armas modernas não tiveram serventia nem substituíram sua falta de moral para a luta”.

A casa começou a cair depois da chamada Ofensiva do Tet (o ano novo vietnamita), em 1968, quando as forças guerrilheiras atacaram dezenas de objetivos ao mesmo tempo, incluindo a própria embaixada norte-americana em Saigon. A Casa Branca já tinha mais de 500 mil homens em combate. A sociedade estrilava com as mortes, derrotas e mentiras.

Militares apresentam armas diante da tribuna da manifestação, em Ho Chi Minh. Veja mais fotos do evento
Os EUA, durante os quatro anos seguintes, despejaram uma quantidade de bombas superior a que foi empregada em todas as batalhas da Segunda Guerra Mundial. No final de 1972 submeteram Hanói a 12 dias e noites de terror. Utilizaram armas químicas para destruir a capacidade alimentar dos vietnamitas e anular as forças guerrilheiras. Mas suas tropas estavam cada vez mais tomadas pelo medo e incapazes de defender suas posições territoriais.

Derrota norte-americana

Washington se viu forçado às negociações de Paris, que levariam à retirada de seus soldados em 1973. O regime de Saigon ficou por sua própria conta. Não permaneceu de pé por muito tempo. Em 1975, o Vietnã reconquistava sua unidade nacional e os comunistas venciam a mais duradoura guerra do século 20.

Os mortos vietnamitas, civis e militares, chegaram a três milhões, contra apenas 50 mil “sobrinhos” do tio Sam. Dois milhões de cidadãos, incluindo filhos e netos da geração do conflito, padecem de alguma deformação genética provocada pela dioxina, subproduto cancerígeno presente no agente laranja, fartamente empregado pelos norte-americanos. Além das perdas humanas, a economia do país foi quase levada à idade de pedra, como preconizava o general norte-americano Curtis LeMay.

Mas quem desfila a vitória, ainda assim, é o Vietnã. Os norte-americanos foram ocupar o mesmo lugar na galeria de fotos que japoneses e franceses, para não falar dos chineses: o de agressores colocados para correr. “Nossa estratégia se baseou em uma ideia simples: a da guerra de todo o povo”, enfatiza o general Cong. “Não havia um centímetro de nosso território no qual os norte-americanos podiam ficar tranquilos. Eles perderam para o medo.”

Essas são águas passadas, porém. Das quais ficam lições, estímulos e valores, é certo, além de grandes livros, fotos e filmes. Mas não resolvem os desafios da paz. Os vietnamitas, nesses 35 anos, tiveram que cuidar de outro problema, para o qual a guerrilha e seus inventos não eram solução. Como alimentar e desenvolver uma nação tão pobre e destruída? Essa é a outra história do Vietnã indomável.

Nesta semana, a partir de hoje (30/4), Opera Mundi publica uma série de reportagens especiais sobre como está o Vietnã e como vivem os vietnamitas após 35 anos do fim da guerra.

HA 80 ANOS A IMPRENSA IMPERIALISTA E O TROTKISMO TENTAM DESTRUIR A FIGURA DO GRANDE REVOLUCIONÁRIO STALIN

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Os cartazes de Stálin devem decorar as ruas de Moscou?



O prefeito da capital russa tomou uma decisão que está dividindo o país, às vésperas das comemorações do 65º aniversário da vitória sobre o exército nazista. O administrador resolveu colocar, como parte das ilustrações da marcha que celebrará a data histórica, dez painéis com imagens de Stálin.

Breno Altman

O prefeito da capital russa, Iuri Luzhkov, tomou uma decisão que está dividindo o país, às vésperas das comemorações, no dia 9 de maio, do 65º. aniversário da vitória sobre o exército nazista. O administrador, integrante do partido situacionista Rússia Unida, resolveu colocar, como parte das ilustrações da marcha que celebrará a data histórica, dez grandes painéis com imagens de Stálin, dirigente do país quando os alemães foram batidos.

Ao atender, com sua polêmica iniciativa, à insistente reivindicação da associação dos veteranos de guerra, provocou duras reações. Tanto setores políticos hostis à experiência soviética quanto organizações de direitos humanos protestaram, denunciando desrespeito às vítimas do período staliniano. Luzhkov, ele próprio ácido em suas opiniões sobre o antigo líder comunista, rechaçou as críticas: “Pretende-se livrar a história de um importante nome, ligado à etapa que foi, provavelmente, a mais dramática na história do país. Estou contra isso.”

O tema é delicado por vários motivos. Talvez a mais destacada dessas razões seja porque o papel de Stálin na 2ª. Guerra Mundial (ou Grande Guerra Patriótica, como a chamam os russos, preservando denominação reinante na velha URSS) se constitua no calcanhar de Aquiles da longa política de demonização do chefe soviético. Afinal, se continuasse a receber votos de respeito e admiração pelo protagonismo no combate ao nazismo, seu retrato como vilão dos povos não ficaria de pé. No mínimo, as apreciações acerca de sua trajetória teriam que ser mais equilibradas e contextualizadas.

Seu enorme prestígio no imediato pós-guerra, dentro e fora da União Soviética, irradiava-se até pelos meios de comunicação dos países capitalistas. Naquele então, era patente que as forças hitleristas tinham sido derrotadas fundamentalmente pelo Exército Vermelho, sob o comando estrito do georgiano que sucedera a Lênin. A deflagração da Guerra Fria, porém, exigia que esse registro no imaginário social fosse destruído, transformando o herói comunista em um bandido sórdido, cuja participação no conflito mundial teria sido errática e coadjuvante.

Ao campo norte-americano e suas agências diretas ou disfarçadas interessava alimentar a teoria dos dois demônios. O sinal de equivalência entre o dirigente soviético e o ditador alemão, afinal de contas, favorecia a falsificação destinada a apresentar as nações sob democracia liberal como o esteio da vitória contra o nazismo e, portanto, legitimadas para continuar o combate contra o autoritarismo de esquerda.

O indispensável livro “Stálin, a construção de um mito negro”, do italiano Domenico Losurdo, que deverá ser publicado pela Editora Revan nos próximos meses, apresenta uma preciosa pesquisa de como se articulou a máquina propagandística destinada a reescrever páginas da guerra na lógica do combate ao “império do mal” e seu líder máximo. E de como amplos setores de esquerda, às voltas com disputas internas ou intimidados pela ofensiva conservadora, também acabaram intoxicados pelo mesmo revisionismo histórico e viraram seus co-patrocinadores.

O problema orgânico desse discurso, no entanto, nunca foi solucionado. Como seria possível, de forma consistente, apresentar Stálin como um tirano que a tudo e a todos controlava, mas que no momento mais decisivo teria se transformado em um joguete dos militares? Aliás, dos mesmo oficiais que são descritos em inúmeros livros não-comunistas como eternamente amedrontados pelas atitudes do secretário-geral comunista, que teria liquidado fisicamente o núcleo duro do Exército Vermelho, às vésperas da guerra, para poder exercer a regência inconteste sobre as forças armadas soviéticas.

Faz tanto sentido essa argumentação, que defende a submissão de Stálin a seus oficiais, quanto qualquer abordagem sobre as guerras napoleônicas que anulasse a participação de seu patronímico. Ou sobre as batalhas de independência da América hispânica que eludisse o papel de Bolívar. Ou sobre as guerras púnicas que escapasse de dar devida importância à intervenção de Scipião na destruição de Cartago.

As memórias de Roosevelt e Churchill, além das investigações realizadas nos arquivos russos após o colapso soviético, para ficarmos apenas em algumas fontes, são claras ao afirmar que Stálin exercia a liderança absoluta, tirânica, sobre os movimentos de suas tropas, muitas vezes contra a opinião dos generais de seu estado-maior.

O ex-presidente norte-americano chegou a revelar sua estupefação com o fato do líder comunista participar das conferências mundiais durante a guerra ao lado de apenas dois ou três assessores, com controle irreparável dos dados de combate, enquanto a delegação dos Estados Unidos e a inglesa eram compostas por dezenas de integrantes, de sorte a permitir que seus chefes políticos tivessem informações competitivas sobre o teatro de operações.

O mais importante, porém, é a memória social dos acontecimentos – também resgatada em numerosos documentos e estudos. Os guerrilheiros e soldados aprisionados pelos nazistas, às vésperas de seu fuzilamento, escreviam cartas às famílias brindando seu próprio sacrifício e enaltecendo a liderança de Stálin. Milhares e milhares de depoimentos relembram o efeito moral do chefe soviético ter decidido manter, em 1941, o tradicional desfile do 7 de novembro, aniversário da revolução bolchevique, mesmo em meio ao bombardeio da artilharia alemã às portas de Moscou. São registros de uma guerra de caráter popular, que mobilizou todas as energias, civis e militares, sob uma clara voz de comando.

A onda revisionista, no entanto, chegou ao ponto de trocar o nome da cidade na qual se travou a mais importante e heróica batalha contra o nazismo: Stalingrado, ainda nos anos 60, passou a se chamar Volgogrado. No curso da restauração capitalista dos anos 90, os últimos símbolos e homenagens também foram eliminados. Mas a pressão dos veteranos e outras camadas sociais sobre a administração moscovita, nesses últimos meses, parece revelar o relativo fracassso de se combater Stalin através de métodos outrora classificados como... stalinistas.

Não é o caso de se contrapor a violação da verdade histórica com uma imagem cândida e igualmente falsa sobre o homem que governou o primeiro Estado socialista durante trinta anos. Seria tão absurdo como aceitar que o contraponto ao culto à personalidade pudesse ser a vilanização de um líder dessa envergadura.

Stálin foi ator em uma época de extrema polarização. Seu período de liderança foi exercido praticamente o tempo todo em situação de guerra, civil ou externa, quando a violência era instrumento inalienável de todas as forças políticas, que se jogavam em batalhas de vida ou morte, triunfo ou aniquilamento. No curso de sua estratégia para modernizar o país, derrotar as antigas classes dirigentes, consolidar a hegemonia interna e romper o cerco montado pelos governos capitalistas, muitos crimes foram cometidos e vítimas inocentes, incluindo provados dirigentes bolcheviques, perderam sua vida e honra.

Representava o projeto de uma ditadura revolucionária, com seus feitos e inegáveis deformações. Seu grande legado, porém, segundo o insuspeito historiador trotsquista Isaac Deutscher, foi ter herdado um país que vivia na era do arado de madeira e tê-lo entregue às gerações futuras, em menos de trinta anos, como uma potência atômica. Seu sistema autocrático de governo, que tampouco foi sempre o mesmo e passou por tentativas aberturistas, construiu também o doloroso caminho para gerar e controlar os recursos que permitiram a mais rápida e ampla expansão de direitos sociais da qual se tem notícia.

Esse artigo, de toda forma, não se presta a um balanço do que foi a trajetória do controvertido líder soviético. A questão é repor um fato histórico, apenas isso. Se a algum dirigente em particular a humanidade deve a liquidação do nazismo, esse homem atende pelo nome de Josef Stálin. A ele coube, a despeito de seus erros e sangrentos delitos, o comando do exército e da pátria que quebraram a coluna vertebral das tropas de Hitler.

Breno Altman é jornalista, diretor do site Opera Mundi (www.operamundi.com.br)


O prefeito da capital russa tomou uma decisão que está dividindo o país, às vésperas das comemorações do 65º aniversário da vitória sobre o exército nazista. O administrador resolveu colocar, como parte das ilustrações da marcha que celebrará a data histórica, dez painéis com imagens de Stálin.

Breno Altman

O prefeito da capital russa, Iuri Luzhkov, tomou uma decisão que está dividindo o país, às vésperas das comemorações, no dia 9 de maio, do 65º. aniversário da vitória sobre o exército nazista. O administrador, integrante do partido situacionista Rússia Unida, resolveu colocar, como parte das ilustrações da marcha que celebrará a data histórica, dez grandes painéis com imagens de Stálin, dirigente do país quando os alemães foram batidos.

Ao atender, com sua polêmica iniciativa, à insistente reivindicação da associação dos veteranos de guerra, provocou duras reações. Tanto setores políticos hostis à experiência soviética quanto organizações de direitos humanos protestaram, denunciando desrespeito às vítimas do período staliniano. Luzhkov, ele próprio ácido em suas opiniões sobre o antigo líder comunista, rechaçou as críticas: “Pretende-se livrar a história de um importante nome, ligado à etapa que foi, provavelmente, a mais dramática na história do país. Estou contra isso.”

O tema é delicado por vários motivos. Talvez a mais destacada dessas razões seja porque o papel de Stálin na 2ª. Guerra Mundial (ou Grande Guerra Patriótica, como a chamam os russos, preservando denominação reinante na velha URSS) se constitua no calcanhar de Aquiles da longa política de demonização do chefe soviético. Afinal, se continuasse a receber votos de respeito e admiração pelo protagonismo no combate ao nazismo, seu retrato como vilão dos povos não ficaria de pé. No mínimo, as apreciações acerca de sua trajetória teriam que ser mais equilibradas e contextualizadas.

Seu enorme prestígio no imediato pós-guerra, dentro e fora da União Soviética, irradiava-se até pelos meios de comunicação dos países capitalistas. Naquele então, era patente que as forças hitleristas tinham sido derrotadas fundamentalmente pelo Exército Vermelho, sob o comando estrito do georgiano que sucedera a Lênin. A deflagração da Guerra Fria, porém, exigia que esse registro no imaginário social fosse destruído, transformando o herói comunista em um bandido sórdido, cuja participação no conflito mundial teria sido errática e coadjuvante.

Ao campo norte-americano e suas agências diretas ou disfarçadas interessava alimentar a teoria dos dois demônios. O sinal de equivalência entre o dirigente soviético e o ditador alemão, afinal de contas, favorecia a falsificação destinada a apresentar as nações sob democracia liberal como o esteio da vitória contra o nazismo e, portanto, legitimadas para continuar o combate contra o autoritarismo de esquerda.

O indispensável livro “Stálin, a construção de um mito negro”, do italiano Domenico Losurdo, que deverá ser publicado pela Editora Revan nos próximos meses, apresenta uma preciosa pesquisa de como se articulou a máquina propagandística destinada a reescrever páginas da guerra na lógica do combate ao “império do mal” e seu líder máximo. E de como amplos setores de esquerda, às voltas com disputas internas ou intimidados pela ofensiva conservadora, também acabaram intoxicados pelo mesmo revisionismo histórico e viraram seus co-patrocinadores.

O problema orgânico desse discurso, no entanto, nunca foi solucionado. Como seria possível, de forma consistente, apresentar Stálin como um tirano que a tudo e a todos controlava, mas que no momento mais decisivo teria se transformado em um joguete dos militares? Aliás, dos mesmo oficiais que são descritos em inúmeros livros não-comunistas como eternamente amedrontados pelas atitudes do secretário-geral comunista, que teria liquidado fisicamente o núcleo duro do Exército Vermelho, às vésperas da guerra, para poder exercer a regência inconteste sobre as forças armadas soviéticas.

Faz tanto sentido essa argumentação, que defende a submissão de Stálin a seus oficiais, quanto qualquer abordagem sobre as guerras napoleônicas que anulasse a participação de seu patronímico. Ou sobre as batalhas de independência da América hispânica que eludisse o papel de Bolívar. Ou sobre as guerras púnicas que escapasse de dar devida importância à intervenção de Scipião na destruição de Cartago.

As memórias de Roosevelt e Churchill, além das investigações realizadas nos arquivos russos após o colapso soviético, para ficarmos apenas em algumas fontes, são claras ao afirmar que Stálin exercia a liderança absoluta, tirânica, sobre os movimentos de suas tropas, muitas vezes contra a opinião dos generais de seu estado-maior.

O ex-presidente norte-americano chegou a revelar sua estupefação com o fato do líder comunista participar das conferências mundiais durante a guerra ao lado de apenas dois ou três assessores, com controle irreparável dos dados de combate, enquanto a delegação dos Estados Unidos e a inglesa eram compostas por dezenas de integrantes, de sorte a permitir que seus chefes políticos tivessem informações competitivas sobre o teatro de operações.

O mais importante, porém, é a memória social dos acontecimentos – também resgatada em numerosos documentos e estudos. Os guerrilheiros e soldados aprisionados pelos nazistas, às vésperas de seu fuzilamento, escreviam cartas às famílias brindando seu próprio sacrifício e enaltecendo a liderança de Stálin. Milhares e milhares de depoimentos relembram o efeito moral do chefe soviético ter decidido manter, em 1941, o tradicional desfile do 7 de novembro, aniversário da revolução bolchevique, mesmo em meio ao bombardeio da artilharia alemã às portas de Moscou. São registros de uma guerra de caráter popular, que mobilizou todas as energias, civis e militares,
sob uma clara voz de comando.

A onda revisionista, no entanto, chegou ao ponto de trocar o nome da cidade na qual se travou a mais importante e heróica batalha contra o nazismo: Stalingrado, ainda nos anos 60, passou a se chamar Volgogrado. No curso da restauração capitalista dos anos 90, os últimos símbolos e homenagens também foram eliminados.
Mas a pressão dos veteranos e outras camadas sociais sobre a administração moscovita, nesses últimos meses, parece revelar o relativo fracassso de se combater Stalin através de métodos outrora classificados como... stalinistas.

Não é o caso de se contrapor a violação da verdade histórica com uma imagem cândida e igualmente falsa sobre o homem que governou o primeiro Estado socialista durante trinta anos. Seria tão absurdo como aceitar que o contraponto ao culto à personalidade pudesse ser a vilanização de um líder dessa envergadura.

Stálin foi ator em uma época de extrema polarização.
Seu período de liderança foi exercido praticamente o tempo todo em situação de guerra, civil ou externa, quando a violência era instrumento inalienável de todas as forças políticas, que se jogavam em batalhas de vida ou morte, triunfo ou aniquilamento. No curso de sua estratégia para modernizar o país, derrotar as antigas classes dirigentes, consolidar a hegemonia interna e romper o cerco montado pelos governos capitalistas, muitos crimes foram cometidos e vítimas inocentes, incluindo provados dirigentes bolcheviques, perderam sua vida e honra.

Representava o projeto de uma ditadura revolucionária, com seus feitos e inegáveis deformações. Seu grande legado, porém, segundo o insuspeito historiador trotsquista Isaac Deutscher, foi ter herdado um país que vivia na era do arado de madeira e tê-lo entregue às gerações futuras, em menos de trinta anos, como uma potência atômica. Seu sistema autocrático de governo, que tampouco foi sempre o mesmo e passou por tentativas aberturistas, construiu também o doloroso caminho para gerar e controlar os recursos que permitiram a mais rápida e ampla expansão de direitos sociais da qual se tem notícia.

Esse artigo, de toda forma, não se presta a um balanço do que foi a trajetória do controvertido líder soviético. A questão é repor um fato histórico, apenas isso.
Se a algum dirigente em particular a humanidade deve a liquidação do nazismo, esse homem atende pelo nome de Josef Stálin. A ele coube, a despeito de seus erros e sangrentos delitos, o comando do exército e da pátria que quebraram a coluna vertebral das tropas de Hitler.

Breno Altman é jornalista, diretor do site Opera Mundi (www.operamundi.com.br)