sexta-feira, 11 de maio de 2007

INOCENTES FRAUDES; MERCADO E DEMOCRACIA

Inocentes fraudes : mercado e democracia

Rui Nogueira


Galbraith, economista americano, pouco antes de falecer, publicou um livro intitulado “A economia das fraudes inocentes” no qual relata o controle que as grandes corporações financeiras exercem sobre os meios de comunicação. Tal fato determina que, ao contrário do divulgado, o consumidor não seja mais o “rei do mercado” capaz de direcionar o sistema pelo seu poder (falso) de comprar ou rejeitar produtos.
O fato, afirma o autor, é que a propaganda controlada pelas transnacionais financeiras induz os consumos.
Com a água é possível compreendermos a manipulação realizada que tira a liberdade do consumidor e coloca o propagado “mercado” mostrando a sua realidade.
Representando 70% do corpo humano, água é o bem essencial da vida, existindo uma tradição universal de não se negar água a ninguém. No Brasil sempre houve este costume tradicional. Hoje, entretanto, atendendo aos interesses das empresas que estão procurando formar um cartel controlador da água está difícil encontrar, nos grandes centros, alguma loja que possa oferecer água ao menos num bebedouro.
Quer água com gás ou sem gás? É a pergunta imediata no instante em que pedimos água. Há nítido objetivo de obter uma venda.
A propaganda já induziu milhões e milhões de pessoas (consumidores) a preferir mistura de água, adoçantes (alguns perigosos) e tintas (corantes e aditivos) no lugar da água pura para matar a sede.
Observem a força da propaganda repetitiva que transforma um consumidor no atendimento de uma necessidade básica naturalmente satisfeita pela água, em compulsivo comprador de água poluída inclusive oferecida aos filhos crianças sem o mínimo de senso crítico ou de prudência.
Ao freqüentar um restaurante, não mais se encontra a jarra com água filtrada gelada. A transnacional não quer, tem que vender o seu produto.
É incrível, nas residências, intensifica-se a compra de garrafões com água, mesmo nas cidades que possuem bons sistemas de abastecimento público.
Nada de usar filtros, potes ou moringas, o moderno é atender a proposição do cartel das águas de matar a sede com água industrializada proporcionando-lhe abusivo lucro.
As transnacionais desvirtuam tudo. Transformam água , um direito fundamental humano, no mesmo nível do direito à vida e à saúde, em “mercadoria”, “commodity” para ser cotada nas bolsas controlados pelo interesse financeiro.
No Brasil, a Constituição de 88 não outorga valor econômico para a água, mas vetaram a tentativa de uma lei estudada e discutida no Congresso e na sociedade para aprovar a 9433 que diz ser a água um bem natural limitado que tem valor econômico. Rasgaram a Constituição, a Carta Magna, para permitir o avanço das transnacionais do cartel das águas em busca do domínio do mercado de água seja na privatização de serviços públicos, seja nas águas engarrafadas.
Nisto aparece o motivo para muita preocupação. Os estudos encontrados no livro “Água a luta do século” mostram que, em todo o mundo, privatização das águas sempre é muito prejudicial para as comunidades, acarretando corrupção, tarifas extorsivas, exclusão dos carentes e mais pobres. Atualmente a privatização só atingiu 10% das comunidades. Na Europa Ocidental somente dois países, França e Reino Unido têm os serviços públicos de água privatizados. O avanço das privatizações preocupa as pessoas humanísticas e de bom senso porque ele se realiza sob uma aliança entre organismos internacionais e corporações financeiras (vide livro “Água luta do século”).
O estudo da realidade revela que as transnacionais abandonam toda e qualquer preocupação com a prestação de serviços e universalização do atendimento para centralizar a atuação nos resultados financeiros e no engolir, devorar todo o fluxo de dinheiro que a prestação de serviços essenciais (água, energia, transporte, comunicação) proporciona por serem indispensáveis.
Temos questionado, com freqüência, o porquê da aceitação e até facilitação das privatizações por alguns políticos. Um grupo de estudos brasileiros nos ofereceu uma resposta difícil de sofrer contestação. As empresas estatais, por lei, não podem financiar campanhas políticas mas as privadas não têm esta restrição. Permitida a entrada de uma concessionária com isenção de impostos e taxas por 30 anos, tendo na mão formidável fluxo de dinheiro, ela não se furtará em financiar as campanhas dos políticos “facilitadores”. Isto representa apoio financeiro para as eleições durante oito legislaturas.
Nesta situação, o político que afrontou e desrespeitou o fato de que não tem “disponibilidade sobre os interesses públicos confiados a sua guarda e realização” (Celso Antônio Bandeira de Mello) consegue eleger até o neto! Traduzindo em miúdos: as transnacionais controlam os mercados, criam consumos do seu interesse e confrontam a democracia, manipulando as eleições e induzindo os eleitores a escolherem os que são mansos e passivos ao proveito deles.
A solução para impedir estas tramitações escusas sempre feitas sem divulgação para a comunidade é exigir a existência de discussão pela obrigatoriedade de haver plebiscito sobre a gestão dos serviços essenciais.
A experiência mundial com a privatização da água, predatória e prejudicial às comunidades, determina a busca do bom senso e a solução humanística que permita a universalização dos serviços essenciais.
É imperioso que haja gestão comunitária.


Rui Nogueira
Médico, pesquisador e escritor
Portal : www.nacaodosol.org
Endereço eletrônico: rui.sol@ambr.com.br

quinta-feira, 10 de maio de 2007

Vitória da União Soviética na segunda guerra mundial sob o comando do chefe supremo STALIN

A UNIÃO SVIÉTICA foi na verdade a Grande vencedora DA segunda guerra mundial. Seu lider e comandante supremo foi STALIN. 30 milhões de soviéticos morreram em defesa DA humanidade. França, inglaterra e EUA apenas ajudaram, pois na realidade queriam a destruição tanto DA Alemanha mas principalmente DA União Soviética. A verdade tem sido muito deturpada.


Pronunciamento de Josef Stalin à nação em 9 de Maio de 1945, Dia DA Vitória DA União Soviética sobre a Alemanha fascista*
Camaradas! Compatriotas!
O Grande dia DA vitória sobre a Alemanha chegou. A Alemanha fascista, derrotada pelo Exército Vermelho e pelas Forças Aliadas, reconheceu sua derrota e anunciou sua rendição incondicional.
No dia 7 de Maio o documento preliminar DA rendição foi assinado na cidade de Rheims. No dia 8 de Maio OS representantes DA Alemanha, na presença do Alto Comando das Forças Aliadas e do Alto Comando das Forças Armadas Soviéticas, assinaram em Berlim a ata final de rendição, que entrou em vigor a partir DA meia-noite do dia 8 de Maio.
Sabendo dos hábitos sujos das autoridades alemãs, que consideram acordos como apenas um pedaço de papel, nós não temos nenhuma base para confiar em suas palavras. Mas, a partir dessa manhã, as tropas alemãs, ao preencherem a ata de rendição, começaram, em escala massiva, a entregar suas armas e suas tropas a nós. Isso não é apenas um pedaço de papel. Essa é a real rendição das Forças Armadas DA Alemanha. Entretanto, um grupo de tropas alemãs na região DA Checoslováquia está ainda se recusando a render-se. Mas eu espero que o Exército Vermelho OS traga logo à realidade.
Agora nós podemos legitimamente anunciar que o histórico dia DA derrota final DA Alemanha chegou. O dia DA Grande vitória DA nossa nação sobre o imperialismo alemão.
O Grande sacrifício que nós tivemos de suportar em Nome DA liberdade e DA independência DA nossa Terra-Mãe, OS incontáveis sofrimentos e perdas que nossa nação sofreu durante a guerra, o duro trabalho que tivemos, tanto no front quanto na retaguarda, nós oferecemos ao altar DA vitória. Não foi em vão e foi coroada com a completa vitória sobre o inimigo. A antiga luta das nações eslovacas para sua existência e independência terminou com vitória sobre OS invasores alemães e sobre a tirania alemã.
De agora em diante, acima DA Europa voará a Grande bandeira de liberdade das nações e Paz entre as nações.
Três anos atrás, Hitler anunciou para todo o mundo que entre suas metas estava a desintegração DA União Soviética, dilacerando com isso o Cáucaso, a Ucrânia, a Bielorússia, as Nações Bálticas e outras regiões. Ele disse abertamente: "Nós destruiremos a Rússia e ela nunca será capaz de se reerguer outra vez". Isso há três anos. Mas as idéias loucas de Hitler não tiveram nenhuma chance de se tornarem realidade. O Progresso DA guerra OS destruiu completamente. De fato, a realidade está completamente contrária aos loucos sonhos de Hitler. A Alemanha está destroçada. As tropas alemãs declararam sua rendição. A União Soviética está celebrando vitória, a despeito do fato de resolutamente não querer nem dividir nem destruir a Alemanha.
Camaradas!
A Grande Guerra Patriótica terminou com nossa completa vitória. Os tempos de guerra na Europa chegaram ao fim. O tempo de desenvolvimento pacífico está começando.
Meus caros compatriotas, eu desejo a vocês tudo de melhor com a vitória!
Glória para o nosso heróico Exército Vermelho, que defendeu a independência DA nossa terra-mãe e derrotou o inimigo!
Glória para a nossa Grande nação, a nação triunfante!
Glória eterna aos heróis que morreram durante a guerra e dream suas vidas para a liberdade e felicidade de nossa nação!
*Texto extraído do jornal soviético Pravda, do dia 10 de Maio de 1945, traduzido do russo.
Nota: A assinatura, pelo Alto Comando nazista, DA Ata de capitulação total e incondicional DA Alemanha fascista foi em 9 de maio de 1945, às 00:43 hs. – Fonte: “Mariscal de la Unión Soviética, Gueorgui Zhukov, Memorias e reflexiones” – Editorial Progreso / Moscú - 1991
Este texto encontra-se em www.cecac.org.br

www.blascomiranda.blogspot.com

Importância de se conhecer as obras de STALIN para a vitória do socialismo..Obras e obras se fabricam contra ele, mas continua cada dia mais vivo.

Maio de 1945: soldado do Exército Vermelho hasteou a bandeira soviética no Reichstag (parlamento alemão)
Nove de maio (i) é a data em que o povo soviético comemora o Dia da Vitória contra o fascismo. Epopéia de um povo que foi o responsável principal pela derrota do nazi-fascismo, sustentando com sacrifícios inauditos o combate às tropas de Hitler. “É indiscutível que o principal peso das lutas contra as forças armadas fascistas recaiu sobre a União Soviética. Foi a mais cruel, sangrenta e dura de todas as guerras que sustentou nosso povo. Basta dizer que mais de 20 milhões de soviéticos morreram durante o conflito.” (ii) Uma vitória do Estado socialista, da União Soviética (URSS), do Exército Vermelho, em uma guerra de todo o povo, dirigida pelo Partido Comunista, e que tinha um líder, o seu principal dirigente, Josef Stalin.
Passados sessenta e dois anos do final da II Guerra Mundial vale refletir sobre a imensa campanha que, há décadas, vem sendo lançada contra a figura de Stalin, na verdade, contra o líder do povo soviético nessa vitória. E não só contra Stalin, mas também contra outras lideranças comunistas, como Lênin, fundador do Partido Comunista da Rússia (Partido Bolchevique) e o seu principal dirigente na revolução de outubro de 1917, e contra Mao Tsetung, destacado líder de uma revolução popular e da derrota contra os invasores japoneses na China.
Contra eles, livros e mais livros são lançados e estampados com destaque nas prateleiras das livrarias. Cabe aqui uma indagação. Se o socialismo acabou, se é uma página virada da história, por que tanta necessidade de caluniar, de se bater contra aqueles que estiveram à frente dos povos que em alguns anos, algumas décadas, abalaram o mundo? Ou melhor, abalaram o domínio imperialista sobre os povos do mundo. Povos que descortinaram um novo horizonte, livre da miséria, da fome, da exploração de uma classe por outra, para um imenso contingente da população no mundo. Países que em poucos anos experimentaram imensos avanços no campo social, da saúde, da educação, da tecnologia e que, com isso, impulsionaram a luta de classes do proletariado e dos povos em todo o mundo e obrigaram os governos dos países imperialistas e, em certos segmentos, também dos países dominados, a “concederem” um “Estado de bem-estar social” a um conjunto de trabalhadores. A possibilidade de novas revoluções chacoalharem o domínio imperialista, em particular dentro de seus próprios territórios, assustou as classes dominantes. Com os chamados “Estados de bem-estar social”, perdia-se alguns anéis, para não se perder os dedos.
Nesse sentido, toda esta detração (contra as principais lideranças dos países que experimentaram a construção do socialismo) não seria um temor, um medo das classes dominantes, da grande burguesia no mundo, da alternativa que os comunistas apresentam ou teriam condições de apresentar à barbárie capitalista, ao desemprego, à miséria, à violência e às guerras contra os povos explorados e oprimidos, promovidas pelo imperialismo na conjuntura atual? Por isso a necessidade de atacar os líderes, expressões das vitórias dos povos na construção do socialismo e na derrota do capitalismo, com a tentativa de desqualificar, por meio da mentira, do método fascista de repetir mil vezes uma mentira. E obstar reflexões, por pequenas que sejam, desestimular o conhecimento, o debate e estudo do marxismo, da ciência marxista, do marxismo-leninismo, das experiências de construção do socialismo, suas grandes vitórias e seus equívocos.
É a tentativa de impedir um balanço das experiências de construção do socialismo com base no materialismo histórico, analisando a luta de classes, a partir dos interesses da classe operária, das classes dominadas, da luta de posições teóricas, políticas e ideológicas, como expressões da luta de classes, em cada formação econômico-social e no mundo. A retomada do marxismo, do marxismo-leninismo, do partido revolucionário, se constitui em uma ameaça ao imperialismo, ao espectro que ora ronda o mundo, o espectro da barbárie capitalista.
Contra Stalin, em particular, não há artigo “politicamente correto”, para não dizer palatável, no campo da ideologia dominante, burguesa, que não contenha alguma alusão depreciativa à sua pessoa. O texto ou artigo pode estar se referindo a assuntos os mais variados e diversos, mas se for necessário dar um ar de “esquerda”, de “politicamente correto”, mas palatável, há que - noves fora - sobrar uma bordoada para Stalin. É sempre de bom tom criticá-lo, manter dele distância. “Crítica” geralmente sem um mínimo conhecimento ou pesquisa da história, da análise da conjuntura em que ocorreram estes acontecimentos históricos da época de Stalin. “Crítica” que, na maioria das vezes, repete as versões levantadas pela extrema direita internacional, abraçadas e divulgadas pelos revisionistas de todos os matizes.
Uma das acusações favoritas no momento, mas que também não inédita, é a de que Stalin não preparou a URSS para a guerra contra o nazismo. Teria sido pego de surpresa, teria desdenhado dos que o advertiram sobre a iminência da invasão alemã. Teria sido um aliado de Hitler, do fascismo, com a realização do pacto de não agressão germânico-soviético. É uma acusação feita agora, repetidas vezes, que – mantida no senso comum – tem o propósito de tornar-se verdade. Se não é possível ignorar o papel que Stalin teve à frente da resistência do povo soviético, nos aspectos políticos, ideológicos e militares, tenta-se de algum modo depreciá-lo.
Ludo Martens (iii) relembra esse questionamento, “Stalin preparou mal a guerra antifascista?”, em seu livro “Stalin, um outro olhar” ou “Stalin, um novo olhar”, na edição brasileira (Editora Revan) (iv). E, baseado em intensa e zelosa pesquisa em documentos, depoimentos, arquivos, vai responder a esse e outros ataques desferidos contra Stalin. Como afirma Renato Guimarães, da Revan, em Nota do editor no Brasil: “É um livro muito documentado, que resulta de anos de trabalho paciente e minucioso de pesquisa. Quem o ler, mesmo quando muito informado sobre o tema, certamente se verá enriquecido com preciosa informação que desconhecia e poderá situar-se melhor para formar um juízo próprio em assunto tão polêmico e tão complexo.”
Sobre o papel de Stalin na preparação da URSS para guerra, pela particular relevância em relação à vitória contra o nazi-fascismo, reproduzimos do livro de Ludo Martens:
“Stalin preparou mal a guerra antifascista?”
Quando Kruschov tomou o poder, ele se tinha desviado completamente da linha do partido. Para fazer isso, ele teve de atacar Stalin e sua política marxista-leninista. Em uma série de calúnias inverossímeis, ele chegou até a negar os imensos méritos de Stalin na preparação e na conduta da guerra antifascista.
Assim, Kruschov pretendeu que, no curso dos anos 1936-1941, Stalin tinha preparado mal o país para a guerra.
Eis suas palavras.
“Stalin levantou a tese segundo a qual a tragédia era o resultado do ataque surpresa dos alemães contra a União Soviética. Mas, camaradas, isso é de ato totalmente inexato. Desde que Hitler apoderou-se do poder na Alemanha, ele se atribuía a tarefa de liquidar o comunismo. (...) Vários fatos do período anterior à guerra mostram que Hitler preparava uma guerra contra o Estado soviético” (1). “Se nossa indústria tivesse sido mobilizada de forma adequada e no tempo requerido para fornecer ao Exército o material necessário, nossas perdas de guerra teriam sido nitidamente reduzidas. (...) Nosso exército estava mal equipado. (...) A tecnologia soviética tinha produzido antes da guerra excelentes modelos de tanques e de peças de artilharia. Mas a produção em série desses modelos não foi organizada.” (2)
Que os participantes do XX Congresso tivessem podido escutar essas calúnias sem protestos indignados tivessem ocorrido de todas as partes dizia muito sobre a degenerescência política já em curso. Contudo, na sala, encontravam-se dezenas de marechais e generais que sabiam até que ponto aquelas palavras eram ridículas. Na hora, ninguém abriu a boca. Seu profissionalismo estreito, o exclusivismo militar, a negação da luta política no seio do Exército, a rejeição da direção ideológica e política do partido sobre o Exército: tudo isso aproximava-os do revisionismo de Krushov. Jukov, Vassilevski, Rokossovski, praticamente todos os grandes chefes militares, não tinham jamais aceitado a necessidade de depuração do Exército em 1937-1938. Eles não tinham sequer compreendido o contexto polítco do processo de Bukharin. Por estas razões, eles apoiaram Kruschov, quando este substituiu o marxismo-leninismo pelas teses rebuscadas dos mencheviques, trotskistas e bukharinistas. Isto explica por que os marechais engoliram as mentiram de Kruschov em relação à II Guerra Mundial. Posteriormente, eles refutaram essas mentiras, em suas memórias, quando já não havia jogo político e essas questões tornaram-se puramente acadêmicas.
Em suas Memórias, publicadas em 1970, Jukov sublinha com razão, em face das alegações de Kruschov, que a verdadeira política de defesa tinha começado com a decisão de Stalin de lançar a industrialização em 1928.
“Era possível conciliar em cinco ou sete anos o desenvolvimento acelerado da indústria pesada, a fim de dar ao povo objetos de consumo corrente antes e em maior quantidade. Isso não era tentador?” (3).
Stalin preparou a defesa da União Soviética construindo mais de 9.000 empresas industriais entre 1928 e 1941 e tomando a decisão estratégica de implantar ao leste do país uma possante base industrial nova (4). A propósito da política de industrialização, Jukov rendeu homenagem “à sagacidade e clarividência” de Stalin, que foram “sancionadas de maneira definitiva pelo julgamento supremo a história” no curso da guerra (5).
Em 1921, em quase todos os domínios da produção militar, foi preciso começar do zero. Durante os anos do primeiro e segundo plano qüinqüenal, o partido tinha previsto para a indústria de guerra uma taxa de crescimento superior àquela dos demais ramos da indústria (6).
Vejamos dois números significativos dos dois primeiros planos.
A produção anual de tanques era de 740 unidades, em 1930. Ela tinha alcançado 2.271 unidades, em 1938 (7). Para o mesmo período, a construção de aviões tinha aumentado de 860 para 5.500 unidades por ano (8).
No curso do terceiro plano qüinqüenal, entre 1938 e 1940, a produção da indústria de 13% ao ano, mas a produção da indústria da defesa de 39% (9).
A moratória obtida, graças ao pacto germano-soviético, foi explorada por Stalin para levar a produção militar ao máximo. Jukov o testemunha.
“A fim de que as usinas de defesa de certa importância pudessem receber tudo que lhes era necessário, delegados do Comitê Central, organizadores experimentados e especialistas conhecidos, foram nomeados para a testa de suas organizações do partido. Eu devo dizer que Josef Stalin desenvolveu um trabalho considerável, ocupando-se ele próprio das empresas que trabalhavam para a defesa. Ele conhecia bem dezenas de diretores de usinas, de organizadores do partido, os principais engenheiros, via-os freqüentemente e obtinha, com a perseverança que o caracterizava, a execução dos planos previstos” (10).
As entregas militares efetuadas entre 1° de janeiro de 1939 e 22 de junho de 1941 foram impressionantes.
A artilharia recebeu 92.578 peças, das quais 29.637 canhões de campanha e 52.407 morteiros. Novos morteiros de 82 e 120 mm foram introduzidos ainda antes da guerra (11).
A Força aérea recebeu 17.745 aviões de combate, dos quais 3.719 de modelos novos. No domínio da aviação:
“As medidas tomadas, de 1939 a 1941, criaram as condições requeridas para obter, rapidamente, no curso da guerra, a superioridade quantitativa e qualitativa” (12).
O Exército Vermelho recebeu mais de 7.000 tanques. Em 1940, começou a produção do tanque médio T-34 e do tanque pesado KV, superiores aos tanques alemães. Já se haviam produzido 1.851, quando a guerra estourou (13).
A propósito destas realizações, como para exprimir seu desdém pelas acusações de Kruschov, Jukov se dedicou a uma autocrítica reveladora:
“Lembrando-me daquilo que nós, os militares, exigíamos da indústria no curso dos últimos meses de paz e como nós o exigimos, vejo que não levávamos bastante em conta as possibilidades econômicas reais do país” (14).
A preparação militar propriamente dita foi também impulsionada com o máximo rigor, por Stalin. Os enfrentamentos militares com o Japão, em maio-agosto de 1939, e com a Finlândia, entre dezembro de 1939 e março de 1940, estavam diretamente ligados a resistência antifascista. Estas experiências de combate foram analisadas em profundidade para preencher as lacunas e as falhas do Exército Vermelho.Em março de 1940, uma reunião do Comitê Central examinou as operações contra a Finlândia.
“Os debates foram muito violentos. A instrução e formação de nossas tropas foram severamente criticadas”, afirma Jukov (15). Em maio, Jukov foi recebido por Stalin, que lhe disse:
“Você tem agora a experiência do combate. Assuma o comando da região de Kiev e utilize sua experiência para a instrução das tropas” (16).
Na visão de Stalin, Kiev despertava uma significação militar particular. Era aí que esperava o golpe principal quando da agressão alemã.
“Stalin estava persuadido de que os hitleristas, no curso de sua guerra contra a União Soviética, iriam, em primeiro lugar, tentar apoderar-se da Ucrânia e da bacia de Donetz, a fim de privarem nosso país dessas regiões econômicas importantes, de tomar o trigo ucraniano, o carvão de Donetz e mais tarde o petróleo do Cáucaso. No curso do exame do plano operacional, na primavera de 1941, J. Stalin dizia: ‘Sem possuir recursos vitais importantes, a Alemanha nazista não poderá sustentar uma guerra muito prolongada’. (17)
No verão e no outono de 1940, Jukov submeteu suas tropas a uma intensa preparação para o combate. Ele constatou que dispunha de jovens oficiais e de generais capazes. Ele lhes fez assimilar as lições que se resgataram das operações alemãs contra a França. (18)
De 23 de dezembro de 1940 a 13 de janeiro de 1941, todos os oficiais superiores reuniram-se para uma grande conferência. No centro dos debates: a futura guerra contra a Alemanha. A experiência acumulada pelos fascistas com grandes corpos blindados foi estudada com uma atenção particular. No dia seguinte ao da conferência, um grande exercício operacional e estratégico sobre mapa teve lugar. Stalin o assistiu. Jukov escreveu:
‘A situação estratégica repousava sobre os acontecimentos supostos que poderiam se desenvolver sobre nossa fronteira ocidental, no caso em que a Alemanha atacasse a União Soviética’. (19)
Jukov dirige a agressão alemã, Pavlov, a resistência soviética.
‘O exercício abundou em peripécias dramáticas para a parte “vermelha”. As situações que se apresentaram após 22 de junho de 1941 pareciam-se muito àquelas daquele exercício...’ notou Jukov. Pavlov perdeu a guerra contra os nazistas. Stalin o admoestou energicamente:
‘O comandante das tropas de uma região deve possuir a arte militar e saber encontrar a solução em qualquer que seja a situação. Tal não foi o seu caso.’ (20)
A construção de setores fortificados ao longo da nova fronteira ocidental foi enfrentada em 1940. Pelo começo da guerra chegou-se a construir perto de 1.500 instalações em concreto. 140.000 homens trabalhavam todo dia.
‘E Stalin nos pressionava para terminar’, diz Jukov. (21)
A XVIII Conferência do partido, de 15 a 20 de fevereiro de 1941, foi integralmente consagrada à preparação da indústria e dos transportes na previsão da guerra. Delegados vindos de toda a União Soviética elegeram certo número de militantes membros suplentes do Comitê Central. (22)
No começo de março de 1941, Timochenko e Jukov pediram a Stalin que convocasse os reservistas da infantaria. Stalin recusou para não dar aos alemães um pretexto para provocar a guerra. Finalmente, ao final de março, ele aceitou convocar cerca de 800.000 reservistas, que seriam dirigidos para as fronteiras. (23) Em abril, o Estado-Maior geral informava Stalin de que as tropas das regiões militares do Báltico, da Bielorússia, de Kiev e de Odessa não eram suficientes para responder ao ataque. Stalin decidiu fazer avançar para as fronteiras 28 divisões, reunidas em quatro exércitos, e destacou a necessidade de proceder com extrema prudência para não provocar os nazistas. (24)
A 5 de maio de 1941, no grande palácio do Kremlin, Stalin falou diante dos oficiais saídos das academias militares. Seu tema central:
‘Os alemães estão errados em acreditarem que seu exército é um exército invencível’. (25)
Todos esses fatos permitem refutar as críticas malévolas habitualmente levantadas contra Stalin:
‘Ele tinha preparado o Exército para a ofensiva, mas não para a defensiva’; ‘Ele tinha confiança no Pacto germano-soviético e em Hitler, seu cúmplice’; ‘Ele não esperava que houvesse uma guerra contra os nazistas’. Essas calúnias visavam desacreditar as proezas históricas dos comunistas e, em conseqüência, aumentar o prestígio de seus adversários.
Jukov, que desempenhou um papel essencial na tomada de poder de Kruschov entre 1953 e 1957, teve o cuidado, em suas Memórias, de desmentir de forma contundente o relatório secreto de Kruschov. Sobre a preparação do país para a guerra, ele concluiu assim:
‘A obra da defesa nacional, quanto a seus traços e orientações fundamentais e essenciais, tinha sido conduzida da maneira adequada. Durante anos, fez-se tudo ou quase tudo que se podia fazer, tanto no setor econômico quanto no setor social. Quanto ao período que se estende de 1939 até a metade de 1941, é uma época em que o povo e o partido forneceram, para reforçar a defesa, esforços particularmente importantes, esforços que exigiam aplicação de todas as forças e de todos os meios. Uma indústria desenvolvida, uma agricultura coletivizada, a instrução pública estendida ao conjunto da população, a unidade da nação, o poder do Estado socialista, o nível elevado do patriotismo do povo, a direção que, para o partido, estava prestes a realizar a unidade entre a frente e as retaguardas, todo este conjunto de fatores foi a causa primeira da grande vitória que devia coroar nossa luta contra o fascismo. Só o fato de que a indústria soviética tinha podido produzir uma quantidade colossal de armamentos: perto de 490.000 canhões e morteiros, mais de 102.000 tanques e canhões autopropulsados, mais de 137.000 aviões de combate, prova que os fundamentos da economia, do ponto de vista militar, foram essenciais e fundamentais, o partido e o povo tinham sabido preparar a defesa da pátria. Ora, é o essencial e o fundamental que, no final das contas, decidem a sorte de uma país em guerra.’ (26)
* * *
Notas da introdução
(i) “(...) Às 0 horas e 43 minutos de 9 de maio de 1945 terminou a assinatura da ata de capitulação incondicional da Alemanha. (...)” Mariscal de la Unión Soviética Gueorgui Zhukov, Memorias y reflexiones, t.2, Ed. Progreso, Moscú, 1991, p. 402. [voltar]
(ii) Mariscal de la Unión Soviética Gueorgui Zhukov, Memorias y reflexiones, t.2, Ed. Progreso, Moscú, 1991, p. 415. [voltar]
(iii) Ludo Martens é autor de vários livros, além de ‘Um outro olhar sobre Stalin’ (1994) e ‘A URSS e a contra-revolução de veludo’ (1991). É dirigente do Partido do Trabalho da Bélgica. [voltar]
(iv) ‘Stalin preparou mal a guerra antifascista?’ é uma parte do capítulo 9, ‘Stalin e a guerra antifascista’, do livro de Ludo Martens ‘Um novo olhar sobre Stalin’, Ed. Revan, (2003). Do mesmo capítulo: ‘O pacto germano-soviético’, ‘O dia do ataque alemão’, ‘Stalin em face da guerra de extermínio dos nazistas’, e ‘Stalin, sua personalidade, sua capacitação militar’. [voltar]
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Notas
(1) Petit encyclopédie politique du monde, Ed. Chanteclair, Rio de Janeiro, 1943, p.102.(2) Ibidem, p.105(3) Jukov, Mémoires, tome II, Ed. Fayard, Paris, 1970, p.156.(4) Ibidem, p.201.(5) Ibidem, p.156.(6) Ibidem, p.203.(7) Ibidem, p.204(8) Ibidem, p.204-205.(9) La grande guerre nationale, Ed. du Progrés, Moscú, 1974, p.33.(10) Ibidem, p.279.(11) Jukov, op.cit., p.291. Et La grande guerre, op.cit., p.33(12) Jukov, op.cit., p.296. Et La grande guerre, op.cit., p.33(13) Jukov, op.cit., p.286. Et La grande guerre, op.cit., p.33(14) Jukov, op.cit., p.280(15) Jukov, op.cit., p.264(16) Jukov, op.cit., p.250(17) Jukov, op.cit., p.311(18) Jukov, op.cit., p.234(19) Jukov, op.cit., p.270-271(20) Jukov, op.cit., p.272(21) Jukov, op.cit., p.312-315(22) Jiline, op. cit., p.212. E Jukov, op. cit., p.308(23) Jukov, op. cit., p. 287-288(24) Ibidem, p.321-322(25) Ibidem, p.334(26) Ibidem, p.335-337
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Leia também nas páginas do sítio do CeCAC:
60 anos da vitória contra o nazi-fascismo: Apresentação
Carta a Stalingrado - Carlos Drummond de Andrade
Pronunciamento de Josef Stalin em 9 de maio de 1945
Documentário "A Batalha da Rússia"
Os Negócios Sujos de Banqueiros Estadunidenses e Dirigentes Nazistasdurante a Segunda Guerra Mundial
Albert Einstein Condenou os Israelitas Nazistas
9 de maio: Dia da Vitória contra o nazi-fascismo (2006)Esta página encontra-se em www.cecac.org.br

terça-feira, 24 de abril de 2007

AGROCOBUSTÍVEL

O AGROCOMBUSTÍVEL




Todos sabemos como se desenvolve a agricultura no Brasil. país sem leis ou com leis ambientais sempre desrespeitadas, que apenas tem beneficiado os latifundiário e os ssangue-sugas do agronegócio. Tanto a cana de açucar como a SOJA são culturas feitas em áreas totalmente desmatadas, inclusive com o aterramento e destruição das nascentes. Isto é o óbvio e assim continuará independentemente do capital multinacional e completo assentimento dos responsáveis pela defesa do meio ambiente.
Sabe-se que o agrodiesel e o alcool são as energias RENOVÁVEIS do presente e principalmente do futuro, não poluentes e quem dominar sua tecnologia, como já disse Rokefeler no século XIX sobre o petróleo - dominará o mundo. Não pregamos a dominação mundial mas simplesmente o direito e oportunidade de um lugar entre as grandes potências terrestres. Se temos a terra, o sol, a tecnologia, trabalhadores capacitados, o capital (Petrobrás com 27 bilhões de lucro líquido em 2006), porque e a título de que o atual governante vai dar de mão beijada sociedade para o capital especulativo estrangeiro, uma parceria de que absolutamente não necessitamos? A assessoria do presidente não sabe que isto é um crime de lesa pátria tão ou maior que a privatização-doação da Vale do Rio Doce?.
Esta "infeliz" parceria fere desastrosamente os interesses econômicos brasileiros. Se podemos ser soberanos, porque disto abdicar? Já não bastam as PPP, as licitações dos poços petrolíferos, Henrique Meireles no Banco Central, Hélio Costa no ministério das comunicações, etc.etc?
A vinda do fascínora Bush, que com todos os defeitos entretanto é ardoroso defensor dos interesses capitalistas estadounidense, não visa outra coisa senão apropriar-se do agrocombustível que junto a outros produtos é a energia do futuro.
Já está na hora de abandonarmos a condição de meros fornecedores de matéria prima por séculos e séculos como bem cita Eduardo Galeano em seu livro Veias Abertas da América Latina.
Blasco Miranda de Ourofino

Trangênicos

Última atualização: 07/Junho/2003
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Contra os transgênicos07/06/20031. Não há nenhuma segurança, ainda, sobre os efeitos dos produtos transgênicos na saúde das pessoas que os consumirem.2. Não há nenhuma segurança, ainda, sobre os efeitos no meio ambiente, já que esses novos seres vivos não existiam antes na natureza e são resultados de experimentos de laboratório.3. Não há nenhuma segurança, ainda, sobre os efeitos na saúde dos agricultores que conviverem com essas semen-tes e esses produtos.4. As pesquisas de sementes e produtos transgênicos reali-zadas pelas empresas visam apenas aumentar suas taxas de lucro e não melhorar o bem-estar da população.5. Embora os métodos de biotecnologia possam ser benéficos, não há nenhuma prova concreta de que as sementes transgênicas, por si só, sejam mais produtivas e mais adequadas à preservação da natureza do que as sementes melhoradas.6. Cerca de 97% das sementes transgênicas existentes no mercado tem sua utilização e produtividade casadas com o necessário uso de algum tipo de agrotóxicos: herbicidas, inseticidas etc.7. Muitas sementes transgênicas possuem o componente "terminator" que as esteriliza para utilização de seus fru-tos como sementes, obrigando os agricultores a comprar novas sementes a cada safra, ficando dependentes sem-pre da empresa fornecedora.8. O domínio da biotecnologia e o uso dos transgênicos está levando a um processo de controle oligopólico em todo o mundo das sementes por parte de apenas oito grandes grupos econômicos.9. Os agricultores perderão completamente o controle do uso das sementes e ficarão totalmente dependentes das empresas multinacionais.10. É possível ter sementes e alimentos sadios em grande quantidade para toda a população mundial, respeitando o meio ambiente, praticando uma agricultura saudável, sem depender de transgênicos. A fome existente no mundo e no Brasil não é decorrente da falta de alimentos, mas do modelo econômico concentrador de renda e de riqueza, que impede que muitas pessoas tenham acesso aos alimentos necessários para uma vida saudável.

MST- quem somos

Última atualização: 07/Junho/2006
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Quem Somos07/06/2006Para falar sobre a trajetória do MST é preciso falar da história da concentração fundiária que marca o Brasil desde 1500. Por conta disso, aconteceram diversas formas de resistência como os Quilombos, Canudos, as Ligas Camponesas, as lutas de Trombas e Formoso, a Guerrilha do Araguaia, entre muitas outras. Em 1961, com a renúncia do então presidente Jânio Quadros, João Goulart - o Jango - assume o cargo com a proposta de mobilizar as massas trabalhadoras em torno das reformas de base, que alterariam as relações econômicas e sociais no país. Vive-se, então, um clima de efervescência, principalmente sobre a Reforma Agrária. Com o golpe militar de 1964, as lutas populares sofrem violenta repressão. Nesse mesmo ano, o presidente-marechal Castelo Branco decretou a primeira Lei de Reforma Agrária no Brasil: o Estatuto da Terra. Elaborado com uma visão progressista com a proposta de mexer na estrutura fundiária do país, ele jamais foi implantado e se configurou como um instrumento estratégico para controlar as lutas sociais e desarticular os conflitos por terra. As poucas desapropriações serviram apenas para diminuir os conflitos ou realizar projetos de colonização, principalmente na região amazônica. De 1965 a 1981, foram realizadas 8 desapropriações em média, por ano, apesar de terem ocorrido pelo menos 70 conflitos por terra anualmente.Nos anos da ditadura, apesar das organizações que representavam as trabalhadoras e trabalhadores rurais serem perseguidas, a luta pela terra continuou crescendo. Foi quando começaram a ser organizadas as primeiras ocupações de terra, não como um movimento organizado, mas sob influência principal da ala progressista da Igreja Católica, que resistia à ditadura. Foi esse o contexto que levou ao surgimento da Comissão Pastoral da Terra (CPT), em 1975.Nesse período, o Brasil vivia uma conjuntura de extremas lutas pela abertura política, pelo fim da ditadura e de mobilizações operárias nas cidades. Fruto desse contexto, em janeiro de 1984, ocorre o primeiro encontro do MST em Cascavel, no Paraná, onde se reafirmou a necessidade da ocupação como uma ferramenta legítima das trabalhadoras e trabalhadores rurais. A partir daí, começou-se a pensar um movimento com preocupação orgânica, com objetivos e linha política definidos.Em 1985, em meio ao clima da campanha "Diretas Já", o MST realizou seu primeiro Congresso Nacional, em Curitiba, no Paraná, cuja palavra de ordem era: "Ocupação é a única solução". Neste mesmo ano, o governo de José Sarney aprova o Plano Nacional de Reforma Agrária (PNRA), que tinha por objetivo dar aplicação rápida ao Estatuto da Terra e viabilizar a Reforma Agrária até o fim do mandato do presidente, assentando 1,4 milhão de famílias. Mais uma vez a proposta de Reforma Agrária ficou apenas no papel. O governo Sarney, modificado com os interesses do latifúndio, ao final de um mandato de 5 anos, assentou menos de 90 mil famílias sem-terra. Ou seja, apenas 6% das metas estabelecidas no PNRA foi cumprida por aquele governo.Com a articulação para a Assembléia Constituinte, os ruralistas se organizam na criação da União Democrática Ruralista (UDR) e atuam em três frentes: o braço armado - incentivando a violência no campo -, a bancada ruralista no parlamento e a mídia como aliada.Os ruralistas conseguiram impor emendas na Constituição de 1988 ainda mais conservadoras que o Estatuto da Terra. Porém, nessa Constituição os movimentos sociais tiveram uma importante conquista no que se refere ao direito à terra: os artigos 184 e 186. Eles fazem referência à função social da terra e determinam que, quando ela for violada, a terra seja desapropriada para fins de Reforma Agrária. Esse foi também um período em que o MST reafirmou sua autonomia, definiu seus símbolos, bandeira, hino. Assim foram se estruturaram os diversos setores dentro do Movimento.A eleição de Fernando Collor de Melo para a presidência da República em 1989 representou um retrocesso na luta pela terra, já que ele era declaradamente contra a Reforma Agrária e tinha ruralistas como seus aliados de governo. Foram tempos de repressão contra os Sem Terra, despejos violentos, assassinatos e prisões arbitrárias. Em 1990, ocorreu o II Congresso do MST, em Brasília, e que continuou debatendo a organização interna, as ocupações e, principalmente, a expansão do Movimento em nível nacional. A palavra de ordem era: "Ocupar, resistir, produzir".Em 1994, Fernando Henrique Cardoso vence as eleições com um projeto de governo neoliberal, principalmente para o campo. É o momento em que se prioriza novamente a agro-exportação. Ou seja, em vez de incentivar a produção de alimentos, a política agrícola está voltada para atender os interesses do mercado internacional e para gerar os dólares necessários para pagar os juros da dívida externa.No ano seguinte, o MST realizou seu III Congresso Nacional, em Brasília. Cresce a consciência de que a Reforma Agrária é uma luta fundamental no campo, mas que se não for disputada na cidade nunca terá uma vitória efetiva. Por isso, a palavra de ordem foi "Reforma Agrária, uma luta de todos".Já em 1997, o Movimento organizou a histórica "Marcha Nacional Por Emprego, Justiça e Reforma Agrária" com destino a Brasília, com data de chegada em 17 abril, um ano após o massacre de Eldorado dos Carajás, quando 21 Sem Terra foram brutamente assassinados pela polícia no Pará.Em agosto de 2000, o MST realiza seu IV Congresso Nacional, em Brasília, cuja palavra de ordem foi "Por um Brasil sem latifúndio" e que orienta as ações do movimento até hoje. O Brasil sofreu 8 anos com o modelo econômico neoliberal implementado pelo governo FHC, que provocou graves danos para quem vive no meio rural, fazendo crescer a pobreza, a desigualdade, o êxodo, a falta de trabalho e de terra. A eleição de Lula, em 2001, representou a vitória do povo brasileiro e a derrota das elites e de seu projeto. Mas, mesmo essa vitória eleitoral não foi suficiente para gerar mudanças significativas na estrutura fundiária e no modelo agrícola. Assim, é necessário promover, cada vez mais, as lutas sociais para garantir a construção de um modelo de agricultura que priorize a produção de alimentos e a distribuição de renda.Hoje, completando 22 anos de existência, o MST entende que seu papel como movimento social é continuar organizando os pobres do campo, conscientizando-os de seus direitos e mobilizando-os para que lutem por mudanças. Nos 23 estados em que o Movimento atua, a luta não só pela Reforma Agrária, mas pela construção de um projeto popular para o Brasil, baseado na justiça social e na dignidade humana.(*) Com informações do livro "A história da luta pela terra e o MST", Mitsue Morissawa, Editora Expressão Popular, 2001.

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Mensagem do CC à Liga dos Comunistas-K.Marx e Engels- 1850

MENSAGEM DO COMITÊ CENTRAL À LIGA DOS COMUNISTAS
KARL MARX E F. ENGELS
1850

Irmãos: Durante os dois anos revolucionários de 1848 e 1849, a Liga atravessou galhardamente uma dupla prova: primeiro, porque os seus membros participaram energicamente do movimento em todos os lugares onde ele se deu e porque, na imprensa, nas barricadas e nos campos de batalha, estiveram na vanguarda da única classe verdadeiramente revolucionária - o proletariado. Ademais, porque a concepção que a Liga tinha do movimento, tal como foi formulada nas circulares dos congressos e do Comitê Central, em 1847, assim como no Manifesto Comunista, se revelou a única acertada; porque as esperanças manifestadas nesses documentos se confirmaram plenamente, e os pontos de vista sobre as condições sociais do momento, que a Liga até então só havia divulgado secretamente, se acham agora na boca de todo o mundo e são defendidos abertamente nas praças públicas. Ao mesmo tempo, a primitiva e sólida organização da Liga se debilitou de modo considerável. Grande parte dos seus membros - os que participam diretamente do movimento revolucionário - acreditava que já havia passado a época das sociedades secretas e que bastava a atividade pública. Alguns círculos e comunidades foram enfraquecendo os seus laços com o Comitê Central e terminaram por extinguí-los pouco a pouco. Assim, pois, enquanto o partido democrático, o partido da pequena-burguesia, fortalecia sua organização na Alemanha, o partido operário perdia sua única base firme, conservava a custo sua organização em algumas localidades, para fins exclusivamente locais e, por isso, no movimento geral caiu por completo sob a influência e a direção dos democratas pequeno-burgueses. É necessário acabar com tal estado de coisas, é preciso restabelecer a independência dos operários. Compreendendo esta necessidade, o Comitê Central, já no inverno de 1848-1849, enviou Joseph Moll com a missão de reorganizar a Liga na Alemanha. A missão de Moll não produziu o resultado desejado, em parte porque os operários alemães não tinham experiência suficiente e em parte por que tal experiência se interrompeu em virtude da insurreição de maio do ano passado. O próprio Moll, que empunhou armas e se incorporou ao exército de Baden-Palatinado, tombou no encontro de 19 de julho, nas imediações de Murg. A Liga perdeu nele um dos membros mais antigos, mais ativos e mais seguros, que havia participado de todos os congressos e comitês centrais e que já realizara antes, com grande êxito, várias missões no exterior. Depois da derrota dos partidos revolucionários da Alemanha e França, em julho de 1849, quase todos os membros do Comitê Central voltaram a reunir-se em Londres, preencheram as suas fileiras com novas forças revolucionárias e empreenderam com renovada energia a tarefa de reorganizar a Liga.
Esta reorganização só pode ser alcançada por um enviado especial, e o Comitê Central acha que é de grande importância que esse enviado parta precisamente agora, quando é iminente uma nova revolução, quando, portanto, o partido operário deve agir de modo mais organizado, mais unânime e mais independente, se não quer de novo ser explorado pela burguesia e marchar a reboque desta, como em 1848.
Já em 1848, vos dissemos, irmãos, que os liberais burgueses alemães logo chegariam ao poder e empregariam imediatamente contra os operários esse poder recém-conquistado. Já vistes como se realizou isto. Com efeito, imediatamente depois do movimento de março de 1848, foram os burgueses que ficaram com o poder, utilizando-o sem delongas para forçar os operários, seus aliados na luta, a voltar à sua condição anterior de oprimidos. E, embora a burguesia não pudesse obter tudo isso sem se aliar ao partido feudal, derrotado em março, e, afinal, sem ceder de novo ao domínio deste mesmo partido absolutista feudal, pode, não obstante, assegurar para si as condições que, em vista das dificuldades financeiras do governo, haveriam de pôr finalmente nas suas mãos o Poder e salvaguardariam os seus interesses, no caso de o movimento revolucionário entrar, a partir de agora, na via do chamado desenvolvimento pacífico. Para assegurar seu domínio, a burguesia nem sequer precisava recorrer a medidas violentas, que a tornariam odiosa aos olhos do povo, pois todas essas medidas violentas já haviam sido tomadas pela contra-revolução feudal. Mas o desenvolvimento não há de seguir essa via pacífica. Pelo contrário, a revolução, que há de acelerar esse desenvolvimento, está próxima, quer seja provocada por uma insurreição do proletariado francês, quer por uma invasão da Babel revolucionária pela Santa Aliança.
E o papel de traição que os liberais burgueses alemães desempenharam em relação ao povo, em 1848, será desempenhado na próxima revolução pelos pequeno-burgueses democratas, que hoje ocupam na oposição o mesmo lugar que ocupavam os liberais burgueses antes de 1848. Este partido democrático, mais perigoso para os operários do que foi o partido liberal, está integrado pelos seguintes elementos:
I. Pela parte mais progressista da grande burguesia, cujo objetivo é a total e imediata derrocada do feudalismo e do absolutismo. Essa fração está representada pelos antigos conciliadores de Berlim que propuseram a suspensão do pagamento de suas contribuições.
II. Pela pequena-burguesia democrata-constitucional, cujo principal objetivo no movimento anterior era criar um Estado federal mais ou menos democrático, tal como o haviam propugnado os seus representantes - a esquerda da Assembléia de Frankfurt -, mais tarde o Parlamento de Stuttgart e ela mesma na campanha de pró-constituição do Império.
III. Pelos pequeno-burgueses republicanos, cujo ideal é uma república federal alemã no estilo da Suíça e que agora se chamam a si mesmos "vermelhos" e "democrata-sociais", porque têm o pio desejo de acabar com a opressão do pequeno capital pelo grande, do pequeno-burguês pelo grande burguês. Representavam esta fração os membros dos congressos e comitês democráticos, os dirigentes das uniões democráticas e os redatores da imprensa democrática.
Agora, depois da sua derrota, todas essas frações se chamam republicanas ou vermelhas, exatamente como os pequeno-burgueses republicanos da França se chamam, hoje em dia, socialistas. Ali onde ainda têm a possibilidade de perseguir seus fins por métodos constitucionais, como em Wurtemberg, Baviera etc., aproveitam a ocasião para conservar as suas velhas frases e para demonstrar com os fatos que não mudaram em absoluto. Compreende-se, de resto, que a mudança de nome deste partido não modifica de modo algum sua atitude para com os operários; a única coisa que faz é demonstrar que agora se vê obrigado a lutar contra a burguesia, aliada ao absolutismo, e a procurar o apoio do proletariado.
O partido democrata pequeno-burguês é muito poderoso na Alemanha. Não somente abrange a enorme maioria da população burguesa das cidades, os pequenos comerciantes e industriais e os mestres artesãos, mas também é acompanhado pelos camponeses e operários agrícolas, pois estes últimos ainda não encontraram o apoio de um proletariado urbano independentemente organizado.
A atitude do partido operário revolucionário em face da democracia pequeno-burguesa é a seguinte: marchar com ela na luta pela derrubada daquela fração cuja derrota é desejada pelo partido operário; marchar contra ela em todos os casos em que a democracia pequeno-burguesa queira consolidar a sua posição em proveito próprio.
Longe de desejar a transformação revolucionária de toda a sociedade em benefício dos proletários revolucionários, a pequena-burguesia democrata tende a uma mudança da ordem social que possa tornar a sua vida, na sociedade atual, mais cômoda e confortável. Por isso, reclama em primeiro lugar uma redução dos gastos do Estado por meio de uma limitação da burocracia e do deslocamento das principais cargas tributárias para os ombros dos grandes proprietários de terras e burgueses. Exige, ademais, que se ponha fim à pressão do grande capital sobre o pequeno, pedindo a criação de instituições de crédito do Estado e leis contra a usura, com o que ela e os camponeses teriam a possibilidade de obter, em condições favoráveis, créditos do Estado, em lugar de serem obrigados a pedi-los aos capitalistas; ela pede, igualmente, o estabelecimento de relações burguesas de propriedade no campo, mediante a total abolição do feudalismo. Para levar a cabo tudo isso, precisa de um regime democrático, seja constitucional ou republicano, que dê maioria a ela e a seus aliados, os camponeses, e autonomia democrática local, que ponha nas suas mãos o controle direto da propriedade comunal e uma série de funções desempenhadas hoje em dia por burocratas.
Os democratas pequeno-burgueses acham também que é preciso opor-se ao domínio e ao rápido crescimento do capital, em parte limitando o direito de herança, em parte pondo nas mãos do Estado o maior número possível de empresas. No que toca aos operários, é indubitável que devem continuar sendo operários assalariados; os pequeno-burgueses democratas apenas desejam que eles tenham salários mais altos e uma existência mais garantida e esperam alcançar isso facilitando, por um lado, trabalho aos operários, através do Estado, e, por outro, com medidas de beneficência. Numa palavra, confiam em corromper os operários com esmolas mais ou menos veladas e debilitar sua força revolucionária por meio da melhoria temporária de sua situação. Nem todas as frações da democracia pequeno-burguesa defendem todas as reivindicações que acabamos de citar. Tão somente uns poucos democratas pequeno-burgueses consideram seu objetivo o conjunto dessas reivindicações. Quanto mais avançam alguns indivíduos ou frações da democracia pequeno-burguesa, tanto maior é o número dessas reivindicações que apresentam como suas, e os poucos que vêem no acima exposto o seu próprio programa supõem, certamente, que ele representa o máximo que se pode exigir da revolução. Mas essas reivindicações não podem satisfazer de nenhum modo ao partido do proletariado. Enquanto os pequeno-burgueses democratas querem concluir a revolução o mais rapidamente possível, depois de terem obtido, no máximo, os reclamos supra-mencionados, os nossos interesses e as nossas tarefas consistem em tornar a revolução permanente até que seja eliminada a dominação das classes mais ou menos possuidoras, até que o proletariado conquiste o poder do Estado, até que a associação dos proletários se desenvolva, não só num país, mas em todos os países predominantes do mundo, em proporções tais que cesse a competição entre os proletários desses países, e até que pelo menos as forças produtivas decisivas estejam concentradas nas mãos do proletariado. Para nós, não se trata de reformar a propriedade privada, mas de aboli-la; não se trata de atenuar os antagonismos de classe, mas de abolir as classes; não se trata de melhorar a sociedade existente, mas de estabelecer uma nova. Não resta a menor dúvida de que, com o desenvolvimento da revolução, a democracia pequeno-burguesa obterá, na Alemanha, por algum tempo, uma influência predominante. A questão é, pois, saber qual há de ser a atitude do proletariado e particularmente da Liga diante da democracia pequeno-burguesa:
1. Enquanto subsistir a situação atual, em que os democratas pequeno-burgueses também se acham oprimidos;
2. No curso da próxima luta revolucionária, que lhes dará uma situação de superioridade;
3. Ao terminar a luta, durante a situação de sua superioridade sobre as classes derrubadas e sobre o proletariado.
1. No momento presente, quando a pequena-burguesia democrática é oprimida por toda parte, exorta em geral o proletariado à união e à reconciliação, estende-lhe a mão e procura criar um grande partido de oposição, que abranja todas as tendências do partido democrata, isto é, procura arrastar o proletariado a uma organização partidária onde hão de predominar as frases social-democratas de tipo geral, atrás das quais se ocultarão os interesses particulares da democracia pequeno-burguesa, organização na qual, em nome da tão desejada paz, as reivindicações especiais do proletariado não possam ser apresentadas. Semelhante união seria feita em benefício exclusivo da pequena-burguesia democrata e em prejuízo indubitável do proletariado. Este teria perdido a posição independente que conquistou à custa de tantos esforços e cairia uma vez mais na situação de simples apêndice da democracia burguesa oficial. Tal união deve ser, portanto, resolutamente rejeitada. Em vez de descer mais uma vez ao papel de coro laudatório dos democratas burgueses, os operários e, sobretudo, a Liga devem procurar estabelecer, junto aos democratas oficiais, uma organização independente do partido operário, ao mesmo tempo legal e secreta, e fazer de cada comunidade o centro e núcleo de sociedades operárias, nas quais a atitude e os interesses do proletariado possam ser discutidos independentemente das influências burguesas. Uma prova de quão pouco séria é a atitude dos democratas burgueses diante de uma aliança com o proletariado, na qual este tivesse a mesma força e os mesmos direitos que ela, são os democratas de Breslau, cujo órgão de imprensa, o Neue Oder Zeitung, ataca com fúria os operários organizados independentemente, aos quais tacha de socialistas. Para lutar contra um inimigo comum não se precisa de nenhuma união especial. Uma vez que é necessário lutar diretamente contra tal inimigo, os interesses de ambos os partidos coincidem no momento e essa união, como vem ocorrendo até agora, surgirá no futuro por si mesma e momentaneamente. É claro que nos iminentes conflitos sangrentos, assim como em todos os anteriores, serão sobretudo os operários que conquistarão a vitória por seu valor, resolução e espírito de sacrifício. Nessa luta, como nas anteriores, a massa pequeno-burguesa manterá uma atitude de expectativa, de irresolução e inatividade por tanto tempo quanto seja possível, com o propósito de , ao ficar assegurada a vitória, utilizá-la em benefício próprio, convidar os operários a que permaneçam tranqüilos e retornem ao trabalho, evitar os chamados excessos e despojar o proletariado dos frutos da vitória. Não depende dos trabalhadores impedir que a pequena-burguesia democrata proceda desse modo, mas está ao seu alcance dificultar aos democratas burgueses a possibilidade de se imporem ao proletariado pela força das armas e ditar-lhes condições sob as quais o domínio burguês leve desde o princípio o germe de sua queda, facilitando, consideravelmente, sua ulterior substituição pelo poder do proletariado. Durante o conflito e imediatamente depois de terminada a luta, os operários devem procurar, em primeiro lugar e enquanto for possível, resistir às tentativas contemporizadoras da burguesia e obrigar os democratas a levarem à prática as suas atuais frases terroristas. Devem agir de tal maneira que a agitação revolucionária não seja reprimida de novo, imediatamente depois da vitória. Pelo contrário, deverão procurar mantê-la pelo maior tempo possível. Os operários não só não devem opor-se aos chamados excessos, aos atos de vingança popular contra indivíduos odiados ou contra edifícios públicos que o povo só relembre com ódio, não somente devem admitir tais atos, mas assumir a sua direção. Durante a luta, e depois dela, os operários devem aproveitar todas as oportunidades para apresentar suas própria exigências, ao lado das exigências dos democratas burgueses. Devem exigir garantias para os operários tão logo os democratas burgueses se disponham a tomar o poder. Se for preciso, essas garantias devem ser arrancadas pela força. Em geral, é preciso levar os novos governantes a se obrigarem às maiores concessões e promessas; é o meio mais seguro de comprometê-los. Os operários devem conter, em geral e na medida do possível, o entusiasmo provocado pela nova situação e pela embriaguez do triunfo, que se segue a toda luta de rua vitoriosa, opondo a tudo isso uma apreciação fria e serena dos acontecimentos e manifestando abertamente sua desconfiança para com o novo governo. Ao lado dos novos governos oficiais, os operários deverão constituir imediatamente governos operários revolucionários, seja na forma de comitês ou conselhos municipais, seja na forma de clubes operários ou de comitês operários, de tal modo que os governos democrático-burgueses não só percam imediatamente o apoio dos operários, mas também se vejam desde o primeiro momento fiscalizados e ameaçados por autoridades atrás das quais se encontre a massa inteira dos operários. Numa palavra, desde o primeiro instante da vitória, é preciso despertar a desconfiança não mais contra o partido reacionário derrotado, mas contra o antigo aliado, contra o partido que queira explorar a vitória comum no seu exclusivo benefício.
2. Mas, para opor-se enérgica e ameaçadoramente a esse partido, cuja traição aos operários começará desde os primeiros momentos da vitória, estes devem estar armados e organizados. Dever-se-á armar, imediatamente, todo o proletariado, com fuzis, carabinas, canhões e munições; é preciso opor-se ao ressurgimento da velha milícia burguesa, dirigida contra os operários. Onde não se possa adotar essas medidas, os operários devem procurar organizar-se independentemente, como guarda proletária, com chefes e um estado-maior eleitos por eles próprios, e pôr-se às ordens, não do governo, mas dos conselhos municipais revolucionários criados pelos próprios operários. Onde os operários trabalharem em empresas do Estado, deverão promover seu armamento e organização em corpos especiais com comandos eleitos por eles mesmos, ou como unidades que participem da guarda proletária. Sob nenhum pretexto entregarão suas armas e munições; toda tentativa de desarmamento será rejeitada, caso necessário, pela força das armas. Destruição da influência dos democratas burgueses sobre os operários; formação imediata de uma organização independente e armada da classe operária; criação de condições que, na medida do possível, sejam as mais duras e comprometedoras para a dominação temporária e inevitável da democracia burguesa: tais são os pontos principais que o proletariado e, portanto, a Liga devem ter em mente durante a próxima insurreição e depois dela.
3. Logo que os novos governos se tenham consolidado um pouco iniciarão suas lutas contra os operários. A fim de estarem em condições de oporem-se energicamente aos democratas pequeno-burgueses, é preciso, sobretudo, que os operários estejam organizados de modo independente e centralizados através dos seus clubes. Depois da derrocada dos governos existentes, e na primeira oportunidade, o Comitê Central se transferirá para a Alemanha, convocará imediatamente um Congresso, perante o qual proporá as medidas necessárias para a centralização dos clubes operários sob a direção de um organismo estabelecido no centro principal do movimento. A rápida organização de agrupamentos - pelo menos provinciais- dos clubes operários é uma das medidas mais importantes para revigorar e desenvolver o partido operário. A conseqüência imediata da derrubada dos governos existentes há de ser a eleição de uma assembléia nacional representativa. Nela o proletariado deverá fazer com que:
I. Nenhum núcleo operário seja privado do direito de voto, a pretexto algum, nem por qualquer estratagema das autoridades locais ou dos comissários do governo.
II. Ao lado dos candidatos burgueses democráticos figurem em toda parte candidatos operários, escolhidos na medida do possível entre os membros da Liga, e que para o seu triunfo se ponham em jogo todos os meios disponíveis. Mesmo que não exista esperança alguma de triunfo, os operários devem apresentar candidatos próprios para conservar a independência, fazer uma avaliação de forças e demonstrar abertamente a todo mundo sua posição revolucionária e os pontos de vista do partido. Ao mesmo tempo, os operários não devem deixar-se enganar pelas alegações dos democratas de que, por exemplo, tal atitude divide o partido democrático e facilita o triunfo da reação. Todas essas alegações tem o objetivo de iludir o proletariado. Os êxitos que o partido operário alcançar com semelhante atitude independente pesam muito mais do que os danos que possa ocasionar a presença de uns quantos reacionários na assembléia representativa. Se a democracia agir resolutamente, desde o princípio, e com medidas terroristas contra a reação, a influência desta nas eleições ficará de antemão eliminada.
O primeiro ponto a provocar o conflito entre os democratas burgueses e os operários será a abolição do feudalismo. Do mesmo modo que na primeira revolução francesa, os pequeno-burgueses entregarão as terras feudais aos camponeses, na qualidade de propriedade livre, isto é, procurarão conservar o proletariado agrícola e criar uma classe camponesa pequeno-burguesa, que passará pelo mesmo ciclo de empobrecimento e endividamento progressivo em que se encontra, atualmente, o camponês francês.
No interesse do proletariado rural e no seu próprio interesse, os operários têm de opor-se a esse plano. Têm de exigir que a propriedade feudal confiscada fique como propriedade do Estado e seja transformada em colônias operárias, que o proletariado rural associado explore com todas as vantagens da grande exploração agrícola; desse modo, o princípio da propriedade comum obtém logo uma base sólida, no meio das vacilantes relações de propriedade burguesas. Tal como os democratas com os camponeses, os operários têm de unir-se com o proletariado rural. Além disso, os democratas trabalharão diretamente para uma República federativa ou, pelo menos, se não puderem evitar uma República una e indivisível, procurarão paralisar o governo central mediante o máximo possível de autonomia e independência para as comunas e províncias. Frente a esse plano, os operários têm não só de tentar realizar a República alemã una e indivisível, mas também a mais decidida centralização, nela, do poder nas mãos do Estado. Eles não se devem deixar induzir em erro pelo palavreado sobre a liberdade das comunas, o autogoverno etc. Num país como a Alemanha, onde estão ainda por remover tantos resquícios da Idade Média, onde está por quebrar tanto particularismo local e provincial, não se pode tolerar em circunstância alguma que cada aldeia, cada cidade, cada província ponha um novo obstáculo à atividade revolucionária, que só pode emanar do centro em toda a sua força. Não se pode tolerar que se renove o estado de coisas atual, em que os alemães, por um mesmo passo em frente, são obrigados a bater-se separadamente em cada cidade, em cada província. Menos ainda pode tolerar-se que, através de uma organização comunal pretensamente livre, se perpetue uma forma de propriedade - a comunal -, que ainda se situa aquém da propriedade privada moderna e por toda a parte se dissolve necessariamente nesta e as desavenças dela decorrentes entre comunas pobres e ricas, assim como o direito de cidadania comunal, subsistente, com as suas mazelas contra os operários, ao lado do direito de cidadania estatal. Tal como na França em 1793, o estabelecimento da centralização mais rigorosa é hoje, na Alemanha, a tarefa do partido realmente revolucionário**.
Vimos como os democratas chegarão à dominação com o próximo movimento e como serão forçados a propor medidas mais ou menos socialistas. Que medidas os operários devem propor?. Estes não podem, naturalmente, propor quaisquer medidas diretamente comunistas no começo do movimento. Mas podem:
1. Obrigar os democratas a intervir em tantos lados quanto possível da organização social até hoje existente, a perturbar o curso regular desta, a comprometerem-se a concentrar nas mãos do Estado o mais possível de forças produtivas, de meios de transporte, de fábricas, de ferrovias, etc.
2. Têm de levar ao extremo as propostas dos democratas, que não se comportarão em todo o caso como revolucionários mas como simples reformistas, e transformá-las em ataques diretos contra a propriedade privada; por exemplo, se os pequeno-burgueses propuserem comprar os estradas de ferro e as fábricas, os operários têm de exigir que essas estradas de ferro e fábricas, como propriedade dos reacionários, sejam confiscadas simplesmente e sem indenização pelo Estado. Se os democratas propuserem o imposto proporcional, os operários exigirão o progressivo; se os próprios democratas avançarem a proposta de um imposto progressivo moderado, os operários insistirão num imposto cujas taxas subam tão depressa que o grande capital seja com isso arruinado; se os democratas exigirem a regularização da dívida pública, os operários exigirão a bancarrota do Estado. As reivindicações dos operários terão, pois, de se orientar por toda a parte segundo as concessões e medidas dos democratas.
Se os operários alemães não podem chegar à dominação e realização dos seus interesses de classe sem passar por todo um desenvolvimento revolucionário prolongado, pelo menos desta vez eles têm a certeza de que o primeiro ato deste drama revolucionário iminente coincide com a vitória direta de sua própria classe na França e é consideravelmente acelerado por aquela.
Mas têm de ser eles próprios a fazer o máximo pela sua vitória final, esclarecendo-se sobre os seus interesses de classe, tomando o quanto antes a sua posição de partido autônomo, não se deixando um só instante induzir em erro pelas frases hipócritas dos pequeno-burgueses democratas quanto à organização independente do partido do proletariado. Seu grito de batalha tem de ser: a revolução permanente.
Londres, Março de 1850
Obs.: (Digitado a partir de texto traduzido do alemão); os grifos não constavam do original.

Manifesto do Partido Comunista

Manifesto do Partido Comunista
Marx e Engels


Um espectro ronda a Europa - o espectro do comunismo. Todas as potências da velha Europa unem-se numa Santa Aliança para conjurá-lo: o papa e o czar, Metternich e Guizot, os radicais da França e os policiais da Alemanha. Que partido de oposição não foi acusado de comunista por seus adversários no poder? Que partido de oposição, por sua vez, não lançou a seus adversários de direita ou de esquerda a pecha infamante de comunista?
Duas conclusões decorrem desses fatos:
1a. O comunismo já é reconhecido como força por todas as potências da Europa;
2.a. É Tempo de os comunistas exporem, .à face do mundo inteiro, seu modo de ver, seus fins e suas tendências, opondo um manifesto do próprio partido à lenda do espectro do comunismo.
Com este fim, reuniram-se, em Londres, comunistas de várias nacionalidades e redigiram o manifesto seguinte, que será publicado em inglês, francês, alemão, italiano, flamengo e dinamarquês.
I – BURGUESES E PROLETÁRIOS
A história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a história das lutas de classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestre de corporação e companheiro, numa palavra, opressores e oprimidos, em constante oposição, têm vivido numa guerra ininterrupta, ora franca, ora disfarçada; uma guerra que terminou sempre, ou por uma transformação revolucionária, da sociedade inteira, ou pela destruição das duas classes em luta.
Nas primeiras épocas históricas, verificamos, quase por toda parte, uma completa divisão da sociedade em classes distintas, uma escala graduada de condições sociais. Na Roma antiga encontramos patrícios, cavaleiros, plebeus, escravos; na Idade Média, senhores, vassalos, mestres, companheiros, servos; e, em cada uma destas classes, gradações especiais.
A sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas da sociedade feudal, não aboliu os antagonismos de classe. Não fez senão substituir novas classes, novas condições de opressão, novas formas de luta às que existiram no passado. Entretanto, a nossa época, a época da burguesia, caracteriza-se por ter simplificado os antagonismos de classe. A sociedade divide-se cada vez mais em dois vastos campos opostos, em duas grandes classes diametralmente opostas: a burguesia e o proletariado.
Dos servos da Idade Média nasceram os burgueses livres das primeiras cidades; desta população municipal, saíram os primeiros elementos da burguesia.
A descoberta da América, a circunavegação da África ofereceram à burguesia em assenso um novo campo de ação. Os mercados da Índia e da China, a colonização da América, o comércio colonial, o incremento dos meios de troca e, em geral, das mercadorias imprimiram um impulso, desconhecido até então, ao comércio, à indústria, à navegação, e, por conseguinte, desenvolveram rapidamente o elemento revolucionário da sociedade feudal em decomposição.
A antiga organização feudal da indústria, em que esta era circunscrita a corporações fechadas, já não podia satisfazer às necessidades que cresciam com a abertura de novos mercados. A manufatura a substituiu. A pequena burguesia industrial suplantou os mestres das corporações; a divisão do trabalho entre as diferentes corporações desapareceu diante da divisão do trabalho dentro da própria oficina.
Todavia, os mercados ampliavam-se cada vez mais: a procura de mercadorias aumentava sempre. A própria manufatura tornou-se insuficiente; então, o vapor e a maquinaria revolucionaram a produção industrial. A grande indústria moderna suplantou a manufatura; a média burguesia manufatureira cedeu lugar aos milionários da indústria, aos chefes de verdadeiros exércitos industriais, aos burgueses modernos.
A grande indústria criou o mercado mundial preparado pela descoberta da América: O mercado mundial acelerou prodigiosamente o desenvolvimento do comércio, da navegação e dos meios de comunicação por terra. Este desenvolvimento reagiu por sua vez sobre a extensão da indústria; e, à medida que a indústria, o comércio, a navegação, as vias férreas se desenvolviam, crescia a burguesia, multiplicando seus capitais e relegando a segundo plano as classes legadas pela Idade Média.
Vemos, pois, que a própria burguesia moderna é o produto de um longo processo de desenvolvimento, de uma série de revoluções no modo de produção e de troca.
Cada etapa da evolução percorrida, pela burguesia era acompanhada de um progresso político correspondente. Classe oprimida pelo despotismo feudal, associação armada administrando-se a si própria na comuna ; aqui, república urbana independente, ali, terceiro estado, tributário da monarquia; depois, durante o período manufatureiro, contrapeso da nobreza na monarquia feudal ou absoluta, pedra angular das grandes monarquias, a burguesia, desde o estabelecimento da grande indústria e do mercado mundial, conquistou, finalmente, a soberania política exclusiva no Estado representativo moderno. O governo moderno não é senão um comitê para gerir os negócios comuns de toda a classe burguesa.
A burguesia desempenhou na História um papel eminentemente revolucionário.
Onde quer que tenha conquistado o poder, a burguesia calcou aos pés as relações feudais, patriarcais e idílicas. Todos os complexos e variados laços que prendiam o homem feudal a seus "superiores naturais" ela os despedaçou sem piedade, para só deixar subsistir, de homem para homem, o laço do frio interesse, as duras exigências do "pagamento à vista". Afogou os fervores sagrados do êxtase religioso, do entusiasmo cavalheiresco, do sentimentalismo pequeno-burguês nas águas geladas do cálculo egoísta. Fez da dignidade pessoal um simples valor de troca; substituiu as numerosas liberdades, conquistadas com tanto esforço, pela única e implacável liberdade de comércio. Em uma palavra, em lugar da exploração velada por ilusões religiosas e políticas, a burguesia colocou uma exploração aberta, cínica, direta e brutal.
A burguesia despojou de sua auréola todas as atividades até então reputadas veneráveis e encaradas com piedoso respeito. Do médico, do jurista, do sacerdote, do poeta, do sábio fez seus servidores assalariados.
A burguesia rasgou o véu de sentimentalismo que envolvia as relações de família e reduziu-as a simples relações monetárias.
A burguesia revelou como a brutal manifestação de força na Idade Média, tão admirada pela reação, encontra seu complemento natural na ociosidade mais completa. Foi a primeira a provar o que pode realizar a atividade humana: criou maravilhas maiores que as pirâmides do Egito, os aquedutos romanos, as catedrais góticas; conduziu expedições que empanaram mesmo as antigas invasões e as Cruzadas.
A burguesia só pode existir com a condição de revolucionar incessantemente os instrumentos de produção, por conseguinte, as relações de produção e, como isso, todas as relações sociais. A conservação inalterada do antigo modo de produção constituía, pelo contrário, a primeira condição de existência de todas as classes industriais anteriores. Essa revolução contínua da produção, esse abalo constante de todo o sistema social, essa agitação permanente e essa falta de segurança distinguem a época burguesa de todas as precedentes. Dissolvem-se todas as relações sociais antigas e cristalizadas, com seu cortejo de concepções e de idéias secularmente veneradas; as relações que as substituem tornam-se antiquadas antes de se ossificar. Tudo que era sólido e estável se esfuma, tudo o que era sagrado é profanado, e os homens são obrigados finalmente a encarar com serenidade suas condições de existência e suas relações recíprocas.
Impelida pela necessidade de mercados sempre novos, a burguesia invade todo o globo. Necessita estabelecer-se em toda parte, explorar em toda parte, criar vínculos em toda, parte.
Pela exploração do mercado mundial a burguesia imprime um caráter cosmopolita à produção e ao consumo em todos os países. Para desespero dos reacionários, ela retirou à indústria sua base nacional. As velhas indústrias nacionais foram destruídas e continuam a sê-lo diariamente. São suplantadas por novas indústrias, cuja introdução se torna uma questão vital para todas as nações civilizadas, indústrias que não empregam mais matérias-primas autóctones, mas sim matérias-primas vindas das regiões mais distantes, e cujos produtos se consomem não somente no próprio país mas em todas as partes do globo. Em lugar das antigas necessidades, satisfeitas pelos produtos nacionais, nascem novas necessidades, que reclamam para sua satisfação os produtos das regiões mais longínquas e dos climas mais diversos. Em lugar do antigo isolamento de regiões e nações que se bastavam a si próprias, desenvolvem-se um intercâmbio universal, uma universal interdependência das nações. E isto se refere tanto à produção material como à produção intelectual.
As criações intelectuais de uma nação tornam-se propriedade comum de todas. A estreiteza e o exclusivismo nacionais tornam-se cada vez mais impossíveis; das inúmeras literaturas nacionais e locais, nasce uma literatura universal.
Devido ao rápido aperfeiçoamento dos instrumentos de produção e ao constante progresso dos meios de comunicação, a burguesia arrasta para a torrente da civilização mesmo as nações mais bárbaras. Os baixos preços de seus produtos são a artilharia pesada que destroi todas as muralhas da China e obriga a capitularem os bárbaros mais tenazmente hostis aos estrangeiros. Sob pena de morte, ela obriga todas as nações a adotarem o modo burguês de produção, constrange-as a abraçar o que ela chama civilização, isto é, a se tornarem burguesas. Em uma palavra, cria um mundo à sua imagem e semelhança.
A burguesia submeteu o campo à cidade. Criou grandes centros urbanos; aumentou prodigiosamente. a população das cidades em relação à dos campos e, com isso, arrancou uma grande parte da população do embrutecimento da vida rural. Do mesmo modo que subordinou o campo à cidade, os países bárbaros ou semi-bárbaros aos países civilizados, subordinou os povos camponeses aos povos burgueses, o Oriente ao Ocidente.
A burguesia suprime cada vez mais a dispersão dos meios de produção, da propriedade e da população. Aglomerou as populações, centralizou os meios de produção e concentrou a propriedade em poucas mãos. A conseqüência necessária dessas transformações foi a centralização política. Províncias independentes, apenas ligadas por débeis laços federativos, possuindo interesses, leis, governos e tarifas aduaneiras diferentes, foram reunidas em uma só nação, com um só governo, uma só lei, um só interesse nacional de classe, uma só barreira alfandegária.
A burguesia, durante seu domínio de classe, apenas secular, criou forças produtivas mais numerosas e mais colossais que todas as gerações passadas em conjunto. A subjugação das forças da natureza, as máquinas, a aplicação da . química à indústria e à agricultura, a navegação a vapor, as estradas de ferro, o telégrafo elétrico, a exploração de continentes inteiros, a canalização dos rios, populações inteiras brotando na terra como por encanto - que século anterior teria suspeitado que semelhantes forças produtivas estivessem adormecidas no seio do trabalho social?
Vemos pois: os meios de produção e de troca, sobre cuja base se ergue a burguesia, foram gerados no seio da sociedade feudal. Em um certo grau do desenvolvimento desses meios de produção e de troca, as condições em que a sociedade feudal produzia e trocava, a .organização feudal da agricultura e da manufatura, em suma, o regime feudal de propriedade, deixaram de corresponder às forças produtivas em pleno desenvolvimento. Entravavam a produção em lugar de impulsioná-la. Transformaram-se em outras tantas cadeias que era preciso despedaçar; foram despedaçadas.
Em seu lugar, estabeleceu-se a livre concorrência, com uma organização social e política correspondente, com a supremacia econômica e política da classe burguesa.
Assistimos hoje a um processo semelhante. As relações burguesas de produção e de troca, o regime burguês de propriedade, a sociedade burguesa moderna, que conjurou gigantescos meios de produção e de troca, assemelha-se ao feiticeiro que já não pode controlar as potências infernais que pôs em movimento com suas palavras mágicas. Há dezenas de anos, a história da indústria e do comércio não é senão a história da revolta das forças produtivas modernas contra as modernas relações de produção e de propriedade que condicionam a existência da burguesia e seu domínio. Basta mencionar as crises comerciais que, repetindo-se periodicamente, ameaçam cada vez mais a existência da sociedade burguesa. Cada crise destroi regularmente não só uma grande massa de produtos já fabricados, mas também uma grande parte das próprias forças produtivas já desenvolvidas. Uma epidemia, que em qualquer outra época teria parecido um paradoxo, desaba sobre a sociedade - a epidemia da superprodução. Subitamente, a sociedade vê-se reconduzida a um estado de barbaria momentânea; dir-se-ia que a fome ou uma guerra de extermínio cortaram-lhe todos os meios de subsistência; a indústria e o comércio parecem aniquilados. E por quê? Porque a sociedade possui demasiada civilização, demasiados meios de subsistência, demasiada indústria, demasiado comércio. As forças produtivas de que dispõe não mais favorecem o desenvolvimento das relações de propriedade burguesa; pelo contrário, tornaram-se por demais poderosas para essas condições, que passam a entravá-las; e todas as vezes que as forças produtivas sociais se libertam desses entraves, precipitam na desordem a sociedade inteira e ameaçam a existência da propriedade burguesa. O sistema burguês tornou-se demasiado estreito para conter as riquezas criadas em seu seio. De que maneira consegue a burguesia vencer essas crises? De um lado, pela destruição violenta de grande quantidade de forças produtivas; de outro lado, pela conquista de novos mercados e pela exploração mais intensa dos antigos. A que leva isso? Ao preparo de crises mais extensas e mais destruidoras e à diminuição dos meios de evitá-las.
As armas que a burguesia utilizou para abater o feudalismo, voltam-se hoje contra a própria burguesia. A burguesia, porém, não forjou somente as armas que lhe darão morte; produziu também os homens que manejarão essas armas - os operários modernos, os proletários. Com o desenvolvimento da burguesia, isto é, do capital, desenvolve-se também o proletariado, a classe dos operários modernos, que só podem viver se encontrarem trabalho, e que só encontram trabalho na medida em que este aumenta o capital. Esses operários, constrangidos a vender-se diariamente, são mercadoria, artigo de comércio como qualquer outro; em conseqüência, estão sujeitos a todas as vicissitudes da concorrência, a todas as flutuações do mercado. O crescente emprego de máquinas e a divisão do trabalho, despojando o trabalho do operário de seu caráter autônomo, tiram-lhe todo atrativo. O produtor passa a um simples apêndice da máquina e só se requer dele a operação mais simples, mais monótona, mais fácil de aprender. Desse modo, o custo do operário se reduz, quase exclusivamente, aos meios de manutenção que lhe são necessários para viver e perpetuar sua existência. Ora, o preço do trabalho , como de toda mercadoria, é igual ao custo de sua produção. Portanto, à medida que aumenta o caráter enfadonho do trabalho, decrescem os salários. Mais ainda, a quantidade de trabalho cresce com o desenvolvimento do maquinismo e da divisão do trabalho, quer pelo prolongamento das horas de labor, quer pelo aumento do trabalho exigido em um tempo determinado, pela aceleração do movimento das máquinas, etc. A indústria moderna transformou a pequena oficina do antigo mestre da corporação patriarcal na grande fábrica do industrial capitalista. Massas de operários, amontoados na fábrica, são organizadas militarmente. Como soldados da indústria, estão sob a vigilância de uma hierarquia completa de oficiais e suboficiais. Não são somente escravos da classe burguesa, do Estado burguês, mas também diariamente, a cada hora, escravos da máquina, do contramestre e, sobretudo, do dono da fábrica. E esse despotismo é tanto mais mesquinho, odioso e exasperador quanto maior é a franqueza com que proclama ter no lucro seu objetivo exclusivo. Quanto menos o trabalho exige habilidade e força, isto é, quanto mais a indústria moderna progride, tanto mais o trabalho dos homens é suplantado pelo das mulheres e crianças. As diferenças de idade e de sexo não têm mais importância social para a classe operária. Não há senão instrumentos de trabalho, cujo preço varia segundo a idade e o sexo. Depois de sofrer a exploração do fabricante e de receber seu salário em dinheiro, o operário torna-se presa de outros membros da burguesia, do proprietário, do varejista, do usurário, etc. As camadas inferiores da classe média de outrora, os pequenos industriais, pequenos comerciantes e pessoas que possuem rendas, artesãos e camponeses, caem nas fileiras do proletariado: uns porque seus pequenos capitais, não lhes permitindo empregar os processos da grande indústria, sucumbiram na concorrência com os grandes capitalistas; outros porque sua habilidade profissional é depreciada pelos novos métodos de produção. Assim, o proletariado é recrutado em todas as classes da população. O proletariado passa por diferentes fases de desenvolvimento. Logo que nasce começa sua luta contra a burguesia. A princípio, empenham-se na luta operários isolados, mais tarde, operários de uma mesma fábrica, finalmente operários do mesmo ramo de indústria, de uma mesma localidade, contra o burguês que os explora diretamente. Não se limitam a atacar as relações burguesas de produção, atacam os instrumentos de produção: destroem as mercadorias estrangeiras que lhes fazem concorrência, quebram as máquinas, queimam as fábricas e esforçam-se para reconquistar a posição perdida do artesão da Idade Média. Nessa fase, constitui o proletariado massa disseminada por todo o país e dispersa pela concorrência. Se, por vezes, os operários se unem para agir em massa compacta, isto não é ainda o resultado de sua própria união, mas da união da burguesia que, para atingir seus próprios fins políticos, é levada a por em movimento todo o proletariado, o que ainda pode fazer provisoriamente. Durante essa fase, os proletários não combatem ainda seus próprios inimigos, mas os inimigos de seus inimigos, isto é, os restos da monarquia absoluta, os proprietários territoriais, os burgueses não industriais, os pequenos burgueses. Todo o movimento histórico está desse modo concentrado nas mães da burguesia e qualquer vitória alcançada nessas condições é uma vitória burguesa. Ora, a indústria, desenvolvendo-se, não somente aumenta o número dos proletários, mas concentra-os em massas cada vez mais consideráveis; sua força cresce e eles adquirem maior consciência dela. Os interesses, as condições de existência dos proletários se igualam cada vez mais, à medida que a máquina extingue toda diferença do trabalho e quase por toda parte reduz o salário a um nível igualmente baixo. Em virtude da concorrência crescente dos burgueses entre si e devido às crises comerciais que disso resultam, os salários se tornam cada vez mais instáveis; o aperfeiçoamento constante e cada vez mais rápido das máquinas torna a condição de vida do operário cada vez mais precária; os choques individuais entre o operário e o burguês tomam cada vez mais o caráter de choques entre duas classes. Os operários começam a formar uniões contra os burgueses e atuam em comum na defesa de seus salários; chegam a fundar associações permanentes a fim de se prepararem, na previsão daqueles choques eventuais. Aqui e ali a luta se transforma em motim. Os operários triunfam às vezes; mas é um triunfo efêmero. O verdadeiro resultado de suas lutas não é o êxito imediato, mas a união cada vez mais ampla dos trabalhadores. Esta união é facilitada pelo crescimento dos meios de comunicação criados pela grande indústria e que permitem o contato entre operários de localidades diferentes. Ora, basta esse contato para concentrar as numerosas lutas locais, que têm o mesmo caráter em toda parte, em uma luta nacional, em uma luta de classes. Mas toda luta de classes é uma luta política. E a união que os habitantes das cidades da Idade Média levavam séculos a realizar, com seus caminhos vicinais, os proletários modernos realizam em alguns anos por meio das vias férreas. A organização do proletariado em classe e, portanto, em partido político, é incessantemente destruída pela concorrência que fazem entre si os próprios operários. Mas renasce sempre, e cada vez mais forte, mais firme, mais poderosa. Aproveita-se das divisões intestinas da burguesia para obrigá-la ao reconhecimento legal de certos interesses da classe operária, como, por exemplo, a lei da jornada de dez horas de trabalho na Inglaterra. Em geral, os choques que se produzem na velha sociedade favorecem de diversos modos o desenvolvimento do proletariado. A burguesia vive em guerra perpétua; primeiro, contra a aristocracia; depois, contra as frações da própria burguesia cujos interesses se encontram em conflito com os progressos da indústria; e sempre contra a burguesia dos países estrangeiros. Em todas essas lutas, vê-se forçada a apelar para o proletariado, reclamar seu concurso e arrastá-lo assim para o movimento político, de modo que a burguesia fornece aos proletários os elementos de sua própria educação política, isto é, armas contra ela própria. Demais, como já vimos, frações inteiras da classe dominante, em conseqüência do desenvolvimento da indústria são precipitadas no proletariado, ou ameaçadas, pelo menos, em suas condições de existência. Também elas trazem ao proletariado numerosos elementos de educação. Finalmente, nos períodos em que a luta de classes se aproxima da hora decisiva, o processo de dissolução da classe dominante, de toda a velha sociedade, adquire um caráter tão violento e agudo, que uma pequena fração da classe dominante se desliga desta, ligando-se à classe, revolucionária, a classe que traz em si o futuro. Do mesmo modo que outrora uma parte da nobreza passou-se para a burguesia, em nossos dias, uma parte da burguesia passa-se para o proletariado, especialmente a parte dos ideólogos burgueses que chegaram à compreensão teórica do movimento histórico em seu conjunto. De todas as classes que ora enfrentam a burguesia, só o proletariado é uma classe verdadeiramente revolucionária. As outras classes degeneram e perecem com o desenvolvimento da grande indústria; o proletariado pelo contrário, é seu produto mais autêntico. As classes médias - pequenos comerciantes, pequenos fabricantes, artesãos, camponeses - combatem a burguês " porque esta compromete sua existência como classes médias. Não são, pois, revolucionárias, mas conservadoras; mais ainda, reacionárias, pois pretendem fazer girar para trás a rada da História. Quando são revolucionárias é em conseqüência de sua iminente passagem para o proletariado; não defendem então seus interesses atuais, mas seus interesses futuros; abandonam seu próprio ponto de vista para se colocar no do proletariado.
O lumpen-proletariado, esse produto passivo da putrefação das camadas mais baixas da velha sociedade, pode, às vezes, ser arrastado ao movimento por uma revolução proletária; todavia, suas condições de vida o predispõem mais a vender-se a reação.
Nas condições de existência do proletariado já estão destruídas as da velha sociedade. O proletário não tem propriedade; suas relações com a mulher e os filhos nada têm de comum com as relações familiares burguesas. O trabalho industrial moderno, a sujeição do operário pelo capital, tanto na Inglaterra como na França, na América como na Alemanha, despoja o proletário de todo caráter nacional. As leis, a moral, a religião são para ele meros preconceitos burgueses, atrás dos quais se ocultam outros tantos interesses burgueses.
Todas as classes que no passado conquistaram o poder trataram de consolidar a situação adquirida submetendo a sociedade às suas condições de apropriação. Os proletários não podem apoderar-se das forças produtivas sociais senão abolindo o modo de apropriação que era próprio a estas e, por conseguinte, todo modo de apropriação em vigor até hoje. Os proletários nada têm de seu a salvaguardar; sua missão é destruir todas as garantias e seguranças da propriedade privada até aqui existentes.
Todos os movimentos históricos têm sido, até hoje, movimentos de minorias ou em proveito de minorias. O movimento proletário é o movimento independente da imensa maioria em proveito da imensa maioria. O proletariado, a camada inferior da sociedade atual, não pode erguer-se, por-se de pé, sem fazer saltar todos os estratos superpostos que constituem a sociedade oficial.
A luta do proletariado contra a burguesia, embora não seja na essência uma luta nacional, reverte-se contudo dessa forma nos primeiros tempos. É natural que o proletariado de cada país deva, antes de tudo, liquidar sua própria burguesia.
Esboçando em linhas gerais as fases do desenvolvimento proletário, descrevemos a história da guerra civil, mais ou menos oculta, que lavra na sociedade atual, até a hora em que essa guerra explode numa revolução aberta e o proletariado estabelece sua dominação pela derrubada violenta da burguesia.
Todas as sociedades anteriores, como vimos, se basearam no antagonismo entre classes opressoras e classes oprimidas. Mas para oprimir uma classe é preciso poder garantir-lhe condições tais que lhe permitam pelo menos uma existência de escravo: O servo, em plena servidão, conseguia tornar-se membro da comuna, da mesma forma que o pequeno burguês, sob o jugo do absolutismo feudal, elevava-se à categoria de burguês. O operário moderno, pelo contrário, longe de se elevar com o progresso da indústria, desce cada vez mais abaixo das condições de sua própria classe. O trabalhador cai no pauperismo, e este cresce ainda mais rapidamente que a população e a riqueza. É, pois, evidente que a burguesia é incapaz de continuar desempenhando o papel de classe dominante ; e de impor à sociedade, como lei suprema, as condições . de existência de sua classe. Não pode exercer o seu ' domínio porque não pode mais assegurar a existência de seu escravo, mesmo no quadro de sua escravidão, porque é obrigada a deixá-lo cair numa tal situação, que deve nutri-lo em lugar de se fazer nutrir por ele. A sociedade não pode mais existir sob sua dominação, o que quer dizer que a existência da burguesia é, doravante, incompatível com a da sociedade.
A condição essencial da existência e da supremacia da classe burguesa é a acumulação da riqueza nas mãos dos particulares, a formação e o crescimento do capital a condição de existência do capital é o trabalho assalariado. Este baseia-se exclusivamente na concorrência dos operários entre si. O progresso da indústria, de que a burguesia é agente passivo e inconsciente, substitui o isolamento dos operários, resultante de sua competição, por sua união revolucionária mediante a associação. Assim, o desenvolvimento da grande indústria socava o terreno em que a burguesia assentou o seu regime de produção e de apropriação dos produtos. A burguesia produz, sobretudo, seus próprios coveiros. Sua queda e a vitória do proletariado são igualmente inevitáveis.
II - PROLETÁRIOS E COMUNISTAS
Qual a posição dos comunistas diante dos proletários em geral? Os comunistas não formam um partido à parte, oposto aos outros partidos operários.
Não têm interesses que os separem do proletariado em geral.
Não proclamam princípios particulares, segundo os quais pretenderiam modelar o movimento operário.
Os comunistas só se distinguem dos outros partidos operários em dois pontos: 1) Nas diversas lutas nacionais dos proletários, destacam e fazem prevalecer os interesses comuns do proletariado, independentemente da nacionalidade; 2) Nas diferentes fases por que passa a luta entre proletários e burgueses, representam, sempre e em toda parte, os interesses do movimento em seu conjunto.
Praticamente, os comunistas constituem, pois, a fração mais resoluta dos partidos operários de cada país, a fração que impulsiona as demais; teoricamente têm sobre o resto do proletariado a vantagem de uma compreensão nítida das condições, da marcha e dos fins gerais do movimento proletário.
O objetivo imediato dos comunistas é o mesmo que o de todos os demais partidos proletários: constituição dos proletários em classe, derrubada da supremacia burguesa, conquista do poder político pelo proletariado
. As concepções teóricas dos comunistas não se baseiam, de modo algum, em idéias ou princípios inventados ou descobertos por tal ou qual reformador do mundo. São apenas a expressão geral das condições reais de uma luta de classes existente, de um movimento histórico que se desenvolve sob os nossos olhos. A abolição das relações de propriedade que têm existido até hoje não é uma característica peculiar e exclusiva do comunismo.
Todas as relações de propriedade têm passado por modificações constantes em conseqüência das contínuas transformações das condições históricas.
A Revolução Francesa, por exemplo, aboliu a propriedade feudal em proveito da propriedade burguesa.
O que caracteriza o comunismo não é a abolição da propriedade em geral, mas a abolição da propriedade burguesa. Ora, a propriedade privada atual, a propriedade burguesa, é a última e mais perfeita expressão do modo de produção e de apropriação baseado nos antagonismos de classe, na exploração de uns pelos outros.
Nesse sentido, os comunistas podem resumir sua teoria nesta fórmula única: abolição da propriedade privada. Censuram-nos, a nós comunistas, o querer abolir a propriedade pessoalmente adquirida, fruto do trabalho do indivíduo, propriedade que se declara ser a base de toda liberdade, de toda independência individual.
A propriedade pessoal, fruto do trabalho e do mérito! Pretende-se falar da propriedade do pequeno burguês, do pequeno camponês, forma de propriedade anterior à propriedade burguesa? Não precisamos aboli-la, porque o progresso da indústria já a aboliu e continua a aboli-la diariamente. Ou por ventura pretende-se falar da propriedade privada atual, da propriedade burguesa?
Mas, o trabalho do proletário, o trabalho assalariado cria propriedade para o proletário? De nenhum modo. Cria o capital, isto é, a propriedade que explora o trabalho assalariado e que só pode aumentar sob a condição de produzir novo trabalho assalariado, a fim de explorá-lo novamente. Em sua forma atual a propriedade se move entre os dois termos antagônicos: capital e trabalho.
Examinemos os dois termos dessa antinomia.
Ser capitalista significa ocupar não somente uma posição pessoal, mas também uma posição social na produção. O capital é um produto coletivo: só pode ser posto em movimento pelos esforços combinados de muitos membros da sociedade, e mesmo, em última instância, pelos esforços combinados de todos os membros da sociedade.
O capital não é, pois, uma força pessoal; é uma força social. Assim, quando o capital é transformado em propriedade comum, pertencente a todos os membros da sociedade, não é uma propriedade pessoal que se transforma em propriedade social. O que se transformou foi apenas o caráter social da propriedade. Esta, perde seu caráter de classe.
Passemos ao trabalho assalariado.
O preço médio que se paga pelo trabalho assalariado é o mínimo de salário, isto é, a soma dos meios de subsistência necessária para que o operário viva como operário. Por conseguinte, o que o operário obtém com o seu trabalho é o estritamente necessário para a mera conservação e reprodução de sua vida. Não queremos de nenhum modo abolir essa apropriação pessoal dos produtos do trabalho, indispensável à manutenção e à reprodução da vida humana, pois essa apropriação não deixa nenhum lucro líquido que confira poder sobre o trabalho alheio. O que queremos é suprimir o caráter miserável desta, apropriação que faz com que o operário só viva para aumentar o capital e só viva na medida em que o exigem os interesses da classe dominante.
Na sociedade burguesa, o trabalho vivo é sempre um meio de aumentar o trabalho acumulado. Na sociedade comunista, o trabalho acumulado é sempre um meio de ampliar, enriquecer e melhorar cada vez mais a existência dos trabalhadores.
Na sociedade burguesa, o passado domina o presente; na sociedade comunista é o presente que domina o passado. Na sociedade burguesa, o capital é independente e pessoal, ao passo que o indivíduo que trabalha não tem nem independência nem personalidade. a abolição de semelhante estado de coisas que a burguesia verbera como a abolição da individualidade e da liberdade. E com razão. Porque se trata efetivamente de abolir a individualidade burguesa, a independência burguesa, a liberdade burguesa.
Por liberdade, nas condições atuais da produção burguesa, compreende-se a liberdade de comércio, a liberdade de comprar e vender.
Mas, se o tráfico desaparece, desaparecerá também a liberdade de traficar. Demais, toda a fraseologia sobre a liberdade de comércio, bem como todas as basófias liberais de nossa burguesia só têm sentido quando se referem ao comércio tolhido e ao burguês oprimido da Idade Média; nenhum sentido têm quando se trata da abolição comunista do tráfico, das relações burguesas de produção e da própria burguesia.
Horrorizai-vos porque queremos abolir a propriedade privada. Mas em vossa sociedade a propriedade privada está abolida para nove décimos de seus membros. E é precisamente porque não existe para estes nove décimos que ela existe para vós. Acusai-nos, portanto, de querer abolir uma forma de propriedade que só pode existir com a condição de privar de toda propriedade a imensa maioria da sociedade.
Em resumo, acusai-nos de querer abolir vossa propriedade. De fato, é isso que queremos.
Desde o momento em que o trabalho não mais pode ser convertido em capital, em dinheiro, em renda da terra, numa palavra, em poder social capaz de ser monopolizado, isto é, desde o momento em que a propriedade individual não possa mais se converter em propriedade burguesa, declarais que a individualidade está suprimida.
Confessais, pois, que quando falais do indivíduo, quereis referir-vos unicamente ao burguês, ao proprietário burguês. E este indivíduo, sem dúvida, deve ser suprimido.
O comunismo não retira a ninguém o poder de apropriar-se de sua parte dos produtos sociais, apenas suprime o poder de escravizar o trabalho de outrem por meio dessa apropriação.
Alega-se ainda que, com a abolição da propriedade privada, toda a atividade cessaria, uma inércia geral apoderar-se-ia do mundo.
Se isso fosse verdade, há muito que a sociedade burguesa teria sucumbido à ociosidade, pois que os que no regime burguês trabalham não lucram e os que lucram não trabalham. Toda a objeção se reduz a essa tautologia : não haverá mais trabalho assalariado quando não mais existir capital.
As acusações feitas contra o modo comunista de produção e de apropriação dos produtos materiais têm sido feitas igualmente contra a produção e a apropriação dos produtos do trabalho intelectual. Assim como o desaparecimento da propriedade de classe eqüivale, para o burguês, ao desaparecimento de toda a produção, também o desaparecimento da cultura de classe significa, para ele, o desaparecimento de toda a cultura.
A cultura, cuja perda o burguês deplora, é, para a imensa maioria dos homens, apenas um adestramento que os transforma em máquinas.
Mas não discutais conosco enquanto aplicardes à abolição da propriedade burguesa o critério de vossas noções burguesas de liberdade, cultura, direito, etc. Vossas próprias idéias decorrem do regime burguês de produção e de propriedade burguesa, assim como vosso direito não passa da vontade de vossa classe erigida em lei, vontade cujo conteúdo é determinado pelas condições materiais de vossa existência como classe.
A falsa concepção interesseira que vos leva a erigir em leis eternas da natureza e da razão as relações sociais oriundas do vosso modo de produção e de propriedade - relações transitórias que surgem e desaparecem no curso da produção - a compartilhais com todas as classes dominantes já desaparecidas. O que admitis para a propriedade antiga, o que admitis para a propriedade feudal, já não vos atreveis a admitir para a propriedade burguesa.
Abolição da família! Até os mais radicais ficam indignados diante desse desígnio infame dos comunistas. Sobre que fundamento repousa a família atual, a família burguesa? No capital, no ganho individual. A família, na sua plenitude, só existe para a burguesia, mas encontra seu complemento na supressão forçada da família para o proletário e na prostituição pública.
A família burguesa desvanece-se naturalmente com o desvanecer de seu complemento, e uma e outra desaparecerão com o desaparecimento do capital.
Acusai-nos de querer abolir a exploração das crianças por seus próprios pais? Confessamos este crime.
Dizeis também que destruímos os vínculos mais íntimos, substituindo a educação doméstica pela educação social. E vossa educação não é também determinada pela sociedade, pelas condições sociais em que educais vossos filhos, pela intervenção direta ou indireta da sociedade por meio de vossas escolas, etc? Os comunistas não inventaram essa intromissão da sociedade na educação, apenas mudam seu caráter e arrancam a educação à influência da classe dominante.
As declamações burguesas sobre a família e a educação, sobre os doces laços que unem a criança aos pais, tornam-se cada vez mais repugnantes à medida que a grande indústria destrói todos os laços familiares do proletário e transforma as crianças em simples objetos de comércio, em simples instrumentos de trabalho.
Toda a burguesia grita em côro: "Vós, comunistas, quereis introduzir a comunidade das mulheres!"
Para o burguês, sua mulher nada mais é que um instrumento de produção. Ouvindo dizer que os instrumentos de produção serão explorados em comum, conclui naturalmente que haverá comunidade de mulheres. Não imagina que se trata precisamente de arrancar a mulher de seu papel atual de simples instrumento de produção.
Nada mais grotesco, aliás, que a virtuosa indignação que, a nossos burgueses, inspira a pretensa comunidade oficial das mulheres que adotariam os comunistas. Os comunistas não precisam introduzir a comunidade das mulheres. Esta quase sempre existiu.
Nossos burgueses, não contentes em ter à sua disposição as mulheres e as filhas dos proletários, sem falar da prostituição oficial, têm singular prazer em cornearem-se uns aos outros.
O casamento burguês é, na realidade, a comunidade das mulheres casadas. No máximo, poderiam acusar os comunistas de querer substituir uma comunidade de mulheres, hipócrita e dissimulada, por outra que seria franca e oficial. De resto, é evidente que, com a abolição das relações de produção atuais, a comunidade das mulheres que deriva dessas relações, isto é, a prostituição oficial e não oficial, desaparecerá.
Além disso, os comunistas são acusados de querer abolir a pátria, a nacionalidade.
Os operários não têm pátria. Não se lhes pode tirar aquilo que não possuem. Como, porém, o proletariado tem por objetivo conquistar o poder político e erigir-se em classe dirigente da nação, tornar-se ele mesmo a nação, ele é, nessa medida, nacional, embora de nenhum modo no sentido burguês da palavra.
As demarcações e os antagonismos nacionais entre os povos desaparecem cada vez mais com o desenvolvimento da burguesia, com a liberdade do comércio e o mercado mundial, com a uniformidade da produção industrial e as condições de existência que lhe correspondem.
A supremacia do proletariado fará com que tais demarcações e antagonismos desapareçam ainda mais depressa. A ação comum do proletariado, pelo menos nos países civilizados, é uma das primeiras condições para sua emancipação.
Suprimi a exploração do homem pelo homem e tereis suprimido a exploração de uma nação por outra.
Quando os antagonismos de classe, no interior das nações, tiverem desaparecido, desaparecerá a hostilidade entre as próprias nações.
Quanto às acusações feitas aos comunistas em nome da religião, da filosofia e da ideologia em geral, não merecem um exame aprofundado.
Será preciso grande perspicácia para compreender que as idéias, as noções e as concepções, numa palavra, que a consciência do homem se modifica com toda mudança sobrevinda em suas condições de vida, em suas relações sociais, em sua existência social?
Que demonstra a história das idéias senão que a produção intelectual se transforma com a produção material? As idéias dominantes de uma época sempre foram as idéias da classe dominante.
Quando se fala de idéias que revolucionam uma sociedade inteira, isto quer dizer que, no seio da velha sociedade, se formaram os elementos de uma nova sociedade e que a dissolução das velhas idéias marcha de par com a dissolução das antigas condições de vida.
Quando o mundo antigo declinava, as velhas religiões foram vencidas pela religião cristã; quando, no século XVIII, as idéias cristãs cederam lugar às idéias racionalistas, a sociedade feudal travava sua batalha decisiva contra a burguesia então revolucionária. As idéias de liberdade religiosa e de liberdade de consciência não fizeram mais que proclamar o império da livre concorrência no domínio do conhecimento.
"Sem dúvida, - dir-se-á - as idéias religiosas, morais, filosóficas, políticas, jurídicas, etc, modificaram-se no curso do desenvolvimento histórico, mas a religião, a moral, a filosofia, a política, o direito mantiveram-se sempre através dessas transformações.
Além disso, há verdades eternas, como a liberdade, a justiça, etc, que são comuns a todos os regimes sociais. Mas o comunismo quer abolir estas verdades eternas, quer abolir a religião e a moral, em lugar de lhes dar uma nova forma, e isso contradiz todo o desenvolvimento histórico anterior."
A que se reduz essa acusação? A história de toda a sociedade até nossos dias consiste no desenvolvimento dos antagonismos de classe, antagonismos que se têm revestido de formas diferentes nas diferentes épocas.
Mas qualquer que tenha sido a forma desses antagonismos, a exploração de uma parte da sociedade por outra é um fato comum a todos os séculos anteriores. Portanto, nada há de espantoso que a consciência social de todos os séculos, apesar de toda sua variedade e diversidade, se tenha movido sempre sob certas formas comuns, formas de consciência que só se dissolverão completamente com o desaparecimento total dos antagonismos de classe.
A revolução comunista é a ruptura mais radical com as relações tradicionais de propriedade; nada de estranho, portanto, que no curso de seu desenvolvimento, rompa, do modo mais radical, com as idéias tradicionais.
Mas deixemos de lado as objeções feitas pela burguesia ao comunismo.
Vimos acima que a primeira fase da revolução operária é o advento do proletariado como classe dominante, a conquista da democracia.
O proletariado utilizará sua supremacia política para arrancar pouco a pouco todo capital à burguesia, para centralizar todos os instrumentos de produção nas mãos do Estado, isto é, do proletariado organizado em classe dominante, e para aumentar, o mais rapidamente possível, o total das forças produtivas.
Isto naturalmente só poderá realizar-se, a principio, por uma violação despótica do direito de propriedade e das relações de produção burguesas, isto é, pela aplicação de medidas que, do ponto de vista econômico, parecerão insuficientes e insustentáveis, mas que no desenrolar do movimento ultrapassarão a si mesmas e serão indispensáveis para transformar radicalmente todo o modo de produção.
Essas medidas, é claro, serão diferentes nos vários países.
Todavia, nos países mais adiantados, as seguintes medidas poderão geralmente ser postas em prática:
1. Expropriação da propriedade latifundiária e emprego da renda da terra em proveito do Estado.
2. Imposto fortemente progressivo.
3. Abolição do direito de herança.
4. Confiscação da propriedade de todas os emigrados e sediciosos.
5. Centralização do crédito nas mãos do Estado por
meio de um banco nacional com capital do Estado e com o monopólio exclusivo.
6. Centralização, nas mãos do Estado, de todos os meios de transporte.
7. Multiplicação das fábricas e dos instrumentos de produção pertencentes ao Estado, arroteamento das terras incultas e melhoramento das terras cultivadas, segundo um plano geral.
8. Trabalho obrigatório para todos, organização de exércitos industriais, particularmente para a agricultura.
9. Combinação do trabalho agrícola e industrial,
medidas tendentes a fazer desaparecer gradualmente a distinção entre a cidade e o campo
10. Educação pública e gratuita de todas as crianças, abolição do trabalho das crianças nas fábricas, tal como é praticado hoje. Combinação da educação com a produção material, etc.
Uma vez desaparecidos os antagonismos de classe no curso do desenvolvimento e sendo concentrada toda a produção propriamente dita nas mãos dos indivíduos associados, o poder público perderá seu caráter político. O poder político é o poder organizado de uma classe para a opressão de outra. Se o proletariado, em sua luta contra a burguesia, se constitui forçosamente em classe, se se converte por uma revolução em classe dominante e, como classe dominante, destrói violentamente as antigas relações de produção, destrói, justamente com essas relações de produção, as condições dos antagonismos entre as classes, destrói as classes em geral e, com isso, sua própria dominação como classe.
Em lugar da antiga sociedade burguesa, com suas classes e antagonismos de classe, surge uma associação onde o livre desenvolvimento de cada um é a condição do livre desenvolvimento de todos.
III – LITERATURA SOCIALISTA E COMUNISTA
1) O socialismo reacionário
a)o socialismo feudal
Devido à sua posição histórica, as aristocracias da França e da Inglaterra viram-se chamadas a lançar libelos contra a sociedade burguesa. Na revolução francesa de julho de 1830 e no movimento reformador inglês, tinham sucumbido mais uma vez sob os golpes desta odiada arrivista. Elas não podiam mais travar uma luta política séria; só Ihes restava a luta literária. Ora, também no domínio literário, tornara-se impossível a velha fraseologia da Restauração.
Para criar simpatias, era preciso que a aristocracia fingisse descurar seus próprios interesses e dirigisse sua acusação contra a burguesia, aparentando defender apenas os interesses da classe operária explorada. Desse modo, entregou-se ao prazer de cantarolar sátiras sobre os novos senhores e de lhe segredar ao ouvida profecias de mau augúrio.
Assim nasceu o socialismo feudal, onde se mesclavam jeremiadas e libelos, ecos do passado e ameaça sobre o futuro. Se por vezes a sua crítica amarga, mordaz e espirituosa feriu a burguesia no coração, sua impotência absoluta de compreender a marcha da História moderna terminou sempre por um efeito cômico.
A guisa de bandeira, estes senhores arvoraram a sacola do mendigo, a fim de atrair o povo; mas logo que este acorreu, notou suas costas ornadas com os velhos brasões feudais e dispersou-se com grandes gargalhadas irreverentes.
Uma parte dos legitimistas franceses e a "Jovem Inglaterra", ofereceram ao mundo esse espetáculo divertido .
Quando os campeões do feudalismo demonstram que o modo de exploração feudal era diferente do da burguesia, esquecem uma coisa: que o feudalismo explorava em circunstâncias e condições completamente diversas e hoje em dia caducas. Quando ressaltam que sob o regime feudal o proletariado moderno não existia, esquecem uma coisa: que a burguesia moderna é precisamente um fruto necessário de seu regime social.
Aliás, ocultam tão pouco o caráter reacionário de sua crítica, que sua principal queixa contra a burguesia consiste justamente em dizer que esta assegura sob o seu regime o desenvolvimento de uma classe que fará ir pelos ares toda a antiga ordem social,
O que reprovam à burguesia é mais o ter produzido um proletariado revolucionário, que o haver criado o proletariado em geral. Por isso, na luta política participam ativamente de todas as medidas de repressão contra a classe operária. E, na vida diária, a despeito de sua pomposa Fraseologia, conformam-se perfeitamente em colher os frutos de ouro da árvore da indústria e trocar honra, amor e fidelidade, pelo comércio de lã, açúcar de beterraba e aguardente
Do mesmo modo que o pároco e o senhor feudal marcharam sempre de mãos dadas, o socialismo clerical marcha lado a lado com o socialismo feudal. Nada é mais fácil que recobrir o ascetismo cristão com um verniz socialista. Não se ergueu também o cristianismo contra a propriedade privada, o matrimônio e o Estado? E em seu lugar não predicou a caridade e a pobreza, o celibato e a mortificação da carne, a vida monástica e a igreja? O socialismo cristão não passa de água benta com que o padre consagra o despeito da aristocracia.
b) O socialismo pequeno-burguês
Não é a aristocracia feudal a única classe arruinada pela burguesia, não é a única classe cujas condições de existência se estiolam e perecem na sociedade burguesa moderna. Os pequenos burgueses e os pequenos camponeses da Idade Média foram os precursores da burguesia moderna.. Nos países onde o comércio e a indústria são pouco desenvolvidos, esta classe continua a vegetar ao lado da burguesia em ascensão.
Nos países onde a civilização moderna está florescente forma-se uma nova classe de pequeno burgueses, que oscila entre o proletariado e a burguesia; fração complementar da sociedade burguesa, ela se reconstitui incessantemente. Mas os indivíduos que a compõem se vêem constantemente precipitados no proletariado, devido à concorrência; e, com a marcha progressiva da grande indústria, sentem aproximar-se o momento em que desaparecerão completamente como fração independente da sociedade moderna e em que serão substituídos no comércio, na manufatura, na agricultura, por capatazes e empregados.
Nos países como a França, onde os camponeses constituem bem mais da metade da população, é natural que os escritores que se batiam pelo proletariado contra a burguesia, aplicassem à sua crítica do regime burguês critérios pequeno-burgueses e camponeses e defendessem a causa operária do ponto de vista da pequena burguesia. Desse modo se formou o socialismo pequeno-burguês. Sismondi é o chefe dessa literatura, não somente na França, mas também na Inglaterra.
Esse socialismo analisou com muita penetração as contradições inerentes às relações de produção modernas. Pôs a nu as hipócritas apologias dos economistas. Demonstrou de um modo irrefutável os efeitos mortíferos das máquinas e da divisão do trabalho, a concentração dos capitais e da propriedade territorial, a superprodução, as crises, a decadência inevitável dos pequenos burgueses e camponeses, a miséria do proletariado, a anarquia na produção, a clamorosa desproporção na distribuição das riquezas, a guerra industrial de extermínio entre as nações, a dissolução dos velhos costumes, das velhas relações de família, das velhas nacionalidades.
Todavia, a finalidade real desse socialismo pequeno-burguês é ou restabelecer os antigos meios de produção e de troca e, com eles, as antigas relações de propriedade e toda a sociedade antiga, ou então fazer entrar à força os meios modernos de produção e de troca no quadro estreito das antigas relações de propriedade que foram destruídas e necessariamente despedaçadas por eles. Num e noutro caso, esse socialismo é ao mesmo tempo reacionário e utópico.
Para a manufatura, o regime corporativo; para a agricultura, o regime patriarcal: eis a sua última palavra. Por fim, quando os obstinados fatos históricos lhe fizeram passar completamente a embriaguez, essa escola socialista abandonou-se a uma verdadeira prostração de espírito.
c) O socialismo alemão ou o "verdadeiro" socialismo
A literatura socialista e comunista da França, nascida sob a pressão de uma burguesia dominante, expressão literária da revolta contra esse domínio, foi introduzida na Alemanha quando a burguesia começava a sua luta contra o absolutismo feudal.
Filósofos, semifilósofos e impostores alemães lançaram-se avidamente sobre essa literatura, mas esqueceram que, com a importação da literatura francesa na Alemanha, não eram importadas ao mesmo tempo as condições sociais da França. Nas condições alemãs, a literatura francesa perdeu toda significação prática imediata e tomou um caráter puramente literário. Aparecia apenas como especulação ociosa sobre a realização da natureza humana. Por isso, as reivindicações da primeira revolução francesa. só eram, para os filósofos alemães do século XVIII, as reivindicações da "razão prática" em geral; e a manifestação da vontade dos burgueses revolucionários da França não expressava a seus olhos senão as leis da vontade pura, da vontade tal como deve ser, da vontade verdadeiramente humana.
O trabalho dos literatos alemães limitou-se a colocar as idéias francesas em harmonia com a sua velha consciência, filosófica ou, antes, a apropriar-se das idéias francesas sem abandonar seu próprio ponto de vista filosófico.
Apropriaram-se delas como se assimila uma língua estrangeira: pela tradução.
Sabe-se que os monges recobriam os manuscritos das obras clássicas da antigüidade pagã com absurdas lendas sobre santos católicos. Os literatos alemães agiram em sentido inverso a respeito da literatura francesa profana. Introduziram suas insanidades filosóficas no original francês. Por exemplo, sob a crítica francesa das funções do dinheiro, escreveram da "alienação humana"; sob a critica francesa do Estado burguês, escreveram "eliminação do poder da universidade abstrata", e assim por diante.
A esta interpolação da fraseologia filosófica nas teorias francesas deram o nome de "filosofia da ação", "verdadeiro socialismo", "ciência alemã do socialismo", "justificação filosófica do socialismo", etc.
Desse modo, emascularam completamente a literatura socialista e comunista francesa. E como nas mãos dos alemães essa literatura deixou de ser a expressão da luta de uma classe contra outra, eles se felicitaram por ter-se elevado acima da "estreiteza francesa" e ter defendido não verdadeiras necessidades, mas a "necessidade do verdadeiro"; não os interesses do proletário, mas os interesses do ser humano, do homem em geral, do homem que não pertence a nenhuma classe nem a realidade alguma e que só existe no céu brumoso da fantasia filosófica.
Esse socialismo alemão que tão solenemente levava a sério seus desajeitados exercícios de escolar e que os apregoava tão charlatanescamente, perdeu, não obstante, pouco a pouco, seu inocente pedantismo.
A luta da burguesia alemã e especialmente da burguesia prussiana contra os feudais e a monarquia absoluta, numa palavra, o movimento liberal, tornou-se mais séria.
Desse modo, apresentou-se ao verdadeiro socialismo a tão desejada oportunidade de contrapor ao movimento político as reivindicações socialistas. Pôde lançar os anátemas tradicionais contra o liberalismo, o regime representativo, a concorrência burguesa, a liberdade burguesa de imprensa, o direito burguês, a liberdade e a igualdade burguesas; pôde pregar às massas que nada tinham a ganhar, mas, pelo contrário, tudo a perder nesse movimento burguês. O socialismo alemão esqueceu, muito a propósito, que a crítica francesa, da qual era o eco monótono, pressupunha a sociedade burguesa moderna com as condições materiais de existência que lhe correspondem e uma constituição política adequada - precisamente as coisas que, na Alemanha, se tratava ainda de conquistar.
Para os governos absolutos da Alemanha, com seu cortejo de padres, pedagogos, fidalgos rurais e burocratas, esse socialismo converteu-se em espantalho para amedrontar a burguesia que se erguia ameaçadora.
Juntou sua hipocrisia adocicada aos tiros e às chicotadas com que esses mesmos governos respondiam aos levantes dos operários alemães.
Se o verdadeiro socialismo se tornou assim uma arma nas mãos dos governos contra a burguesia alemã, representava além disso, diretamente, um interesse reacionário, o interesse da pequena burguesia alemã. A classe dos pequenos burgueses, legada pelo século XVI, e desde então renascendo sem cessar sob formas diversas, constitui na Alemanha a verdadeira base social do regime estabelecido.
Mantê-la é manter na Alemanha o regime estabelecido. A supremacia industrial e política da burguesia ameaça a pequena burguesia de destruição certa, de um lado, pela concentração dos capitais, de outro, pelo desenvolvimento de um proletariado revolucionário. O verdadeiro socialismo pareceu aos pequenos burgueses como uma arma capaz de aniquilar esses dois inimigos. Propagou-se como uma epidemia.
A roupagem tecida com os fios imateriais da especulação, bordada com as flores da retórica e banhada de orvalho sentimental, essa roupagem na qual os socialistas alemães envolveram o miserável esqueleto das suas "verdades eternas", não fez senão ativar a venda de sua mercadoria entre tal público.
Por outro lado, o socialismo alemão compreendeu cada vez mais que sua vocação era ser o representante grandiloqüente dessa pequena burguesia.
Proclamou que a nação alemã era a nação tipo, e o filisteu alemão, o homem tipo. A todas as infâmias desse homem tipo deu um sentido oculto, um sentido superior e socialista, que as tornava exatamente o contrário do que eram. Foi conseqüente até o fim, levantando-se contra a tendência "brutalmente destruidora" do comunismo declarando que pairava imparcialmente acima de todas as lutas de classes. Com poucas exceções, todas as pretensas publicações socialistas ou comunistas que circulam na Alemanha pertencem a esta imunda e enervante literatura
1) O SOCIALISMO CONSERVADOR OU BURGUÊS
Uma parte da burguesia procura remediar os males sociais com o fim de consolidar a sociedade burguesa.
Nessa categoria enfileiram-se os economistas, os filantropos, os humanitários, os que se ocupam em melhorar a sorte da classe operária, os organizadores de beneficências, os protetores dos animais, os fundadores das sociedades de temperança, enfim os reformadores de gabinete de toda categoria. Chegou-se até a elaborar esse socialismo burguês em sistemas completos.
Como exemplo, citemos a Filosofia da Miséria, de Proudhon.
Os socialistas burgueses querem as condições de vida da sociedade moderna sem as lutas e os perigos que dela decorrem fatalmente. Querem a sociedade atual, mas eliminando os elementos que a revolucionam e a dissolvem. Querem a burguesia sem o proletariado. Como é natural, a burguesia concebe o mundo em que domina como o melhor dos mundos possível. O socialismo burguês elabora em um sistema mais ou menos completo essa concepção consoladora. Quando convida o proletariado a realizar esses sistemas e entrar na nova Jerusalém, no fundo o que pretende é induzi-lo a manter-se na sociedade atual, desembaraçando-se, porém, do ódio que ele vota a essa sociedade
Uma outra forma desse socialismo, menos sistemática, porém mais prática, procura fazer com que os operários se afastem de qualquer movimento revolucionário, demonstrando-lhes que não será tal ou qual mudança política, mas somente uma transformação das condições da vida material e das relações econômicas, que poderá ser proveitosa para eles. Notai que, por transformação das condições da vida material, esse socialismo não compreende em absoluto a abolição das relações burguesas de produção - o que só é possível por via revolucionária, - mas, apenas reformas administrativas realizadas sobre a base das próprias relações de produção burguesas e que, portanto, não afetam as relações entre o capital e o trabalho assalariado, servindo, no melhor dos casos, para diminuir os gastos da burguesia com seu domínio e simplificar o trabalho administrativo de seu Estado.
O socialismo burguês só atinge uma expressão adequada quando se torna uma simples figura de retórica.
Livre câmbio, no interesse da classe operária! Tarifas protetoras, no interesse da classe operária! Prisões celulares no interesse da classe operária ! Eis sua última palavra, a única pronunciada seriamente pelo socialismo burguês.
Ele se resume nesta frase: os burgueses são burgueses - no interesse da classe operária.
3) O SOCIALISMO E O COMUNISMO CRÍTICO-UTÓPICOS
Não se trata aqui da literatura que, em todas as grandes revoluções modernas, formulou as reivindicações do proletariado (escritos de Babeuf, etc) .
As primeiras tentativas diretas do proletariado para fazer prevalecer seus próprios interesses de classe, feitas numa época de efervescência geral, no período da derrubada da sociedade feudal, fracassaram necessariamente não só por causa do estado embrionário do próprio proletariado, como devido à ausência das condições materiais de sua emancipação, condições que apenas surgem como produto do advento da época burguesa. A literatura revolucionária que acompanhava esses primeiros movimentos do proletariado teve forçosamente um conteúdo reacionário. Preconizava um ascetismo geral e um grosseiro igualitarismo.
Os sistemas socialistas e comunistas propriamente ditos, os de Saint-Simon, Fourier, Owen, etc, aparecem no primeiro período da luta entre o proletariado e a burguesia, período acima descrito. (Ver o cap. Burgueses e Proletários) .
Os fundadores desses sistemas compreendem bem o antagonismo das classes, assim como a ação dos elementos dissolventes na própria sociedade dominante. Mas não percebem no proletariado nenhuma iniciativa histórica, nenhum movimento político que lhe seja próprio.
Como o desenvolvimento dos antagonismos de classe marcha de par com o desenvolvimento da indústria não distinguem tampouco as condições materiais da emancipação do proletariado e põem-se à procura de uma ciência social, de leis sociais, que permitam criar essas condições.
A atividade social substituem sua própria imaginação pessoal; as condições históricas da emancipação, condições fantasistas; à organização gradual e espontânea do proletariado em classe, uma organização da sociedade pré-fabricada por eles. A história futura do mundo se resume, para eles, na propaganda e na prática de seus planos de organização social.
Todavia, na confecção de seus planos, têm a convicção de defender antes de tudo os interesses da classe operária, porque é a classe mais sofredora. A classe operária só existe para eles sob esse aspecto de classe mais sofredora.
Mas, a forma rudimentar da luta de classes e sua própria posição social os levam a considerar-se bem acima de qualquer antagonismo de classe. Desejam melhorar as condições materiais de vida para todos os membros da sociedade, mesmo dos mais privilegiados. Por conseguinte, não cessam de apelar indistintamente para a sociedade inteira, e mesmo se dirigem de preferência à classe dominante. Pois, na verdade, basta compreender seu sistema para reconhecer que é o melhor dos planos possíveis para a melhor das sociedades possíveis.
Repelem, portanto, toda ação política e, sobretudo, toda ação revolucionária, procuram atingir seu fim por meios pacíficos e tentam abrir um caminho ao novo evangelho social pela força do exemplo, por experiências em pequena escala que, naturalmente, sempre fracassam.
A descrição fantasista da sociedade futura, feita numa época em que o proletariado, pouco desenvolvido ainda, encara sua própria posição de um modo fantasista, corresponde às primeiras aspirações instintivas dos operários a uma completa transformação da sociedade.
Mas essas obras socialistas e comunistas encerram também elementos críticos. Atacam a sociedade existente em suas bases. Por conseguinte, forneceram em seu tempo materiais de grande valor para esclarecer os operários. Suas propostas positivas relativas à sociedade futura, tais como a supressão da distinção entre a cidade e o campo, a abolição da família, do lucro privado e do trabalho assalariado, a proclamação da harmonia social e a transformação do Estado numa simples administração da produção, todas essas propostas apenas anunciam o desaparecimento do antagonismo entre as classes, antagonismo que mal começa e que esses autores somente conhecem em suas formas imprecisas. Assim, essas propostas têm um sentido puramente utópico.
A importância do socialismo e do comunismo crítico-utópicos está na razão inversa do desenvolvimento histórico. A medida que a luta de classes se acentua e toma formas mais definidas, o fantástico afâ de abstrair-se dela, essa fantástica oposição que se lhe faz, perde qualquer valor prático, qualquer justificação teórica. Eis porque, se, em muitos aspectos, os fundadores desses sistemas eram revolucionários, as seitas formadas por seus discípulos são sempre reacionárias, pois se aferram às velhas concepções de seus mestres apesar do ulterior desenvolvimento histórico do proletariado. Procuram, portanto, e nisto são conseqüentes, atenuar a luta de classes e conciliar os antagonismos. Continuam a sonhar com a realização experimental de suas utopias sociais:
estabelecimento de falanstérios isolados, criação de colônias no interior, fundação de uma pequena Icária , edição da nova Jerusalém e, para dar realidade a todos esses castelos no ar, vêem-se obrigados a apelar para os bons sentimentos e os cofres dos filantropos burgueses. Pouco a pouco, caem na categoria dos socialistas reacionários ou conservadores descritos acima, e só se distinguem dele por um pedantismo mais sistemático e uma fé supersticiosa e fanática na eficácia miraculosa de sua ciência social.
Opõem-se, pois, encarniçadamente, a qualquer ação política da classe operária, porque, em sua opinião, tal ação só pode provir de uma cega falta de fé no novo evangelho.
Desse modo, os owenistas, na Inglaterra, e os fourieristas, na França, reagem respectivamente contra os cartistas e os reformistas
IV - POSIÇÃO DOS COMUNISTAS DIANTE DOS DIFERENTES PARTIDOS DE OPOSIÇÃO
O que já dissemos no capitulo II basta para determinar a posição dos comunistas diante dos partidos operários já constituídos e, por conseguinte, sua posição diante dos cartistas na Inglaterra e dos reformadores agrários na América do Norte.
Os comunistas combatem pelos interesses e objetivos imediatos da classe operária, mas, ao mesmo tempo, defendem e representam, no movimento atual, o futuro do movimento. Aliam-se na França ao partido democrata-socialista contra a burguesia conservadora e radical, reservando-se o direito de criticar as frases e as ilusões legadas pela tradição revolucionária.
Na Suíça, apoiam os radicais, sem esquecer que esse partido se compõe de elementos contraditórios, metade democratas-socialistas, na acepção francesa da palavra, metade burgueses radicais.
Na Polônia, os comunistas apoiam o partido que vê numa revolução agrária a condição da libertação nacional, isto é, o partido que desencadeou a insurreição de Cracóvia em 1846.
Na Alemanha, o Partido Comunista luta de acordo com a burguesia, todas as vezes que esta age revolucionariamente: contra a monarquia absoluta, a propriedade rural feudal e o espírito pequeno-burguês.
Mas nunca, em nenhum momento, esse partido se descuida de despertar nos operários uma consciência clara e nítida do violento antagonismo que existe entre a burguesia e o proletariado, para que, na hora precisa, os operários alemães saibam converter as condições sociais e políticas, criadas pelo regime burguês, em outras tantas armas contra a burguesia, a fim de que, uma vez destruídas as classes reacionárias da Alemanha, possa ser travada a luta contra a própria burguesia.
É para a Alemanha, sobretudo, que se volta a atenção dos comunistas, porque a Alemanha se encontra nas vésperas de uma revolução burguesa e porque realizará essa revolução nas condições mais avançadas da civilização européia e com um proletariado infinitamente mais desenvolvido que o da Inglaterra no século XVII e o da França no século XVIII e, por conseguinte, a revolução burguesa alemã só poderá ser o prelúdio imediato de uma revolução proletária.
Em resumo, os comunistas apoiam em toda parte qualquer movimento revolucionário contra o estado de coisas social e político existente.
Em todos estes movimentos, põem em primeiro lugar, como questão fundamental, a questão da propriedade, qualquer que seja a forma, mais ou menos desenvolvida, de que esta se revista.
Finalmente, os comunistas trabalham pela união e entendimento dos partidos democráticos de todos os países.
Os comunistas não se rebaixam a dissimular suas opiniões e seus fins. Proclamam abertamente que seus objetivos só podem ser alcançados pela derrubada violenta de toda a ordem social existente. Que as classes dominantes tremam à idéia de uma revolução comunista ! Os proletários nada têm a perder nela a não ser suas cadeias. Têm um mundo a ganhar.
Proletários de todos os países, uni-vos!
Escrito por Karl Marx e Friedrich Engels em dezembro de 1847 - janeiro de 1848. Publicado pela primeira. vez em Londres em fevereiro de 1848. Publicado de acordo com o texto da edição soviética em espanhol de 1951, traduzida da edição alemã de 1848. Confrontado com a edição inglesa de 1888, editada por Friedrich Engels. Traduzido do espanhol.