sexta-feira, 13 de abril de 2007

Desoertar a sociedade para o enfrentamento de ccasses

02/11/2006
Despertar a sociedade para um enfrentamento de classes
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Gilmar Mauro, do MST, sustenta que, no segundo mandato de Lula, movimentos sociais promovam suas lutas independentemente do governo
Luís Brasilino,da Redação
A luta do movimento social no segundo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não é ficar acreditando "ah, Lula muda a política econômica", segundo Gilmar Mauro, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Para ele, a diferença do primeiro mandato para o que se inicia em 1º de janeiro de 2007 é o fim da ilusão de que a eleição de um presidente da República pode resolver os problemas e atender às reivindicações da maioria da população. Gilmar lembra que mudanças profundas só ocorrem quando toda uma classe social assume para si a tarefa transformadora. Despertar esse sentimento, portanto, deve ser o caminho da esquerda daqui em diante.
Brasil de Fato - Diferentemente do maior produtor brasileiro de soja, o governador Blairo Maggi (MT), os movimentos sociais não negociaram com o presidente Lula o apoio no segundo turno. Na sua opinião, qual o impacto dessa decisão no segundo mandato?
Gilmar Mauro– O movimento social teve consciência política da disputa. Tratava-se de duas figuras e uma delas, o Alckmin, é conhecidíssima nossa. Entendemos que sua vitória representaria um retrocesso. Portanto, o movimento social teve consciência no sentido de apoiar o Lula independentemente de qualquer negociação prévia. Em segundo lugar, o movimento social deve continuar mantendo sua autonomia. Um slogan que deve permear o conjunto do movimento social nesse segundo mandato é: nenhum direito a menos para a classe trabalhadora. A lógica da relação com o governo Lula terá que ser pauta, luta e negociação, com essas três palavras interagir de acordo com a conjuntura. O movimento social vai ter que fazer muita luta e buscar, por meio das negociações, avanços concretos.
BF – A realização do segundo turno foi positiva para a esquerda?
Gilmar Mauro – Eu acho que sim. A verdade é que a esquerda brasileira estava mal de representantes nessas eleições. Quem esteve bem representado foram os setores da classe dominante. Mas a existência do segundo turno permitiu ao governo dar-se conta de que existe um setor da elite brasileira com um preconceito de classe muito forte, mesmo com tudo que o governo tem feito para agradá-lo. Espero que essa lição tenha servido ao PT e ao presidente Lula para que, no segundo mandato, eles possam avançar na perspectiva de resolver diversos problemas sociais. Ninguém tem ilusão que a problemática social vai ser resolvida de cima para baixo, no entanto é preciso avançar na reforma agrária e em várias outras reformas sociais.
BF – Ao menos nos primeiros discursos, o presidente Lula não abandonou sua característica de conciliar interesses. A luta social terá força para alterar isso nos próximos quatro anos?
Gilmar Mauro – Não acredito em Papai Noel. Acho que o Lula não vai mudar a política econômica. A lógica implementada nesse governo vem do anterior. E é a predominante em todo o mundo. Ela fez o governo priorizar a obtenção de comercial por meio de investimentos, principalmente, no agronegócio para cumprir com uma agenda de dívida que o Estado brasileiro tem no exterior. De outro lado, fez um ajuste fiscal interno, para beneficiar setores do capital financeiro, com o pagamentos dos juros da enorme dívida interna. Portanto, a exportação líquida de capital só tem favorecido o setor financeiro internacional e quem exporta, ou seja, o setor financeiro no Brasil e o agronegócio. A luta do movimento social no segundo mandato não é ficar acreditando 'ah, Lula muda a política econômica'. É despertar a sociedade para fazer um enfrentamento de classes. Essa é a grande tarefa.
E, obviamente, trabalhar com uma perspectiva pragmática. O MST deve ser pragmático com o governo. Destaco alguns dos nossos pontos. Temos que avançar no sentido da escolarização em todos os níveis no nosso país. Paralelamente, faz-se necessário construir um novo tipo de assentamento, empresas auto-gestionárias, constituir a agroindústria como forma de garantir auto-sustento no futuro, elaborar uma política de crédito específica para os assentamentos e uma assistência técnica específica para a pequena agricultura e para a agroecologia. Também é preciso avançar na desapropriação de terra, na atualização do índice de produtividade... Temos pauta, luta e negociação, mas o enfrentamento com o capital no Brasil vai se dar permanentemente e isso independe do governo Lula. O bom seria se ele tomasse partido nessa luta, mas dificilmente ocorrerá tendo em vista a governabilidade e as forças de direita que se aliaram no segundo turno em defesa do Lula. Não acho que haverá grandes mudanças, portanto nossa tarefa é continuar nos mobilizando e lutando.
BF – Quais são as lições que se pode tirar desse primeiro mandato petista na Presidência?
Gilmar Mauro – São várias. Havia por parte de setores do movimento social a ilusão de que a eleição de um presidente poderia resolver vários de seus problemas e atender suas reivindicações. Isso não ocorreu e nem vai ocorrer. Mudanças profundas numa sociedade são fruto de processos de mobilizações nos quais a classe se envolve e assume para si a tarefa de fazer. Não virá de cima para baixo. Dois: os movimentos sociais têm que trabalhar na dimensão de politizar sua atuação. Não se pode separar a luta reivindicatória da luta política. A primeira é parte da disputa de classes e, portanto, da disputa da hegemonia. Três. O movimento social tem que ter a clareza de que deve fazer alianças de classe – com outros movimentos – para enfrentar a lógica do capital. A superação dessa lógica pressupõe a derrota do sistema. Portanto, as alianças devem ser costuradas com a classe trabalhadora, e não com a elite.

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