sábado, 15 de março de 2008

Artigo de Pedro do Couto

O Ministério do Meio Ambiente continua mentindo quando diz ter diminuido o desmatamento.
Só mentiras e corrupçaõ por todos os lados.


Amazônia: desmatamento é alucinanteNa edição de 12 de março da "Folha de S. Paulo", a repórter Marta Salomon, com base em dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), colhidos por satélite, revelou que só no mês de janeiro deste ano foram desmatados na região amazônica nada menos que 639 quilômetros quadrados, área quase igual à metade do Rio de Janeiro. A capital carioca possui aproximadamente 1.300 quilômetros quadrados.
Como é possível que a sanha devastadora tenha chegado a esta altura. Quais as providências tomadas? Não há resposta para a pergunta, nem de parte do Ibama, tampouco do Ministério do Meio Ambiente. Nem do Ministério da Agricultura, neste caso porque a expansão da cultura da soja é apontada como uma das causas dominantes num processo cada vez mais estranho. Muito estranho. Sobretudo porque janeiro de 2008 não é um fenômeno isolado.
Pelo contrário. O Inpe assinala que em setembro de 2007 foram devastados 611 quilômetros quadrados, em outubro, 457, em novembro, 974, em dezembro, 948 quilômetros quadrados. Uma verdadeira calamidade. Isso sem necessidade de recuar mais no tempo. A Amazônia está sendo desmatada. Derrubada. O presidente Lula precisa agir com urgência, já que ministérios de seu governo se omitem. Claro a região é enorme. Engloba mais de 55 por cento do território nacional.
Abrange assim aproximadamente 5 milhões de quilômetros quadrados. Mas suas florestas, pulmão do Brasil e até do mundo, não são inesgotáveis. Para o desmatamento alucinante e alucinado, qual o índice de reflorestamento? Provavelmente são será dos maiores. Nem dos melhores, portanto.Onde se corta e não se repõe, a tendência no futuro é terminar.
A responsabilidade brasileira é muito grande. Inclusive, a prosseguir a derrubada da floresta, setores internacionais, e sobretudo internacionalistas, começam a encontrar argumentos para ações progressivas na vasta região. A título de preservar, missões vão aparecendo, através de ONGs, e ocupando espaços que deveriam obrigatoriamente ser preenchidos pelos poderes públicos. Não é pelo governo federal, mas estadual e municipal. Afinal, a União, estados e municípios são todos atingidos pelo atentado ecológico ligado à vida humana e à sobrevivência do planeta.
Citei a dimensão da cidade do Rio de Janeiro para acentuar que num só trimestre uma área maior do que a dela foi derrubada. Derrubar florestas não é tarefa fácil. Tampouco improvisada. Ao contrário. Exige toda uma operação coordenada, projetada, esquematizada, orquestrada. É indispensável o deslocamento de trabalhadores com noção da tarefa, máquinas, motosserras, caminhões para transportar o produto dos assaltos, enfim, toda uma logística que não pode se inspirar em comportamentos rudimentares, mas sim em ações sofisticadas.
O Ministério do Meio Ambiente não percebeu nada. Sendo assim, transformou-se na personagem da canção de Chico Buarque. Só ele não viu. Só ele, não. O Ministério da Agricultura é também responsável. A reportagem da FSP foi excelente. Sobretudo porque, ao apresentar dados comparativos, como se deve fazer sempre, forneceu a dimensão do drama que se desenrola em meio à selva cada vez mais penetrada pela ganância e pelo descritério. Sim. Porque não está existindo critério técnico algum. Só a ganância, a voracidade, o impulso predatório na busca do lucro imediato e inconseqüente em termos de interesse público e coletivo.
Aliás, como está acontecendo simultaneamente em vários setores da economia brasileira e da administração pública. Esta, a cada dia, torna-se cada vez mais vulnerável aos interesses particulares, entre eles os interesses ilegítimos. A devastação veloz da Amazônia encontra-se neste caso. Francamente, gostaria de ouvir a opinião de um especialista no assunto ecologia, o jornalista Washington Novaes, que mantém uma atuação habitual no jornal "O Estado de S. Paulo". Afinal de contas, o meio ambiente não se destina apenas ao lazer e sim ao mais amplo conceito da vida humana.
A poluição não é causada somente por fábricas ou usinas. Tem sua origem também na favelização dos centros urbanos, caso da cidade do Rio de Janeiro, tem sua origem igualmente no desemprego e na miséria. Claro. Pois o déficit de habitações minimamente dignas acarreta uma queda progressiva nos padrões sanitários e de higiene. Cada grupo de pessoas que dorme nas ruas, e são muitos estes grupos, produz uma série de reflexos contrários à saúde humana. Os poderes públicos estão encolhidos, omitindo-se diante de tudo isso. Por causa disso, a poluição inclusive cresce acentuadamente.
É um fenômeno negativo e inegável. Que só a administração pública pode enfrentar. Mas neste caso enfrentar não é só bloquear as conseqüências. É, sobretudo, eliminar as causas de todo este descalabro. Na Amazônia, o problema que está ocorrendo é gravíssimo. E a impressão que se tem é que os órgãos encarregados da questão encontram-se desaparelhados para uma atuação concreta. Medidas no papel são muitas e muito amplas, mas só na aparência. Submergem nas páginas do Diário Oficial. Não se transportam para a realidade. Um desastre.

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