terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Operçção Condor

Operação Condor
De tempos em tempos o assunto reaparece. A realidade subjacente teima em querer vir à tona. O passado recente insiste em atormentar o presente. Faz-se de tudo para mantê-la em silêncio, mas ela insiste em dizer que está mal resolvida, negada, não aceita. Assim é o período do regime militar brasileiro, que mesmo para o Governo Lula, de quem se esperava que fosse receber um tratamento adequado, continua sendo um tema incômodo. Em análises anteriores já abordávamos o “mal-estar” que o assunto provoca no Governo e a sua completa recusa em querer abrir os arquivos da ditadura.
Pois bem, na opinião do ativista de direitos humanos Jair Krischke, a abertura dos arquivos da ditadura militar “é uma exigência da democracia. Não se pode imaginar uma democracia sólida no Brasil, sem que este período seja examinado, sem que a sociedade brasileira saiba quem fez e o que fez, quem foi o responsável e por qual ato. Isto é fundamental para a democracia. Do que serve essa democracia se ela é incapaz de revolver o seu passado e colocar as vísceras das suas misérias e das suas barbáries à mostra, para que a sociedade conheça? Sem resolver esse problema, nossa democracia será sempre precária. Isto é fundamental para um país civilizado e que quer marchar na fenda da democracia. Rever o seu passado e saber o que aconteceu é muito importante”.
No dia 24 de dezembro, a Justiça da Itália expediu mandados de prisão contra autoridades e militares brasileiros que atuaram na repressão a grupos de esquerda e a dissidentes na Operação Condor. São 11 os brasileiros envolvidos no caso. Também a Espanha vai pedir a extradição desses brasileiros envolvidos na mesma operação. Os 11 brasileiros cuja extradição é solicitada pela Justiça italiana, foram julgados e condenados em 2000. Para Krischke, os pedidos tanto da Justiça da Itália como da Espanha, não são sem certa ironia. “E essa recusa sistemática do Estado brasileiro em pôr a limpo o que se passou no período da repressão, agora, com essa decisão da Justiça italiana, nos traz o constrangimento de uma censura externa para a qual nós não temos defesa moral. O Brasil tem se negado a fazer e, por isso, agora ‘paga um mico’ internacional, de ver o que deveria ter sido feito aqui ser exigido fora do país”.
A Operação Condor é a ação coordenada de Brasil, Argentina, Bolívia, Chile, Paraguai e Uruguai durante a vigência das ditaduras militares dos anos 70. A reunião que marca a criação da Operação Condor foi realizada no final de 1976, em Santiago, no Chile, com a participação de militares do Brasil. Segundo Krischke, a Operação Condor é uma “invenção” brasileira, ainda que com a efetiva participação norte-americana. “Quem inaugurou a Operação Condor, quando sequer havia esse nome, foi o Brasil. O país a praticou na Argentina nos anos 1970, 1972, 1974, quando este país ainda vivia a democracia. O golpe na Argentina foi em março de 1976”, disse. Os brasileiros foram muito discretos na sua participação na Operação Condor, mas “o Brasil treinou os agentes chilenos, uruguaios, argentinos e paraguaios, isto é, teve influência nos golpes militares”, assegura Krischke.
Novos elementos sobre a Operação Condor vieram à luz não graças aos esforços do governo brasileiro de jogar luz sobre este período histórico, mas graças ao esforço que vem sendo realizado pela Argentina. Dados coletados para o julgamento que culminou, em 18 de dezembro passado, na condenação de seis oficiais militares argentinos, revelam que a Argentina tinha duas bases de operação no Brasil, em São Paulo e no Rio de Janeiro, além de uma terceira em Paso de los Libres, território argentino, outro lado da ponte de Uruguaiana, no RS. As bases dos argentinos no Brasil tinham como prioridade os montoneros, maior grupo guerrilheiro argentino.
Outro relato impressionante de como os militares dos países coordenavam suas ações é dado por Jan Rocha, inglesa e vive em SP desde 1969. Foi correspondente da BBC (73 a 94) e do jornal The Guardian (84 a 94). Durante a ditadura, fundou o grupo Clamor, que denunciava abusos de Estado na América do Sul. Eram desse grupo o reverendo Jaime Wright, os advogados Luiz Eduardo Greenhalgh e Fermino Fecchio, o padre Roberto Grandmaison, a irmã Michael Mary Nolan, a professora Teresa Brandão, além de Dom Paulo Evaristo Arns. É autora, entre outros, de Haximu (Casa Amarela).

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